Colocam-se todos os dias novas dúvidas relativamente à Covid-19. Para ajudar a explicar a doença que já matou 119 pessoas em Portugal (dados relativos a 28 de março), o REGIÃO DE LEIRIA conta com a colaboração dos profissionais de saúde da Unidade de Saúde Pública do Agrupamento dos Centros de Saúde Pinhal Litoral (ACES PL).
Confira a seguir os esclarecimentos de Rui Passadouro, delegado de Saúde, sobre os diferentes conceitos de isolamento e respetivas obrigações.
O que é o isolamento profilático, a quem se destina e o que implica?
O isolamento profilático pretende quebrar a cadeia de transmissão de vírus entre as pessoas. É um instrumento usado pela Autoridade de Saúde impondo o isolamento das pessoas infetadas para que, preventivamente, se contenha a propagação do vírus, evitando que outros fiquem doentes. A declaração emitida pela Autoridade de Saúde serve de justificativo para a ausência ao trabalho e pode durar 14 dias.
Implica permanecer rigorosamente em casa todo o tempo determinado. Esta determinação aplica-se também às necessidades básicas (ir ao supermercado comprar alimentos ou ir à farmácia), devendo as pessoas em isolamento ter a colaboração de outras para as compras e satisfação de outras necessidades.
E o que é o distanciamento social? É para todos? O que implica?
O distanciamento social é outra forma de isolamento, menos exigente, que se baseia em comportamentos de prevenção que passam pelo afastamento de outras pessoas, pelo menos de um metro e, consequentemente, a abolição dos cumprimentos com contacto físico. Esta medida deve ser aplicada a todos os cidadãos e em todas as circunstâncias.
A quarentena é para quem está infetado ou para garantir o distanciamento social? O que implica?
A quarentena é um isolamento obrigatório, destinado a pessoas não doentes que regressaram de regiões de transmissão ativa ou que tenham contactado com casos de Covid-19. Tal como o isolamento profilático pode ser determinada pela Autoridade de Saúde. Implica a permanência em casa, mesmo para as necessidades básicas, e o afastamento de outros coabitantes, sobretudo se forem idosos.
As pessoas com teste positivo para o novo coronavírus podem sair de casa? Existe alguma exceção?
As pessoas com teste Covid positivo podem ficar internadas no hospital ou permanecer no domicílio, de acordo com a sua condição de saúde. Em casa permanecem com medidas de autovigilância do seu estado de saúde, mas sempre em isolamento, de forma a não transmitir o vírus a outras pessoas. A única exceção para a saída de casa é o agravamento da situação de saúde e a necessidade de recurso a cuidados hospitalares. A Autoridade de Saúde pode determinar esse isolamento e as autoridades policiais têm colaborado na sua monitorização.
Porque é que as pessoas que regressam a Portugal de uma área com transmissão comunitária ativa pelo novo coronavírus devem manter-se isoladas?
A experiência dos últimos dias é rica em maus exemplos. São vários os casos em que cidadãos portugueses emigrantes e estrangeiros, que visitam o nosso país, chegam à nossa região e, nas reuniões familiares ou de amigos, contaminam os residentes, aumentando em muito o números de doentes, originando complicações, por vezes, com desfecho trágico. Os cidadãos vindos de áreas de transmissão ativa devem respeitar a quarentena e se o não fizerem violam grosseiramente o dever ético da proteção dos amigos e da comunidade
As autarquias estão a apelar aos emigrantes que as informem da sua chegada e que se mantenham em quarentena durante 14 dias. Este deve ser o procedimento a seguir?
É uma das maneiras de o fazer, que poderá ser das mais eficazes. As juntas de freguesia representam o poder local e têm a sua força na proximidade às populações, conhecendo os seus movimentos. Conhecendo o fluxo de pessoas será fácil colaborar na estratégia da quarentena para os cidadãos potencialmente infetados.
O que é um certificado de isolamento profilático e para que serve?
Certificação de Isolamento Profilático é um documento emitido pela Autoridade de Saúde que determina o isolamento de trabalhadores ou das pessoas. Tal como referido, pode ser emitido para isolamento profilático ou para quarentena. Para além de impor legalmente a presença em isolamento, serve de justificativo para as faltas ao trabalho.
Quem o pode pedir e quando?
Todas as pessoas que necessitem ou lhes seja imposto o isolamento ou quarentena podem pedir o certificado. Deverá ser envolvido o trabalhador, o empregador e a Autoridade de Saúde no sentido da validação das condições para a sua emissão, preferencialmente no início do período de isolamento
Quem o emite?
A emissão é feita pelo médico de saúde pública com funções de Autoridade de Saude, também conhecido como Delegado de Saúde.
Os doentes com teste positivo de Covid-19 precisam desse certificado?
