Num país cada vez mais envelhecido e dominado pela crescente utilização das tecnologias, aliar os dois mundos por uma melhoria da qualidade de vida da população sénior pode ser uma solução eficaz.
Esta foi uma das ideias saídas do Ageing Congress, evento internacional realizado esta semana, em Leiria, e que juntou, em plataformas online, mais de 500 participantes de vários pontos do mundo.
Segundo alguns dos intervenientes no congresso, vários estudos e plataformas online existentes têm apresentado vários benefícios da aplicação dos meios tecnológicos em prol do envelhecimento ativo.
Entre eles, estão a estimulação cognitiva, a estimulação da função física, uma maior inclusão na sociedade e facilidade no acompanhamento à distância por parte dos cuidadores.
Um dos eixos em que as tecnologias podem ser usadas, por exemplo, dizem os especialistas, é na criação de aplicações de exercício físico.
À semelhança das app mais frequentes para jovens e adultos, também já existem, especificamente, algumas destinada para uma população mais idosa.
Ana Fátima Pereira, do Instituto Politécnico de Setúbal e oradora convidada do congresso, defende que “o exercício realizado virtualmente é um dos maiores benefícios, principalmente quando estamos perante o distanciamento social”, remetendo para o contexto de pandemia.
Segundo a docente de desporto, “quem trabalha com a população idosa deve ter em conta as tecnologias” e encontrar o “equilíbrio” entre as necessidades dos seniores e a melhor opção tecnológica.
Além disso, esclarece, é também fundamental a criação de um programa específico, porque torne o exercício “mais objetivo e diferente dos outros”, adaptando-se às necessidades de cada um.
A prática de exercício físico pelos idosos ajuda na “melhoria da memória, atenção, velocidade, no processamento de informação e na execução de movimentos”, concluiu na sua intervenção.
Tecnologia como auxílio dos cuidadores e técnicos
A 3ª edição do congresso teve como tema “Envelhecimento como um todo” e decorreu ao longo dos dias 21 e 22 de setembro, na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais, do Politécnico de Leiria, abordando várias áreas tendo o envelhecimento sempre como ponto central.
Educação, tecnologia, sociedade, saúde, artes, criatividade, lazer e turismo foram alguns dos temas abordados pelos mais de 20 especialistas, provenientes de universidades e instituições do país, bem como de Espanha, Cabo Verde, Brasil, Irlanda e Reino Unido.
Ainda no que respeita ao uso de meios tecnológicos, os oradores entendem que estes podem ser benéficos no acompanhamento à distância da população sénior.
Através de plataformas e serviços online, os cuidadores/técnicos podem monitorizar as atividades diárias dos cidadãos, configurar planos de treinos, avaliar indicadores de saúde, conhecer a localização dos utilizadores, registar cuidados e ocorrências, entre outros.
Na opinião de Vanessa Baeta, da Intellicare Portugal, as tecnologias são uma mais-valia e “o futuro da saúde passa pelo acompanhamento à distância”. “Mas é preciso apoiar os cuidadores para que eles consigam apoiar melhor os nossos seniores”, acrescentou.
Entre os exemplos de plataformas portuguesas criadas com este intuito, Vera Baeta destaca a Ankira e a OneCare. No caso da OneCare, desenvolvida pela Intellicare Portugal, os utilizadores podem fazer videochamadas, conversar por chat, jogar, ler as notícias e ficar a par de eventos.
Todos estes serviços contribuem, defende, além das vantagens mencionadas, para aumentar a literacia dos idosos, no que diz respeito ao meio digital e à saúde.
Envelhecimento ativo: uma preocupação além-fronteiras
Ainda dentro da temática das tecnologias, foi apresentada, no congresso, a EuroAGE, uma iniciativa criada no âmbito do Programa INTERREG VA Espanha-Portugal (2014-2020), que junta vários investigadores, dos dois países, no desenvolvimento de estudos científicos sobre o impacto das tecnologias no “envelhecimento”.
A partir destes contributos, são criadas ações inovadoras, baseadas nas tecnologias e no conhecimento, para melhorar a qualidade de vida da população sénior.
É nesse sentido que o projeto EuroAGE tem atuado, levando as tecnologias aos idosos e colocando-os em contacto com as mesmas.
Um exemplo são os “jogos sérios”, que consistem em pequenos exercícios, como ordenar imagens e ler legendas, combinando “estimulação física, cognitiva e socioemocional”, explicou Pedro Núñez, investigador da EuroAGE, que o está a implementar em Castelo Branco.