Quatro especialistas e investigadores desafiaram a Comissão de Agricultura e Mar a visitarem a Mata Nacional de Leiria, que ardeu em 2017, antes da aprovação final da Assembleia da República do projeto para o Pinhal do Rei.
“Como o assunto vai à Assembleia da República, achamos que esta é uma janela de oportunidade antes da votação final”, adiantou a bióloga e especialista em flora e habitats naturais do Pinhal do Rei, Sónia Guerra, uma das responsáveis pelo convite.
Segundo explicou à agência Lusa, “houve vários projetos-lei para a Mata de Leiria apresentados por diversos partidos que foram aprovados em Assembleia da República. Falta agora a Comissão de Agricultura e do Mar juntá-los todos e definir uma proposta final para ser aprovada”.
Para Sónia Guerra, é importante que, “antes de o documento final estar fechado, a Comissão possa vir ao terreno para ter uma noção diferente da realidade e para não tomar decisões só com base no que lhe chega a Lisboa”.
Além de Sónia Guerra, o convite endereçado tem a assinatura de Gabriel Roldão, investigador, historiador e autor do livro “Elucidário do Pinhal do Rei”, de Hugo Simões, engenheiro do Ambiente, especialista em Sistemas de Informação Geográfica e Recursos Naturais, e José Nunes André, geógrafo, investigador em sistemas dunares das Matas Litorais.
“Somos quatro técnicos independentes, que temos como único objetivo a ligação à mata. Além da preocupação com o futuro da mata, queremos também que o assunto não seja esquecido, numa altura em que o país está virado (e bem) para a pandemia”, adiantou Sónia Guerra.
Sónia Guerra lamentou que “as coisas não estejam a ser feitas”.
“Em outubro, faz três anos do incêndio e a reflorestação propriamente dita está muito pouco feita. Aparentemente, o que está feito é muito residual e foi realizado à base de voluntariado e de mecenas. Da tutela, que se saiba, as ações concretas são só corte e venda da madeira queimada”, acrescentou.
Se existe, admitiu ainda, desconhece onde está essa informação e esses dados”.
A especialista alertou também para a falta de manutenção da mata, que está a ser alvo de “invasão de acácias”, considerando que a “mata mais antiga do país está ao abandono”.
Questionada sobre a necessidade apontada pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas de garantir a regeneração natural do Pinhal do Rei, Sónia Guerra sublinhou que “não são precisos três anos para ver a regeneração natural”.
“É possível saber logo quais os talhões que são pinhal adulto, que têm condições para ter semente e regeneração natural, e os talhões jovens, que não têm semente para regeneração natural”, explicou, considerando que “não são precisos três, quatro ou cinco ciclos regenerativos para se verificar isso”.
Para Sónia Guerra, com o incêndio “houve alguma esperança que as verbas que a mata gera fossem investidas para reerguer um património histórico”.
“Mas foram vendidos 15 milhões de euros de madeira queimada e para onde foi esse valor? Não se vê nada investido no Pinhal do Rei”.
A Mata Nacional de Leiria, também conhecida por Pinhal de Leiria e Pinhal do Rei, é propriedade do Estado. Tem 11.062 hectares e ocupa dois terços do concelho da Marinha Grande. A principal espécie é o pinheiro bravo.
No incêndio de 15 de outubro de 2017 ardeu 80% da sua área.