O músico que Leiria viu crescer volta ao palco do “seu” Teatro José Lúcio da Silva para um espetáculo especial. “Recomeço” marca o regresso de João Miguel depois da paragem forçada pela pandemia e não faz por menos: para este sábado, 26 de setembro, promete concretizar o que sempre ansiou fazer. E, a partir daqui, lançar-se para um novo “Recomeço” noutros palcos.
Anunciou estar a preparar “coisas boas” para o concerto. Que coisas são estas?
Estou a preparar um espetáculo nunca visto, pelo menos aqui no José Lúcio, que eu tivesse feito. Em termos de produção, em termos dos momentos que vão acontecer aqui dentro, penso que vai ser fantástico.
Porquê? Que produção é esta?
É uma produção que sempre ansiei fazer. Em tempos não havia tantas possibilidades, não tinha tantos conhecimentos para poder atingir estes objetivos. Não conhecia a malta das luzes, do som, os bailarinos ou os músicos. A banda que me acompanha há vários anos vai subir ao palco comigo, com mais elementos. Vão estar 12 pessoas em palco, é muita gente, fora convidados.
Quem são eles?
Tenho três convidados. Os GNTK – esperamos que apareçam porque tiveram um imprevisto -, o Nuno Barroso vai cantar um tema meu e a Daniela Melo, uma menina de 14 anos que vai subir ao palco comigo.
Quanto tempo demorou a preparar este “Recomeço”?
Vai a caminho dos três meses. Está a demorar mais tempo por causa de algumas burocracias impostas pela Covid, mas não é nada que não se consiga resolver. Tentámos chegar a um consenso para fazer as coisas dentro das normas.
Qual foi a maior dificuldade?
A maior dificuldade era dizerem que a cultura teria de parar outra vez. Tratar disto tudo demora muito tempo. Há preparação de estúdio, preparação de ensaios, tratar dos temas para os músicos e gerir os convidados… Ter este trabalho e depois dizerem que teria de parar tudo, era complicado. Tive medo de não poder fazer o espetáculo na casa que me viu nascer para a música. Eu tinha sete anos quando lancei o meu primeiro disco aqui e ficou na minha memória. Identifico-me com o Teatro José Lúcio da Silva, identifico-me com a sala e traz-me muito boas recordações esta sala.
O que sente naquele palco?
É diferente. Sentimos responsabilidade em atuar em todo lado, mas aqui há mais responsabilidade, porque estou na minha cidade. Há pessoas que me acompanham há 37 anos, desde que eu nasci para a música, cada dia vai chegando mais e mais gente que gosta e ouve. São filhos e filhas das senhoras e senhores que me acompanhavam, é engraçado e é uma grande responsabilidade. Sempre que faço alguma apresentação de disco é aqui que a faço. Tento sempre fazer coisas diferentes para não dizerem que é igual aos outros concertos. Aqui tenho os amigos, os críticos, apesar de existirem críticos em todo lado, aqui é diferente, aqui é “tu cá tu lá”. Para mim o Teatro José Lúcio da Silva é fantástico, é a casa mãe de Leiria, é o nosso Altice Arena, o nosso Coliseu. A partir do momento em que entrar na sala às 9 da manhã de sábado, dia 26, até à meia noite a minha responsabilidade acresce 100%. Estou dedicado, concentrado. É um descarregar de três meses de trabalho que estou ansioso de poder mostrar.
O que pode esperar o público deste espetáculo?
Pode esperar muita emoção. Vão assistir a momentos em que é difícil não se emocionarem. Vão haver momentos brutais nesta sala. É um espetáculo que desde a primeira música ao final é muito emocionante. É aquilo que sempre ansiei poder mostrar em Leiria. Vai ter muitas surpresas.
Como lida com a aproximação da data do concerto?
Estou ansiosíssimo. É uma responsabilidade que cresce na minha cabeça: Será que os músicos vão fazer tudo bem? Será que as pessoas que estão ali vão gostar do que vou mostrar? Tem tudo para correr bem, eu só trabalho com profissionais, às vezes sai mais caro, mas o resultado é excelente. Quero dizer que dedico este concerto a todos os meus amigos, ao meu staff que são 30 pessoas, e à minha família, especialmente aos meus dois filhos Eduardo e a Maria, e aos patrocinadores. Vou gravar o meu DVD ao vivo nesse mesmo dia, gravar o espetáculo e vou ter à venda os meus CD e um livro dos meus 35 anos de carreira.
