A reflorestação do Pinhal de Leiria vai receber todo o dinheiro da venda da madeira ardida e essa verba nem sequer vai chegar. As contas são do Governo.
Na próxima década, a reflorestação deve custar cerca de 18 milhões de euros. A venda da madeira rendeu cerca de 15,9 milhões.
No dia do terceiro aniversário do fogo que quase destruiu por completo o Pinhal de Leiria, João Paulo Catarino, secretário de Estado da Conservação da Natureza, das Florestas e do Ordenamento do Território, garantiu que “todo o dinheiro que resultar do corte da madeira ardida no Pinhal de Leiria será aqui investido”. Assegurou ainda o apoio ao processo de criação do Museu da Floresta.
O Governo está disponível para “ceder os imóveis, o espólio que temos, pagar uma parte significativa do museu”, mas esse “tem de ser um processo liderado pela Câmara da Marinha Grande”, afirmou à saída da reunião do Observatório do Pinhal do Rei, dia 15, na cidade vidreira.
Num dia polvilhado de críticas, provenientes de observatórios, ao processo de reflorestação, o governante assegurou compreender a frustração e prometeu investimento.
Nessa manhã, num relatório do Observatório Técnico Independente da Assembleia da República, era reclamado precisamente que todas as verbas da venda de madeira fossem canalizadas para o investimento no Pinhal.
Foram igualmente deixadas críticas ao atraso no processo de reflorestação, recomendando um reforço de meios do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
À tarde, na reunião do Observatório do Rei, surgiram críticas, sugestões – sobretudo de reforço de meios para vigiar e proteger a floresta – e o relato de casos caricatos.
O geógrafo José Nunes André, alertou para o caso de um aceiro, criado no tempo do Marquês de Pombal, e que tem a função de travar a progressão do fogo, mas que, ironicamente, tem sobreiros aí plantados.
Nuno Banza, presidente do ICNF, reconheceu o problema e garantiu ter-se tratado de um erro que será corrigido. A situação ocorreu numa área “muito pequena”, inferior a mil metros quadrados, explicou. Para além de árvores, o aceiro tem, ainda de acordo com José Nunes André, parte de um campo de futebol, murado, no seu interior.
Nuno Banza adiantou ter consciência de “ocupações do aceiro que são ocupações que nos extravasam”. Com o apoio da Câmara da Marinha Grande, será “reposta a legalidade”, adiantou o responsável.
Afirmando compreender a frustração local com a demora no processo de reflorestação do Pinhal, João Paulo Catarino, garantiu que serão gastos na recuperação do Pinhal, os cerca de 16 milhões de euros já conseguidos na venda da madeira ardida. Aliás, calcula, essa verba não vai chegar para pagar a fatura da recuperação.
Segundo avançou Nuno Banza, presidente do ICNF, entre as várias ações já realizadas, em curso ou já contratualizadas no Pinhal de Leiria, foram investidos 4,3 milhões de euros, apontando-se para 4,7 milhões de euros que serão gastos na recuperação do Pinhal a partir do próximo ano até 2024.
Os compromissos já assumidos para a regeneração do Pinhal somam 9 milhões de euros, mas “nos próximos cinco ou seis anos vamos precisar de outros 9 milhões”, afirmou João Paulo Catarino. Ou seja, um total de 18 milhões de euros.
As promessas governamentais não esbateram alguns protestos. Já depois da saída do governante, ao final da tarde, na Praça Stephens, algumas dezenas de pessoas participaram numa concentração, exigindo ação no processo de revitalização do Pinhal.
12%
Para já, estão executados 1.178 hectares de rearborização (cerca de 12% da área ardida em 2017) e até 2022 serão concretizados mais 1.344, avança o ICNF. A rearborização do Pinhal de Leiria, no total, comtempla 3.970 hectares até 2024. O restante será assegurado por regeneração natural.