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Leiria

Parque da Lagoa: onde estão os estudos e o que vai ser feito?

Câmara de Leiria entende que estudos que fundamentam decisão de corte de árvores devem ser apresentados à população. PAN-Leiria também pede explicações. Junta de freguesia fala em projeto de requalificação.

Faz hoje precisamente uma semana, cerca de duas centenas de pessoas manifestaram-se, com recurso a um buzinão, contra o abate de árvores que aconteceu, dias antes, no Parque Temático da Lagoa, em Ortigosa, concelho de Leiria.

A zona ficou sem o verde que a caracterizava, e onde era normal ver muitas famílias a frequentar o parque para piqueniques ou até para a feira Ortifae, mas ainda são muitas as questões por responder.

Às dúvidas levantadas pela população juntaram-se, no decorrer desta semana, as perguntas da Câmara Municipal de Leiria e até da distrital de Leiria do PAN.

Gonçalo Lopes, presidente da Câmara de Leiria (PS), desafia a presidente da União de Freguesias de Ortigosa e Souto da Carpalhosa (PSD) a apresentar os estudos que fundamentam a decisão do corte de árvores.

“Há uma situação que não podemos tolerar, que é quando se escrevem e comunicam coisas que não correspondem à verdade. O abate do parque não foi feito em consonância com a Câmara Municipal. Este processo deve servir de lição, uma decisão desta índole, quando tomada por um autarca, deve ser sempre assente em rigor técnico e científico e, por vezes, não basta um estudo ou amostra. Quando as pessoas têm a certeza da decisão, isso tem que ser explicado às pessoas, não pode ser feita de maneira secreta, as pessoas precisam dessa explicação”, disse o autarca em reunião de executivo, na última terça-feira.

“Não sei se a decisão está certa ou errada, dizemos apenas que a decisão tem que ter profundidade técnica e tem que ter transparência e participação cívica e essa responsabilidade é da Junta de Freguesia que é a dona [do parque] e tem obrigação de zelar pelo seu património. (…) Que mostre os estudos e os partilhe com a população, que não está esclarecida”, acrescentou.

Ana Valentim, vereadora responsável pelos Espaços Verdes, leu um comunicado onde explicou que o parque é propriedade da União de Freguesias do Souto da Carpalhosa e Ortigosa, “cabendo ao seu executivo a responsabilidade exclusiva da sua manutenção e gestão”.

Confirma que a autarquia, solicitada em 2019, fez uma avaliação a quatro árvores em junho de 2019 e entendeu que seria necessário proceder a um estudo à totalidade dos choupos para poder avaliar corretamente se estavam doentes.

“Para além da necessidade de se garantir o correto enquadramento técnico e laboratorial deste tipo de decisões, deveriam ter sido prestadas informações e esclarecimentos públicos de forma clara, assegurando a participação da população, bem como das associações que tenham por objeto a defesa dos seus interesses”, leu a vereadora em comunicado, indicando que se desconhece “se outros estudos terão sido efetuados”.

Já os vereadores do PSD defenderam que a “Câmara de Leiria não pode lavar as mãos” e desresponsabilizar-se do que aconteceu, assumindo uma atitude de “gestão política”.

Também a Distrital de Leiria do Pessoas-Animais-Natureza (PAN) veio solicitar esclarecimentos, em comunicado enviado às redações, à presidente de Junta de freguesia, depois de ter tido conhecimento do “abate indiscriminado de mais de 150 árvores do Parque Temático da Lagoa”, num “processo decisório que poderia ter sido executado de uma forma mais transparente e participada”.

Em que foi fundamentada a decisão de abater as árvores, se existiam outras possibilidades alternativas que não o abate, se os estudos e análises realizados doram dados a conhecer à Assembleia de Freguesia e se a população foi informada, são algumas das questões que o PAN coloca ao executivo, procurando saber ainda se está prevista a reposição do mesmo número de árvores que foram abatidas.

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Fungo atingiu choupos

Apesar de várias tentativas de contacto, a presidente de junta Eulália Crespo só respondeu ao REGIÃO DE LEIRIA com o comunicado que tornou público na segunda-feira, dia 11.

Explica que, em 2019, “foram realizados vários estudos e avaliações às árvores”, onde se concluiu que “estavam contaminadas com diversas espécies de fungos que as fizeram apodrecer, fragilizando-as internamente e provocando a sua quebra e queda ao solo”.

A presidente de junta refere que “a manutenção de algumas das árvores abatidas, não evitaria a propagação da doença” e que “a medida drástica” teria sido evitada se “os anteriores executivos desta Junta de Freguesia tivessem efetuado atempadamente a manutenção das árvores”.

Em curso está, esclarece, um plano de requalificação do parque que pretende “torná-lo num local seguro, limpo, aprazível e dotado de todas as infraestruturas necessárias para que a população possa usufruir do mesmo”, onde está prevista a reflorestação com novas espécies de árvores e flora, além de novos equipamentos.

“Ato cobarde”

Já os membros da Assembleia de Freguesia (AF) reconheceram ao REGIÃO DE LEIRIA que não tiveram acesso ao documento e ao seu resultado, apesar de o mesmo ter sido solicitado por diversas vezes à presidente de junta de freguesia.

Desconhecem também se o estudo chegou a acontecer. “Este é um espaço muito procurado. Sem sombras, não estou a ver as pessoas irem para ali. O objetivo era que fosse feito um estudo exemplar para saber se seria necessário abater todas ou apenas parte das árvores. Em março, o assunto foi à reunião da AF mas, à última hora, a presidente pediu para retirar. Pedimos o estudo, propostas e valores, mas nunca foi entregue”, diz Marília Ferreira, presidente da AF.

Para Américo Coelho, o corte efetuado no parque da Lagoa na última semana é um “ato cobarde”. “Andamos a debater isto há um ano e, numa altura em que o país vive em confinamento, aproveitam para fazer o corte”, afirma.

Forte impulsionador da criação do parque, há 15 anos, o antigo presidente de Junta de Freguesia da Ortigosa defende que “a democracia e o poder local não é isto”.

“Esta intervenção não fazia parte do programa do mandato e mesmo que fizesse, e tivesse que ser feita uma intervenção nas árvores, o processo tinha que começar do zero, na Assembleia de Freguesia, com uma discussão pública e posterior decisão”, afirma.

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