A interdição de visitas, o prolongamento dos turnos, a medição permanente da temperatura e a preparação de alas de isolamento são algumas das medidas que têm sido adotadas pelos profissionais dos lares de terceira idade contactados, esta semana, pelo REGIÃO DE LEIRIA.
“Estamos com o plano de contingência no terreno há um mês, temos uma ala exclusivamente destinada ao isolamento, não temos receio do ponto de vista técnico”, refere David Martins, presidente da mesa da assembleia geral da Associação Lar Emanuel, em Leiria. “Mas vamos pôr os pés no chão”, prossegue, “ninguém tem dúvidas de que chega alguma coisa cá dentro, a questão é quando é que vai chegar”.
Sem casos positivos, a instituição conta com 82 utentes no centro sénior, na Gândara dos Olivais, e 24 nas residências, situadas na estrada dos Marrazes.
Por agora, o Lar Emanuel optou por não isolar completamente os utentes. Apenas os que têm de sair para fazer tratamentos em unidades de saúde ficam em isolamento profilático. Porém, o alargamento da medida a todos, não só não está excluído, como está a ser preparado “se cair a bomba atómica”, refere.
David Martins destaca ainda o trabalho e a dedicação da equipa que assegura o funcionamento do lar. “Isto tem um rosto e uma liderança que se chama Isabel Roque, a nossa diretora técnica, que praticamente não sai do lar”.
Isabel Roque, por seu turno, admite que está apreensiva. Enaltece a capacidade de trabalho e a disponibilidade da equipa, mas receia que possa não ser suficiente. “É o que nos dá desânimo”, refere. “Podíamos trabalhar a triplicar se tivéssemos a garantia de que tudo o que estamos a fazer ia chegar”.
Outro aspeto que gera desânimo é a imagem que, neste momento, é projetada dos lares que “sempre foram vistos com uma conotação menos positiva e agora continuam estar na berra e, muitas vezes, no mau sentido”, refere Isabel Roque.
Em contrapartida, sente algum alento ao ver as medidas que muitas instituições têm estado a adotar. “Isso, sim, é um bom prenúncio, é bom ver que estão a atuar para não chegarmos ao ponto de Espanha e Itália que são imagens muito desoladoras”, completa.
“Não se esqueçam dos lares privados”
Ana Reis, diretora técnica do Primus Vitae, em Fátima, partilha da mesma ansiedade e receio de Isabel Roque. Privado, e com 44 utentes, o lar “apertou o cerco à medida que as informações foram sendo dadas”. Mas pode não chegar. Os turnos em espelho, de 12 horas em 12 horas, têm exigido muito mais da equipa do ponto de vista físico, mas também psicológico. Sem a visita de familiares, “neste momento, os utentes têm apenas aquilo que somos nós a dar, já não há aquela esperança de saber que vem um filho ou um neto, eles sabem que não vem”, refere Ana Reis.
Sem casos positivos, o Primus Vitae conseguirá reorganizar-se se o isolamento vier a ser necessário. “Já nos estamos a preparar psicologicamente para uma situação desse género”, conta Ana Reis.
O cenário vivido em Espanha está muito presente na mente de quem trabalha nestas instituições. “Imaginar um lar que foi abandonado completamente é um cenário macabro e horrível, mas também não sabemos o que se passou lá e não podemos julgar”, sustenta.
Por cá, acredita que esse é um quadro a que não se vai assistir por mais difícil que a situação se torne. E aproveita para deixar o apelo “não se esqueçam dos lares privados”. Refere-se, por exemplo, ao valor a que tem sido obrigada a adquirir máscaras: dois euros cada. Sabe que alguns municípios estão a ajudar as instituições da rede social na compra de material e gostava que esse apoio se pudesse estender à rede privada. “Não queremos que nos ofereçam, mas que nos facilitem o contacto com os fornecedores. As IPSS são fundamentais, mas os lares privados também precisam de ajuda”.
“Orientações da DGS foram tardias”
Em Regueira de Pontes, a residencial sénior do Centro Social Paroquial (CSPRP) não chegou sequer a acolher todos os utentes que tinha inscritos. A funcionar há pouco mais de um mês, a instituição foi desde logo obrigada a tomar medidas.
Ao REGIÃO DE LEIRIA, Vítor Matos, vice-presidente, conta que atuou ainda antes das orientações da Direção Geral de Saúde que classifica de “tardias”.
Considera que por parte daquela entidade houve “facilitismo” e acredita que “o pior ainda está para vir”. Na residencial sénior, a decisão foi não facilitar. No início, as visitas foram reduzidas a uma pessoa de família e há três semanas que os contactos se fazem exclusivamente por videochamada.
Por parte das funcionárias, Vítor Matos diz ter o compromisso de honra de que, fora do lar, circulam apenas entre casa e trabalho, com exceção das idas ao supermercado e à farmácia. À entrada ao serviço é-lhes sempre medida a temperatura. Cumprem turnos de 12 em 12 horas durante cinco dias consecutivos.
Quanto aos utentes, sobretudo nos cuidados de higiene, conta que foi intensificado um conjunto de medidas com o objetivo de evitar a entrada do vírus na instituição ou “pelo menos ver se retarda”.
Além de lar, o Centro Social Paroquial conta com as valências de creche e ATL cuja atividade teve de ser suspensa. Já o centro de dia, está agora convertido em apoio domiciliário e assim vai continuar até que as circunstâncias se alterem. Vítor Matos não antevê um futuro fácil para a instituição.