Os hospitais da região Centro estavam, no final da semana, com taxas de ocupação a rondar os 90 por cento. O índice de transmissibilidade (Rt) do vírus SARS-CoV-2 está acima de 1. E o impacto do aumento da mortalidade durante a pandemia será, igualmente, sentido no que se refere à esperança média de vida.
Vamos olhar para o ponto de situação de alguns indicadores e impactos da atual pandemia. No país e na região.
Ontem, sábado, os hospitais da região Centro contam com 1.325 camas ativas de enfermaria covid e 138 de UCI, com uma taxa de ocupação de 94% e 87%, respetivamente.
Os hospitais da região Centro voltaram a aumentar a vagas para doentes da covid-19, totalizando agora 1.325 camas de enfermarias e 138 de cuidados intensivos, informou ontem à agência Lusa fonte da Administração Regional de Saúde do Centro (ARSC).
De acordo com os dados daquele organismo, na sexta-feira, foram abertas mais 58 camas de enfermaria e duas em Unidade de Cuidados Intensivos (UCI).
A informação também especifica que, na sexta-feira, foram hospitalizados 176 doentes, havendo um total de 1.370 internados, o que representa um aumento de 48 doentes, face a quinta-feira. Destes, 1.250 estão internados em enfermaria (+49) e 120 em UCI (-1), sendo que 89 doentes estão ventilados (-2).
Transmissibilidade do Centro é a terceira mais alta
Entretanto, o índice de transmissibilidade (Rt) do vírus SARS-CoV-2 está acima de 1 há 24 dias, verificando-se recentemente um período de crescimento para os 1,13 registados na última segunda-feira, indicam dados ontem divulgados pelo ministério da Saúde. Na região Centro, este valor é de 1,12.
“O R(t) nacional encontra-se acima de 1 há 24 dias. Neste período variou entre 1,01 e 1,25”, apurou o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), que tem acompanhado a evolução da transmissão do vírus em Portugal desde o início da pandemia da covid-19.
Segundo os últimos dados do INSA, verifica-se uma “tendência crescente de novos casos ao nível nacional em todas a regiões do país, com exceção da Região Autónoma dos Açores”.
1,12
O valor médio do Rt, entre os dias 14 e 18 de janeiro, foi de 1,13 em Portugal, sendo, por regiões, mais alto em Lisboa e Vale do Tejo (1,17), seguindo-se o Norte (1,12), o Centro (1,12), a Madeira (1,08), o Algarve (1,06), o Alentejo (1,05) e os Açores (0,93).
De acordo com o INSA, depois de 01 de janeiro registou-se no país um período de redução da transmissão do vírus que provoca da covid-19, que passou dos 1,25 no primeiro dia do ano para os 1,11 a 12 deste mês.
“Nos últimos dias o valor do Rt interrompeu o processo de decréscimo, tendo dado lugar a um período de crescimento lento de 1,11 para 1,13 a 18 de janeiro. Este resultado sugere uma estabilização ou aumento ligeiro da velocidade de crescimento da incidência de SARS-CoV-2”, refere o INSA.
Os mesmos dados indicam ainda que, depois de 26 de dezembro, observou-se um “aumento acentuado do Rt em poucos dias, tendo passado de 0,96 no dia de Natal para 1,21 registado a 30 de dezembro, um aumento que representou “uma nova fase de crescimento da incidência de SARS-CoV-2” em Portugal.
Mortalidade sobe e esperança média de vida cai
O aumento de casos e da consequente mortalidade, terão consequências na esperança média de vida.
Afinal, o número de mortes em Portugal durante 2020 foi 10,6 % maior em relação à média dos anteriores cinco anos, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), que registou 123.409 óbitos, mais 12.220 do que entre 2015 e 2019.
No dia 31 de dezembro, registavam-se 6.906 mortes atribuídas à covid-19, ou seja, 56% do excesso de mortalidade de 2020 em relação à média 2015-2019.
