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Peniche

A arte de reinventar lixo

“Não o meu lixo, mas o meu mundo” é o mote de Andreas Noe que, desde agosto do ano passado, se demitiu do trabalho de biólogo molecular e começou a colher lixo diariamente nas praias portuguesas

Steve Reznicek e Andreas Noe com a prancha que fizeram a partir de lixo

A tocar ukelele – uma viola pequena de origem havaiana – e a apanhar lixo nas praias, é assim que “the trash traveler” – viajante de lixo – é conhecido na conta de Instagram, onde partilha tudo o que encontra, com uma abordagem positiva e engraçada.

O alemão Andreas Noe está em Portugal há três anos e foi nas viagens ao fim de semana na sua autocaravana, de Lisboa a Peniche, para surfar, que se apaixonou pela cidade e aí ficou. Desde então, já apanhou 100 quilos de lixo nas praias de Peniche e arredores. Metade foi recolhida apenas num dia, num passeio com amigos à Lagoa de Óbidos. “Não conseguimos apanhar tudo, porque era muito”, conta ao REGIÃO DE LEIRIA.

Andreas não se limita a colher lixo das praias, procura dar-lhe um novo ciclo, transformando-o em peças de arte. Há várias semanas que está, com Steve Reznicek, a trabalhar numa prancha de surf feita a partir de um frigorífico velho, microplástico, beatas de cigarro e cordas de pesca. Tudo encontrado em Peniche.

Prancha foi feita a partir de um frigorífico velho, microplástico, beatas e cordas de pesca

Garrafas de plástico e máscaras de proteção descartáveis também são itens que muito recolhe nas praias. Já se deparou com embalagens muito antigas, nas quais reconhece o logótipo da marca à época. Mas o mais comum são mesmo as beatas. Sobre essas explica que “o que a maioria das pessoas não sabe é que contêm acetato de celulose, que é maioritariamente plástico, e toxinas que são descarregadas nos oceanos, destruindo ecossistemas marinhos”.

Ao REGIÃO DE LEIRIA, Andreas Noe revela que envia beatas para a empresa Biatikí, ajudando na produção de eco-cinzeiros de bolso e de exterior. Reforça que “é uma solução excelente para os fumadores, que podem andar com um cinzeiro portátil e não precisam de deitar a beata para o chão”. As cordas de pesca, que não consegue utilizar, também são entregues a instituições que lhes consigam dar um destino reciclável.

É no próximo sábado que começa a sua iniciativa “Plastic hike”: uma caminhada que Andreas Noe vai fazer de norte a sul de Portugal, percorrendo os 832 km de costa a recolher lixo das praias. “Estou a fazer esta iniciativa em Portugal, porque me sinto em casa aqui. Mas não é um problema exclusivo deste país, é um problema mundial. Na Alemanha, podia ser feito o mesmo projeto”, salienta.

“The trash traveler” pretende que este seja um projeto que chame organizações ambientais e outras entidades a trabalhar consigo, para chegar a mais pessoas e dar destino ao lixo encontrado nas praias.

Andreas Noe pretende que este seu projeto chame a atenção de organizações ambientais

Qualquer um se pode juntar a Andreas Noe no percurso, com as devidas precauções quanto à Covid-19. Basta aceder à conta de Instagram para saber onde ele se encontra no momento e para onde irá posteriormente, e entrar em contacto para combinar.

A meta é apanhar o máximo de lixo possível e consciencializar a população para a necessidade de repensar hábitos de consumo de plástico. Andreas alerta para a importância de prevenir a contaminação dos oceanos, que “só é possível através da redução e reutilização do máximo de plástico”.

A prancha, que tanto trabalho está a dar a Steve Reznicek, está quase pronta e vai ser levada por Andreas no percurso, enquanto símbolo do seu trabalho.

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