Foi a felizarda primeira vacinada desta manhã e tem um apelido adequado para a ocasião. Joaquina Felizardo, de 97 anos, utente da USF D. Diniz – a unidade escolhida para fazer este ensaio -, não estava destinada a ser a primeira vacinada da manhã que marcou o arranque da vacinação de maiores de 80 anos, mas o atraso do primeiro inscrito – que chegou uns minutos depois da hora marcada – providenciou a coincidência do apelido com o adjetivo do dia.
“Já tomei tantas [vacinas], é só mais uma”, refere ao REGIÃO DE LEIRIA, Joaquina Felizardo, na sala de recobro, acompanhada de outros utentes que já foram vacinados. Aí, aguardam cerca de 30 minutos para precaver qualquer reação adversa à vacina. Algo que, explica Ana Silva, coordenadora da vacinação do ACeS Pinhal Litoral, não tem acontecido.
“Já tenho levado tantas [vacinas] esta é só mais uma e a enfermeira foi impecável”, reforça a dona Joaquina. “Já era hábito fazer vacinas, porque não haveria de fazer esta?”, sintetiza a sua filha, Elisabete Felizardo, que acompanhou a mãe neste arranque da vacinação para maiores de 80 anos de idade.
Com a vacina, “ficamos mais descansados porque [os idosos] têm outra proteção que não tinham até aqui”, reforça. A mãe, conta Elisabete Felizardo, sempre reagiu bem à perspetiva de ser vacinada. É “uma pessoa muito atenta” e tem acompanhado as notícias: quando a filha a informou que esta sexta-feira chegaria a sua vez de ser vacinada, “ela disse que estava bem. Nunca disse que não”.
Momentos mais tarde, chega a vez de Maria José Feijoeira, da Mata dos Milagres, de 95 anos. Responde à chamada e entra na sala de vacinação para tomar a vacina contra a Covid-19, acompanhada pelas filhas Susana Maria Chambino e Maria da Glória Lopes.
A vacina traz consigo mais descanso, pois os últimos tempos foram de mil cuidados para tentar fintar a pandemia. A vacina, considera a filha mais velha da dona Maria, “é importante, penso que será o melhor para ela”. “Temos mil e um cuidados com ela para não apanhar nada, mesmo em casa… tem estado em casa das filhas e andamos sempre com cuidado”, acrescenta Maria da Glória Lopes.
A noite foi mal dormida. A dona Maria, “durante a noite esteve um pouco agitada, às quatro da manhã não dormiu, mas agora está mais calma”, explica Susana Chambino, uma entre os cinco filhos de Maria José Feijoeira. Está mais calma de facto. De tal forma que, a pedido da filha, entoa uma canção, o hino da Maria da Fonte.
Enquanto aguarda pela ordem para poder rumar a casa, desfia o verso cantado: “Eia avante, Portugueses! / Eia avante, não temer!/ Pela santa Liberdade, Triunfar ou perecer!”. Enquanto engana o tempo, acaba por cantar aquele que podia bem ser o mote da vacinação, combate em curso, espaçado pela disponibilidade de vacinas.
E foi no estádio de Leiria que, esta manhã, arrancou a vacinação de 204 pessoas. Foi um teste para o modelo adotado e para a sua próxima replicação nos concelhos do agrupamento de centros de saúde, explica Ana Silva.
Apesar da azáfama e do rebuliço acrescentado pela presença da comunicação social, o processo desenrolou-se com rapidez e normalidade.
“A vacinação deste grupo etário é uma lufada de ar fresco. Estes idosos estarem vacinados é um sossego para as famílias, que começam a ir a casa dos pais sem medo de os contaminar”, reforça Ana Silva.
A vacinação que hoje arrancou nos camarotes VIP e a zona presidencial do Estádio Dr. Magalhães de Pessoa, é “um passo importante porque este grupo etário tem sido a maior vítima desta pandemia. Preocupa as famílias, porque estas pessoas, muitas delas, vivem sozinhas, necessitando do apoio da família que não pode estar toda a vida confinada e tem de ir trabalhar e ao fim do dia prestam cuidados aos pais em casa”, adianta a médica de saúde pública.
Com cerca de sete mil vacinas já administradas na área do ACeS Pinhal Litoral, a coordenadora de vacinação garante que haverá capacidade de vacinação quando o ritmo de chegada das vacinas for mais intenso. “À medida que as vacinas vão chegando serão consumidas semanalmente”, assegura.
Embora ao esforço nacional de vacinação tenha sido adicionada recentemente a vacina da AstraZeneca, ela não foi direcionada para o grupo etário que hoje foi vacinado. No entanto, será utilizada já esta segunda-feira num processo de vacinação de 240 bombeiros, com idades inferiores a 65 anos.
O estádio de Leiria ganhou uma nova função que não estava, naturalmente, pensada quando foi redimensionado. Reconstruído para um torneio europeu de futebol, recebe agora a operação de vacinação, para além de já ter sido palco de testagens e recolhas de sangue, entre outras valências.
Satisfeita com o modelo ensaiado no Estádio de Leiria, Ana Silva adianta que será levado em conta para “replicar noutros concelhos”, processo que arrancará “assim que as vacinas cheguem”.
E no terreno, esse é um cenário aguardado com ansiedade. “Todos os municípios estão focados para dar o contributo neste processo de vacinação, e estamos a gerir com enorme expectativa aquilo que é a receção de vacinas, hoje recebemos 204 vacinas num projeto piloto e nas próximas semanas chegará a outros concelhos e outro tipo de população”, refere o presidente da Câmara de Leiria, Gonçalo Lopes, reportando-se ao território da Região de Leiria, Comunidade Intermunicipal a que preside.