De acordo com dados preliminares do INE, durante os primeiros dois meses do ano passado a mortalidade foi inferior ao período de referência dos cinco anos anteriores, mas depois de terem sido diagnosticados os primeiros casos de contágio pelo novo coronavírus, todos os meses aumentou a mortalidade em excesso.
E o incremento da mortalidade, desde o início do ano, é visível nos dados disponibilizados pelo Sistema de Vigilância: SICO/eVM – Vigilância eletrónica de mortalidade em tempo real e traduzidos no gráfico em baixo, referente à evolução da mortalidade geral em Portugal. As linhas azul e rosa, referentes a este ano, sobressaem.
Em setembro do ano passado, a esperança de vida à nascença na Região de Leiria era a terceira mais alta do país, acima da média nacional. Há menos de uma década a situação era bem diferente.
Há pouco menos de uma década, a relação com o todo nacional era a oposta: na região a esperança de vida era cerca mais de um mês inferior à média nacional (79,16 anos entre nós versus 79,29 no país).
Agora, os especialistas estimam que se vão registar mudanças nestes indicadores. A esperança média de vida em Portugal vai necessariamente diminuir em consequência da pandemia de covid-19, defendeu um especialista, explicando que isso decorre do efeito combinado da morte de idosos, mas também de jovens em idade reprodutiva.
“Quando há uma situação determinística, cai-nos uma guerra em cima ou uma pandemia, é evidente que aí toda a população vai diminuir. Vai diminuir numa fase da vida em que pode atingir não apenas os indivíduos mais idosos, mas também os indivíduos mais jovens e contribuir para que o número de indivíduos que vêm a atingir idades mais elevadas diminua”.
José Rueff, diretor do Centro de Investigação em Genética Molecular Humana da Universidade Nova de Lisboa, em declarações à Lusa.
Em 2017, em entrevista ao Expresso, José Rueff admitia que só uma situação de catástrofe como uma epidemia ou uma guerra poderia impedir um caminho que lhe parecia certo: o de os portugueses atingirem os 100 anos como esperança média de vida à nascença.
A pandemia de 2020, ainda em curso, veio baralhar as contas e é agora preciso ter em conta não só o número de idosos que morrem de covid-19, mas também os jovens, sobretudo aqueles em idade reprodutiva, penalizando a possibilidade de renovação e rejuvenescimento populacional.
“A população vai eventualmente tender a diminuir e ao diminuir, diminuem indivíduos que são mais velhos, mas que já não procriam, mas também diminuem os mais novos que também não vão procriar”, disse o especialista.
José Rueff deu o exemplo da Roma Antiga, onde a esperança média de vida era de 25 anos, para mostrar o quanto se evoluiu fruto da melhoria das condições de vida, das condições sociais, da qualidade da alimentação e da assistência e tecnologia médica, que permitem viver já quase 100 anos, mesmo que com doenças graves.
“Os cuidados médicos, os hospitais, as novas tecnologias médicas, de intervenção, de diagnóstico, fazem com que há 40 ou 50 anos os indivíduos morreriam muito mais cedo porque tinham por exemplo um cancro, veem agora a conseguir ter a sua vida mais prolongada. Os ingleses chamam de ‘Grey Generation’, a geração dos cabelos brancos”, explicou José Rueff, acrescentando que, ainda que variando de país para país, doenças graves, crónicas ou degenerativas não impedem que possam viver até mais de 90 anos.
Números da vacinação a subir
Já no que se refere à vacinação, o número de doses ministradas continua a subir. Segundo os últimos dados do ministério da Saúde, foram administradas 237.725 vacinas, ou seja, o equivalente a cerca de 2,26% da população.
De acordo com a monitorização da vacinação do site Bloomberg, Portugal está entre os 15 países do mundo com maior percentagem de vacinas administradas, num ranking liderado por Israel, com 38,05%.
De acordo com Ana Silva, coordenadora do Programa de Vacinação do ACES PL, na região do Pinhal Litoral, prevê-se que nos lares da região e para os profissionais de saúde, a primeira dose da vacina será administrada até fim de janeiro e a segunda, até meados de fevereiro.
Com Lusa