O projeto “Aldeias Resilientes”, que procura criar uma cultura de autodefesa na zona afetada pelo grande incêndio de Pedrógão Grande, devia ser replicado noutros territórios, defendeu hoje a associação de vítimas.
O projeto formou quatro equipas em quatro aldeias dos concelhos de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, que estarão este ano, pela primeira vez, aptas a atuar em situação de um incêndio numa fase inicial, após formação ministrada pela Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI) da Universidade de Coimbra.
“As boas práticas que se vão adquirindo com este projeto poderiam ser replicadas no projeto “Aldeia Segura, Pessoas Seguras”, para as pessoas não terem apenas um ponto onde se podem dirigir para serem retiradas da aldeia, mas elas próprias terem alguém na aldeia que possa combater numa fase inicial e ajude a proteger a localidade”, disse à agência Lusa a presidente da Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG), Dina Duarte.
O projeto-piloto, que contou com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, deveria ser agora replicado com “o apoio do Estado ou de entidades que estão no terreno”, defendeu.
Segundo Dina Duarte, o projeto “Aldeias Resilientes” e o “Aldeia Segura”, promovido pelo Governo, “complementam-se”.
“É impossível ter este equipamento que está neste projeto em todas as aldeias e nem todas têm pessoas com capacidade física para agir ou colaborar numa situação de incêndio, mas algumas práticas de combate deveriam ser aprendidas pelas aldeias que possam aderir”, vincou, considerando que neste projeto a população assume uma postura “proativa” numa situação de combate a incêndio numa fase inicial.
De acordo com a presidente da AVIPG, as equipas formadas nas aldeias de Vila Facaia, Pobrais, Arega e Pêra já estão prontas a atuar, apesar de ser necessário fazer mais treinos.
Também o investigador da ADAI, Miguel Almeida, que representou a instituição nas formações dadas, considerou que o projeto “tem um grande potencial e deveria ser replicado”, admitindo, porém, que “nem todas as aldeias têm gente jovem e com força, mas onde for possível seria muito interessante replicar”.
“Nós vemos muitas vezes populares a combaterem e a estarem dispostos a combater até noutras aldeias. Mas temos uma força de trabalho que muitas vezes está a prejudicar. Vão de chinelos, calções, impreparados e acabam por complicar mais do que ajudam. É uma pena porque têm vontade e força para isso. Se estiverem organizados e devidamente instruídos e preparados para desempenhar um bom papel, é uma mais-valia”, realçou.
No projeto, foram formadas equipas de cinco a seis pessoas, estando representadas diversas idades, homens e mulheres, bem como diferentes nacionalidades, referiu.
Durante o projeto, houve formação teórica, teórico-prática e exercícios de simulação, tendo as equipas recurso a uma moto-bomba, material de sapador, uniformes e equipamento de proteção individual contra incêndios.
O papel da equipa “é muito vasto”, passando por uma intervenção numa fase inicial do incêndio, apoio às entidades que combatem os incêndios e a proteção das casas caso os bombeiros não tenham capacidade de chegar a determinada localidade, aclarou.
O projeto, que começou em 2019, não termina, salientou Miguel Almeida, esclarecendo que a iniciativa entende a formação como “um processo contínuo”.