Os doentes Covid-19 justificam a sua ausência ao trabalhão com o Certificado de Incapacidade Temporária para o Trabalho (CIT), vulgarmente conhecido como baixa, emitida pelo médico de família. O certificado de isolamento só será emitido pela Autoridade de Saúde se o doente não cumprir as regras de isolamento e estas lhe tenham que ser impostas.
Mais esclarecimentos podem ser obtidos junto da Unidade de Saúde Pública do ACES PL pelo telefone 244 849 010 ou email usp.pl@arscentro.min-saude.pt.
Vacinas e imunidade
A expetativa relativamente à descoberta de uma vacina é grande. Mas uma vacina não cura, nem trata. Qual é o principal objetivo?
A vacina não cura nem trata, mas tem um efeito de um valor muito superior, evita o aparecimento da doença. Ou seja, quem nunca contactou com o vírus, que é a maioria da população mundial, é suscetível à infeção, mas se for vacinada fica imune e como tal nunca terá tal infeção.
Considerando as melhores hipóteses, quanto tempo poderá demorar até ser administrada às populações?
A introdução de uma vacina no mercado demora cerca de 12 meses. Tem que passar por diversos testes de segurança antes de ser usada em humanos, nomeadamente teste em animais, teste num número reduzido de humanos e só depois a introdução no mercado. Convém não esquecer que este vírus é novo e, como tal, subsiste algum desconhecimento sobre a imunidade a este vírus.
Este novo coronavírus veio para ficar, a exemplo dos vírus da gripe sazonal ou da gripe A? Isto é, é expectável que regresse também sazonalmente?
Este vírus vai ficar na comunidade, à semelhança de muitos outros. Como tal é possível que periodicamente volte a causar surtos ou epidemias, dependendo da imunidade das populações.
As vacinas contra a gripe sazonal e contra a pneumonia são neste caso ineficazes. Porquê?
Este ano as vacinas disponíveis contra a gripe incluem, pela primeira vez, quatro tipos de vírus da gripe. Contudo, esta vacina não protege contra o coronavírus, dado tratar-se de vírus muito distintos.
O que é a imunidade de grupo?
A imunidade de grupo é uma condição em que os vírus deixam de se poder transmitir de forma ativa na comunidade, por esta estar imune. Assim o vírus não se transmite de pessoa a pessoa.
O que é preciso para atingir a imunidade de grupo?
É necessário que 95% da população fique imune, o que pode acontecer pela vacinação ou por ter contraído a doença
Como se trata a Covid-19 em casa?
Não existe tratamento dirigido para o Covid-19 e os antibióticos, por não serem eficazes nos vírus, não trazem benefícios nesta doença. Em casa, o doente, deve manter-se em autovigilância dos sintomas e, no caso de iniciar dificuldade respiratória ou de agravamento da febre e da tosse, contactar o SNS24 (808 24 24 24) ou o médico de família. O tratamento é dirigido aos sinais e sintomas que os doentes apresentam, nomeadamente a febre.
Qual a medicação e cuidados prescritos?
Os cuidados em casa passam pelo isolamento social, mantendo a distância de outras pessoas, e medidas de suporte.
Casos suspeitos e casos confirmados
O que define um caso “suspeito” de Covid-19?
Segundo as orientações atuais da DGS:
– Doente com infeção respiratória aguda (início súbito de febre ou tosse ou dificuldade respiratória), sem outra etiologia que explique o quadro + História de viagem ou residência em áreas com transmissão comunitária ativa, nos 14 dias antes do início de sintomas;
– Doente com infeção respiratória aguda + Contacto com caso confirmado ou provável de infeção por novo coronavírus (SARS-CoV-2) ou Covid-19, nos 14 dias antes do início dos sintomas;
– Doente com infeção respiratória aguda grave, requerendo hospitalização, sem outra etiologia.
De referir que a definição de “caso suspeito” atual pode alterar-se no futuro, consoante a evolução da epidemia.
E um caso confirmado?
Caso com confirmação laboratorial de SARS-CoV-2, independentemente dos sinais e sintomas.
Como é feito o teste no Hospital de Santo André? É feita uma análise ao sangue ou é por zaragatoa?
O teste é feito pela análise de muco retirado da via respiratória, habitualmente o nariz, através de uma zaragatoa.
Em quanto tempo é possível confirmar se um caso é positivo ou negativo?
Atualmente, as análises e contra-prova estão a ser realizadas a nível local (nos hospitais de referência) e, portanto, o processo será mais célere. Tanto a análise inicial como a contra-prova demoram, mais ou menos, quatro horas (a contar desde que a amostra dá entrada no laboratório). Portanto, no mínimo, este processo demorará oito horas (sendo que a este tempo se deverá acrescentar o tempo necessário à colheita e envio das amostras).
A taxa de letalidade do Covid-19 (número de mortes nos infetados) ronda os 4,3% em todo o mundo. Em Itália, porém, a taxa ronda os 8,3%. O que pode explicar essa disparidade?
