Aos cinco anos começou a trilhar dois caminhos aparentemente pouco conciliáveis que o conduziram ao que quer fazer o resto da vida. Na Vestiaria, concelho de Alcobaça, Nuno Santos aprendeu a nadar quase ao mesmo tempo que iniciava estudos na Sociedade Filarmónica Vestiariense como percussionista.
A partir daí, desporto e música fizeram sempre parte da vida: aos 15 anos foi para o Conservatório Nacional onde, à falta de vaga para percussão, escolheu violino – e ainda hoje se interroga porquê.
No final do curso, cansado de um ensino “pouco criativo, muito disciplinador e aborrecido”, continuou estudos noutra paixão: o desporto.
Tirou um curso superior, depois mestrado e doutoramento. Especializou-se em Educação Física. Partiu para o outro lado do Atlântico para trabalhar, mas sempre com o violino como companheiro de viagem. E foi com ele que, um dia de 2006, subiu até ao topo de um vulcão de 5 mil metros.
“Trabalhava numa reserva natural no Equador e decidi escalar para tocar violino lá em cima. Foi extasiante, uma maluqueira. A partir daí a ideia começou a ganhar forma”.
A ideia é “Um violino nos locais mais improváveis”, que conjuga música e desporto – afinal, uma constante no percurso de vida de Nuno Santos.
De então para cá, levar o violino a contextos naturais extremos é o que o faz sonhar.
Já foi notícia por tocar violino no cimo do Monte Branco, enquanto surfava nas ondas gigantes da Nazaré ou elevado numa grua na Praça Rodrigues Lobo, em Leiria, no evento Há Música na Cidade.
Mas tem planos para mais. “Quero fazer tudo, mas tenho de esperar para que as coisas aconteçam… Acho que tenho mais projetos do que anos de esperança de vida!”.
Há dois anos tomou uma decisão: deixou as aulas no Politécnico de Leiria, onde ensinou durante uma década, para se dedicar a tempo inteiro a “Um violino nos locais mais improváveis”:
“Não é simples, não é fácil, é um esforço gigantesco mas decidi apostar”.
A chegada dos 40 anos anos foram momento para balanço: “Quando nos tornamos escravos do ordenado, a vida passa-nos ao lado. Surpreendentemente, quando mudamos, parece que às vezes os astros se alinham para nos ajudar”. Mas, noutras, por vezes, “também acho que se desalinham todos de uma vez!”, conta Nuno Santos, ainda a adaptar-se a ser músico a tempo inteiro.
No início de março deu mais impasso importante: após a edição de “Elementos” há quatro anos – disco que foi banda sonora de um documentário norte-americano sobre ondas grandes -, Nuno lançou “Fado improvável”, título inspirado no destino que escolheu: tocar violino em ondas, montanhas e outros locais improváveis.
O álbum é composto por 12 fados, quase todos famosos, do cancioneiro de Lisboa e de Coimbra, e também versões de temas de Madredeus, Dulce Pontes, ou de “A lenda de El Rei D. Sebastião”, do Quarteto 1111, o famoso grupo a que pertenceu José Cid. E ainda uma surpresa: a interpretação fadística de uma música dos Moonspell. “Um tema de metal em fado! O Fernando Ribeiro [vocalista da banda] já ouviu e gostou!”. Há ainda um original, “Fado improvável”, composto pelo próprio Nuno Santos.
Depois do disco há novas viagens e um documentário no horizonte. “Quero continuar a surfar as maiores ondas e escalar as maiores montanhas do mundo. Ando lá porque as ondas e montanhas me apaixonam profundamente, tal como a música”.
Para Nuno, as ondas, as montanhas e o violino são a “razão para treinar, para tocar, para lutar”. Porque “quando gostamos de algo, gostamos mesmo. Quero fazer isto até morrer”.