São oito dias no calendário, mas na verdade, levando em conta o conjunto de atividades complementares às celebrações que assinalam a Semana Santa, os eventos preenchem cerca de um mês. Este ano, as celebrações juntam religiosidade, teatro, música, tradições locais e não só. O envolvimento da comunidade é a pedra de toque da iniciativa, apresentada ao final da tarde desta quinta-feira, no Castelo de Porto de Mós.
É uma semana de celebrações que “acaba por ser quase um mês”, admitiu Eduardo Amaral na conferência de imprensa de apresentação da iniciativa. O vice-presidente da Câmara da Porto de Mós elencou os diversos eventos agendados e concluiu que, na prática, preenchem perto de quatro semanas de atividade.
A procissão do Senhor dos Passos, já no dia 22 de março, marca o arranque de atividades que se inserem neste âmbito, frisou. Trata-se de uma prática religiosa muito peculiar, tradicional em Porto de Mós e que José Alves, pároco local, confessou desconhecer até chegar à paróquia.
A prática será secular na vila, e terá tido origem na altura da criação do Convento dos Agostinhos Descalços, explicou, remetendo para os dados avançados pelo historiador Kevin Soares.
Já em abril, um dos pontos altos das celebrações, será a criação de um tapete florido, construído por voluntários na Ponte Nova, junto à igreja de São Pedro, a 4 de abril. O tapete poderá ser conferido no dia seguinte, altura em que, pelas 15 horas, com início no Largo do Rossio, decorre a recriação bíblica da chegada de Cristo a Jerusalém, que o calendário litúrgico católico denomina de domingo de Ramos.
Igualmente com o caráter de recriação histórica, a via sacra é um dos destaques da iniciativa. Tem lugar dia 10 de abril, às 16 horas, com arranque na igreja de São Pedro, atravessando várias ruas da vila, rumo ao Castelo. Na véspera, a última ceia e o ritual de “lava pés” é igualmente recriado, pelas 21 horas, na igreja de São Pedro.
Salientando que a Semana Santa tem contado com um novo impulso nos últimos anos, o padre católico José Alves salientou que para os cristãos “esta é uma semana maior”. “Não temos teatro, para isso está cá o [o grupo de teatro] Leirena”, referiu, recordando que do ponto de vista religioso, este é um período de “oração”.
Frédéric da Cruz, diretor artístico do grupo Leiriena, enfatizou que a recriação da via sacra não é um mero espetáculo. Existirá respeito pela solenidade e importância simbólica da representação que contará com a participação de elementos da comunidade, frisou. “É um orgulho e uma honra participar neste projeto”, referiu.
Quaresmas com harpas e canto lírico
A componente musical é outro dos destaques da iniciativa, desta feita com um espetáculo integrado no Festival Música em Leiria. “Harpas Celtas”, dos espanhóis Lulavai (dia 8, 21h30, igreja de São Pedro), integra o cartaz do certame que, na sua 38ª edição, arranca no final do mês e conta com 22 espetáculos até dia 25 de abril.
Atravessando a época pascal, a preparação da edição deste ano do festival levou em conta esse facto, sublinhou Vítor Lourenço, presidente do Orfeão de Leiria, entidade que promove o certame que, este ano se alarga, pela primeira vez, aos concelhos de Ourém e Alcobaça.
“Cantata da ressurreição: uma história em música”, com Amadeu de Oliveira e convidados, é o primeiro momento de cariz musical (dia 6, 21h30, na igreja de São Pedro). No dia seguinte, igualmente na igreja de São Pedro e também às 21h30, António Alves, Mayya Rud e o grupo Coralis, apresentam “Do barroco e outras arias sacras com Coppia Lirica”.
A vigília pascal (dia 11) e, dia 12, a eucaristia do domingo de Páscoa, são as cerimónias religiosas católicas que marcam o fim das celebrações.
Mas como recordou Eduardo Amaral, esta é uma semana que é, na verdade bem mais do que isso. É que, em paralelo, decorre ainda a iniciativa “À descoberta do ovo da Páscoa”. Mobilizando diversas IPSS do concelho, ovos com cerca de dois metros foram decorados pelos utentes e vão estar dispersos pelo concelho. A ideia é suscitar a visita dos mais diferentes locais do concelho, à procura dos ovos, explicou Eduardo Amaral.
Outra iniciativa complementar será o festival do Borrego e do Cabrito das Serras de Aire e Candeeiros, que arranca 28 de março e se prolonga até dia 12 de abril. “São atividades fora do cariz religioso, mas que são aglutinadoras”, justificou.
Jorge Vala, presidente da Câmara de Porto de Mós, salientou o envolvimento da comunidade, dos trabalhadores do município, voluntários, escuteiros e grupos de teatro do concelho, que contam com participação ativa nas celebrações.
“Este é um projeto com carácter religioso significativo, sem perder de vista o adereço que é dado pela parte teatral ou espetacular, mas nunca foi nossa intenção perder de vista o caráter religioso”, garantiu.