O comportamento do vírus ainda não é totalmente conhecido, a capacidade de resposta dos países pode ser diferente (sendo que as particularidades locais podem ter muita influência). Os países estão em alturas diferentes da epidemia (Itália teve o primeiro caso muito antes que Portugal, por exemplo).
Quais são os grupos da população mais afetados?
Os idosos – população com idades superiores a 70 anos -, doentes com patologia cardiovascular, doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC, asma), diabéticos e imunocomprometidos têm maior risco. As grávidas também devem ter especial cuidado para não se infetarem.
O vírus afeta mais mulheres ou homens?
De momento, não existe evidência científica suficiente para afirmar maior suscetibilidade de mulheres ou homens, podendo eventuais diferenças observadas não serem diretamente relacionadas com o género.
Porque é que as crianças parecem ser menos afetadas?
A evidência parece mostrar que, de facto, nas crianças, a infeção é na generalidade menos agressiva. E não há registo de nenhum óbito em crianças com idade igual ou inferior a 10 anos. Mas, na verdade, não sabemos porquê. Neste momento, não há dados nem investigação suficientes para estabelecer teorias que não sejam especulativas.
Depois de infetadas e tratadas, as pessoas podem voltar a adoecer?
Mais uma vez ainda não sabemos, porque depende do comportamento do vírus a médio-longo prazo. Há infeções nas quais o organismo, depois do tratamento, fica imune. Noutras, o organismo fica parcialmente imune durante algum tempo, podendo ser reinfetado mais tarde (ou seja, a imunidade não dura para sempre). Noutras ainda, como no caso do herpes, o vírus fica latente, podendo reativar em alturas de maior stress para o organismo. Existem alguns relatos de casos de suposta reinfeção, mas não foi possível aferir ainda se se trata de uma reinfeção, reativação ou um falso negativo na análise de controlo.
É possível haver quem seja imune à doença?
De momento, não existe evidência científica que suporte adequadamente uma resposta a esta pergunta.
Em Portugal, a gripe sazonal ocorre principalmente no inverno, entre dezembro e fevereiro. Existe alguma relação entre as condições climatéricas e a propagação do novo coronavírus?
Diretamente, não temos dados ainda para perceber o efeito das condições climatéricas no comportamento do vírus no ambiente. Contudo, nas alturas de temperaturas mais frias, as pessoas têm tendência a concentrar-se em locais fechados e pouco arejados. E isso sim, sabemos que tem grande influência na propagação do vírus.
Quais são as principais diferenças entre a gripe e a Covid-19?
São ambas provocadas por um vírus de diferentes famílias, mas as pneumonias provocadas pelo SARS-CoV-2 tendem a ser mais graves. A transmissibilidade pessoa a pessoa da Covid-19 é superior à gripe.
A primavera é uma época propícia a alergias, com problemas respiratórios associados. Este fator pode contribuir para uma maior vulnerabilidade à doença ou inspirar maiores cuidados?
Não existe evidência que suporte o descrito.
(com Perguntas & Respostas anteriormente publicadas a 22 e 24 de março )
Alexandra Farrica disse:
Boa tarde.Por que motivo, até na comunicação social,se anda a ouvir “A covid-19 …”.Qual o motivo da utilização do artigo feminino “A” para se referirem a UM vírus,masculino?Por exemplo,quando foi A gripe das aves,nunca ouvi “A H1N1”.Pois,mesmo que se queiram referir à doença provocada pelO vírus,o vírus continua OBRIGATORIAMENTE a ser “O”. É PRECISO NÃO NOS ESQUECERMOS QUE,UMA ASNEIRA, SÓ PORQUE É DITA POR MILHÕES DE PESSOAS NÃO DEIXA,POR ISSO,DE SER…UMA ASNEIRA
REGIÃO DE LEIRIA disse:
Cara Alexandra Farrica, reportamo-nos à Covid-19 no feminino por se tratar da doença provocada pelo novo coronvírus.
Baseamos-nos para o efeito no esclarecimento publicado na página oficial da internet do Serviço Nacional de Saúde:
“SARS-CoV-2 é o nome do novo coronavírus que foi detetado na China, no final de 2019, e que significa ‘síndrome respiratória aguda grave – coronavírus 2’. A Covid-19 é a doença que é provocada pela infeção pelo coronavírus SARS-CoV-2”.
Alexandra Farrica disse:
Exmos.Senhores,uma pessoa que deu covid-19 positivo,tratou-se e ficou recuperada,fica imune?Ou seja,depois de recuperar fica em condições de não ter de usar EPIs e,assim, não só não contaminar outros como, também, não ficar doente?
REGIÃO DE LEIRIA disse:
Cara Alexandra Farrica. Agradecemos a sua questão, que iremos procurar esclarecer num próximo artigo. Cumprimentos. Redação