O espetáculo tem uma vertente solidária intitulada “Projeto Esperança Solidária de Leiria”. Como surge a iniciativa?
Desde sempre fui educado pelo meu empresário a ajudar o próximo e isso ficou na minha cabeça. Tento sempre ajudar alguma instituição. Como sou padrinho deste projeto acho que me competia ajudar. O que é que podem fazer para ajudar: trazerem roupas que não usem. Ajudar é sempre bom.
Depois de “Recomeço”, o que vem a seguir?
A seguir espero que abra tudo e que isto seja uma rampa de lançamento. Quero levar o espetáculo para a estrada. Quero dar a conhecer os meus temas e mostrar às pessoas que Leiria está no meu coração. A minha cidade é esta e espero que com este concerto eu vá além-fronteiras e que tudo volte ao normal. Depois de Leiria, estamos à espera de respostas de salas: vou querer passar por Viseu, Aveiro, Porto, Lisboa, Coimbra, Madeira e vou estar em Jersey no fim de outubro. “Recomeço” é o arranque e a abertura do que poderá acontecer na minha vida futura. A ideia é correr o país.
O João quer vingar lá fora?
Agora estamos a pensar em Portugal, mas quero criar alguns duetos com cantores internacionais que já estão na minha cabeça. Um deles é David Bisbal e o outro Fábio Júnior. Primeiro Portugal e depois lá fora.
Como foi a quarentena para si?
A quarentena fez com que muitos espetáculos fossem ao ar. Estive fora e cheguei em fevereiro com sintomas de Covid, apesar de não ter tido, fiquei logo em casa durante uns tempos. Quando estava pronto para ir trabalhar, foi quando decretaram que tínhamos de parar. Não trabalho em espetáculos quase desde o início do ano.
Surgiu algum projeto durante esse período?
Sim, músicas que devíamos fazer no fim do verão fiz agora. Juntei-me com o meu produtor musical e com diretor musical, Nuno Junqueira, que trabalha também com artistas nacionais bastante conhecidos e fizemos essas músicas. Integrei um projeto: Leiria In Rock, em conjunto com a Câmara Municipal, que não tinha acontecido sem a quarentena, porque estava carregado de concertos. Este ano era o ano bombástico, tinha muitos concertos em comparação com anos anteriores, ia ser muito bom. Queria mostrar o meu trabalho este ano, em concertos, para o ano ter o dobro. Alguns foram adiados, como o caso do concerto na Feira de Maio, e seis deles foram mesmo cancelados.
Tem 37 anos de carreira e poucos mais de vida. Como é ter a música como uma constante durante tanto tempo?
A minha mãe também canta, é cantadeira do Rancho [da Região] de Leiria e eu comecei a cantar com ela nos intervalos do rancho. Depois quis seguir as minhas coisas, tive uma pessoa que me apadrinhou, o Joaquim Santos, e com ele corri o mundo e Portugal inteiro. Tinha anos de ter 120 espetáculos. Estudava, tive de passar a estudar a noite, porque tinha de gerir muita coisa. Dos cinco aos 18 anos editei vários discos, cassetes e CD. Aos 18 anos aí vai “ele” para Lisboa. Estavam na moda as boys band e fui passar um fim de semana a casa do João Portugal – um dos meus melhores amigos, ex-elemento dos Excesso – e fiquei lá dez anos. Formei uma boys band, os Instinto. No primeiro ano andámos a bater às portas, às editoras, ninguém queria nada. Lançámos uma música, feita para nós pelo João Portugal, que foi um sucesso, e depois as editoras já queriam. Gravámos um disco, com o Nuno Junqueira, começámos a fazer espetáculos e fomos às televisões. Agora já se tornou corriqueiro ir à televisão, toda a gente vai à televisão. Na altura havia uma maior seleção para se poder mostrar as músicas. Fizemos muita “estrada”. Em 2008 as coisas acabaram, estávamos fartos de “estrada”, fartos de música, fartos de estar uns com os outros porque, a bem dizer, vivíamos juntos. A banda acabou e eu fiz uma pausa. Fiz festivais da canção, fiz parte da banda do Nuno Guerreiro, da Ala dos Namorados, onde adquiri muita experiência, aprendi muito. Mais tarde comecei a lançar algumas coisas, tive vários temas nas telenovelas, que nunca deram em nada. É uma ilusão achar que ter uma música na novela vai levar a ter muitos concertos. É uma ilusão.
BS