Os Corvos do Lis são mestres em xadrez mas também a ensinar cidadania pelas artes. Todos os anos as Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC) da associação de Leiria chegam a cerca de 500 alunos das escolas do Agrupamento Correia Mateus e incluem Arte e Cidadania: através do exercício artístico convidam-se os alunos a refletir sobre questões imprescindíveis para a vida em sociedade.
MotivArte, lançado em 2016 e a funcionar em Leiria e também em Loures, está na origem de ConfiArte, projeto de formação reconhecido e apoiado pela Direção Geral das Artes (DG Artes) com 15 mil euros para criação e desenvolvimento de públicos.
Mas o que torna esta proposta dos Corvos do Lis especial e merecedora de investimento público? “Todos os anos há um projeto que junta arte e cidadania mais ou menos explicitamente. O que nos interessa é o que as crianças levam. Cidadania não é matéria que as crianças decorem”, explica Rita Basílio, coordenadora pedagógica dos Corvos do Lis.
Pela criação artística levam-se os alunos até questões como a igualdade de género, ambiente ou direitos humanos, sempre com um objetivo final que faça com que o que é criado saia da sala de aula. Pode ser uma exposição no museu mimo ou a projeção de um filme de animação, como “Valdemar”, que foi apresentado no Teatro José Lúcio da Silva. “Quando há um objetivo, empenham-se mais”, frisa Rita Basílio, lembrando as primeiras AECs:
“Sentíamos que as crianças estavam lá para pintar uns desenhos e fazer umas coisas…”.
Os Corvos lutam para mudar esse estado de espírito nas AECs. Este ano uma das metas é construir um mapa dos direitos humanos. “Cada pessoa escolhe um direito humano e faz um quadro, um objeto, sobre como vê esse direito. Isso acabará por fazer um quadro de todos os direitos humanos, de várias formas artísticas”.
Depois de anos a trabalhar em AECs, onde “o contexto não é o mais maravilhoso”, o apoio da DG Artes a ConfiArtes permitirá transmitir a outros professores estratégias nacionais e internacionais – “não inventámos nada” – para trabalhar a cidadania pelas artes, sempre com apoio de formadores especializados em artes plásticas e cidadania.
A DG Artes raramente apoia projetos na área da formação de públicos, mas a proposta dos Corvos do Lis mereceu elogios pela “consistência”, importância para a “disseminação de novos públicos”, “capacidade de internacionalização” e “abertura de todos os resultados”.
“Ficámos muito felizes por nos terem selecionado”, admite a coordenadora pedagógica dos Corvos do Lis, que tem identificado efeitos nos participantes de MotivArte. “Vemos resultados no empenho das crianças. Se pensarem questões de cidadania fazendo, que é fundamental para aprender, torna-se mais intrínseco”.
Com abrangência até 2022, ConfiArte aguarda indicações da DG Artes para arrancar. Os Corvos do Lis vão fazer formação de professores e realizar ações no Montijo, Lisboa e Torres Vedras e ainda não desistiram de incluir Leiria no plano. Mas a pandemia vai definir até onde chegará este plano, que também ajuda a lidar com os dilemas da pandemia, sublinha a coordenadora:
“A arte é uma forma de escapar e resolver questões de confinamento. A arte permite a cada um contribuir para uma exposição que depois será comum. A arte dá sempre possibilidade de estarmos ligados aos outros”.