Coloração acastanhada e mau cheiro. O cenário do ano passado parece ter voltado ao rio Lis, na zona da Galeota, Vieira de Leiria, no concelho da Marinha Grande.
O rio Lis, nas vizinhanças da foz que ocorre junto à Praia da Vieira, voltou a receber efluentes acastanhados, depois de casos semelhantes detetados no verão do ano passado.
João Mourinho, presidente da Naturalis, associação que se dedica à fotografia do património natural da região e à proteção ambiental, adianta que um “cheiro estranho” foi notado logo pela manhã desta sexta-feira, pelo vice-presidente da associação.
Ao REGIÃO DE LEIRIA, Fernando Piedade, vice-presidente, refere ter-se deslocado a um terreno da associação próximo do rio, tendo notado a “água acastanhada e um cheiro nauseabundo”.
Ao meio da tarde, cerca das 16h30, “fomos ver como estava o rio e a água estava acastanhada e notámos algum cheiro”, acrescenta João Mourinho que captou as imagens do vídeo (em cima).
João Mourinho adianta que foi da zona de saída de efluentes provenientes da Etar do Coimbrão que verificou a proveniência de um líquido acastanhado para o rio.
O dirigente associativo lamenta o sucedido, lembrando situações similares ocorridas o ano passado.
“Perpetua-se o problema do ano passado, é mais um carimbo negativo para a praia [da Vieira]”, aponta. “Ao fim de tantos anos de poluição no rio Lis, era tempo de algo mudar”, afirma, lamentando: “as pessoas chegam de férias e é este carimbo, esta má imagem, que recebem”.
Os dirigentes adiantam que as autoridades foram alertadas para a situação. Acrescentam igualmente que junto à ponte da Bajanca, nas imediações da Praia da Vieira, detetaram a presença de peixes mortos, evitando, ainda assim, estabelecer uma relação direta entre este facto e a descarga na zona da Galeota.
Ao REGIÃO DE LEIRIA, a Águas do Centro Litoral (AdCL), empresa responsável pela ETAR do Coimbrão, garante que aquele equipamento se encontra a “funcionar corretamente”, não registando anomalias. “Estamos a cumprir todos os parâmetros”, salienta fonte da empresa.
A coloração acastanhada notada no rio, adianta a mesma fonte, poderá ser resultado da utilização de lixiviados no tratamento efetuado na ETAR, situação que tenderá a ser mais evidente com caudais mais reduzidos do rio Lis.
Cor acastanhada é “normal”
O ano passado, aquela zona do rio esteve em destaque, consequência de notícias de incidentes semelhantes. Em agosto, uma descarga acabou por motivar um aviso a desaconselhar banhos na Praia da Vieira e a suscitar várias tomadas de posição de diversas forças políticas que exigiram medidas para enfrentar o problema.
E embora tenha assumido uma descarga involuntária decorrente da avaria de equipamentos, a empresa explicou na altura que a coloração acastanhada é uma consequência normal da sua atividade.
Em agosto do ano passado, a empresa referiu que a coloração é normal: “O efluente tratado na ETAR do Coimbrão, por via dos lixiviados de aterro da Valorlis e Resilei que recebe para tratamento, apresenta, sempre, uma coloração acastanhada”.
A AdCL acrescentou que a cor acastanhada do efluente – que é enviado para o rio no âmbito de uma licença emitida pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) – é mais evidente no verão.
“Em período de estiagem, os caudais do rio Lis baixam substancialmente e, por isso, o caudal proveniente da ETAR apresenta um maior contraste quando se mistura no rio, dando a perceção ao cidadão de que o mesmo não se apresenta nas devidas condições, o que, tal como evidenciam os resultados dos boletins, não é a realidade”, explicou então a AdCL.