A ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamentou hoje “profundamente”, a morte do ator Armando Venâncio, na terça-feira, aos 94 anos, “impulsionador e pioneiro do teatro independente em Portugal”.
Num comunicado hoje divulgado pelo Ministério da Cultura, Graça Fonseca recorda que Armando Venâncio, “com uma carreira longa e ligada ao teatro independente, foi um dos fundadores do Teatro Estúdio de Lisboa ou do Teatro do Povo, este último com Pedro Pinheiro e Fernanda de Figueiredo, estando também ligado aos primeiros anos do Teatro Maria Matos e tendo colaborado com o Teatro ABC, Casa da Comédia ou na Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro”.
“Através das personagens que interpretou, contribuiu para o conhecimento do nosso património literário, ao mesmo tempo que a sua presença na televisão ao longo de décadas o tornou um rosto conhecido e acarinhado pelo público português, que nunca esquecerá o seu talento e profissionalismo”, refere a ministra.
Pioneiro do teatro independente em Portugal, conhecido sobretudo pelo trabalho em televisão, Armando Venâncio morreu na terça-feira, em Lisboa, aos 94 anos, disse hoje à Lusa a Casa do Artista.
Armando Venâncio foi um dos nomes fundadores do Teatro Estúdio de Lisboa, da encenadora e dramaturga Luzia Maria Martins e da atriz Helena Félix, depois de ter iniciado a carreira na Companhia Rafael de Oliveira, em 1945.
Foi, no entanto, a televisão que tornou familiar o seu rosto, das noites de teatro da RTP, na década de 1960, à série “Médico de Família”, da SIC, dos anos 1990, sem esquecer as primeiras telenovelas portuguesas, como “Origens” e “Chuva na Areia”.
Nascido na Marinha Grande, em setembro de 1925, Armando Venâncio estreou-se nos palcos aos 19 anos, no “Amor de Perdição”, de Camilo Castelo Branco, que a Companhia Rafael de Oliveira pôs em cena, em Évora, no verão de 1945.
O ator manteve-se próximo da companhia dos Artistas Associados e das suas digressões pelo país, nos anos que se sucederam. Trabalhou também em revista, no Teatro ABC, nas noites de teatro da recém-criada RTP e em produções da Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro.
Em 1964, Armando Venâncio foi um dos nomes fundadores do Teatro Estúdio de Lisboa, ao qual se manteve ligado desde a peça inaugural, “Joana de Lorena”, de Maxwell Anderson.
Com esta companhia interpretou autores como Anton Tchekhov (“O pomar das cerejeiras”), Robert Bolt (“Thomas More”), Jean Anouilh (“Pobre Bitô”), Thornton Wilder (“A Nossa Cidade”), Jean Giraudoux (“A louca de Chaillot”) ou Arnold Wesker (“A cozinha”).
Em 1975, Venâncio fundou o Teatro do Povo, com o ator Pedro Pinheiro, pondo em cena criações como “Avenida da Liberdade” e “Uma canção no pão”.
No Teatro Popular, que reuniu nomes Jorge Listopad e Norberto Barroca, fez, entre outras peças, “Jesus Cristo em Lisboa”, de Alexandre O’Neil e Mendes de Carvalho, a partir de Raul Brandão e Teixeira de Pascoaes.
O trabalho em televisão de Armando Venâncio remonta às dramatizações do início da década de 1960, como “A Pérola”, sobre John Steinbeck, de Herlander Peyroteo, ou “A Vida é um Sonho”, de Ricardo Alberty, por Jorge Listopad, e “Transmissão Interrompida”, de Ruy Ferrão.
Nos anos de 1980 e 1990 tornou-se presença regular no “pequeno ecrã”, primeiro em séries dramáticas como as adaptações de “Os Maias” e “A Tragédia da Rua das Flores”, de Eça de Queirós, por Ferrão Katzenstein, depois nas telenovelas que afirmaram a produção portuguesa, como “Cinzas”, “Origens”, “Chuva na Areia” e “Verão Quente”.
A série “Médico de Família”, transmitida pela SIC entre 1998 e 2000, surge como o seu derradeiro trabalho em televisão.
No cinema, entrou em “O Judeu” (1996), de Jom Tob Azulay, e “Verde por Fora, Vermelho por Dentro” (1980), de Ricardo Costa.
O funeral de Armando Venâncio realiza-se na quinta-feira, no crematório dos Olivais, em Lisboa.
O corpo deverá chegar ao crematório do cemitério dos Olivais às 10:35 e o funeral realizar-se-á pelas 11:00, segundo a funerária Paulo Lameiras, que recorda destinarem-se as cerimónias fúnebres “apenas aos familiares mais próximos”, por causa da pandemia de covid-19.