A energia de sempre esmoreceu – e esse é o principal sintoma da doença sentido pela arquitecta. Em casa foi preciso reinventar o quotidiano. O futuro? “Nada será como dantes. Vai ser preciso reinventar muitos arquétipos de vida”
As cautelas no Natal terão sido insuficientes: jantar de quatro pessoas dia 24 e de nove em três mesas dia 25, “sempre com uso de máscara nos momentos seguintes e troca de presentes sem contactos”. Mas o SARS-Cov-2 apanhou Ana Bonifácio. A confirmação veio a 15 de janeiro, após os sintomas no fim de semana anterior. “Tinha dores abdominais e dores de cabeça que perduraram mais de uma semana…”.
A arquitecta natural de Leiria, a viver em Lisboa, recuperou em casa. Entre casos negativos e positivos debaixo do mesmo teto, foi preciso “reinventar o quotidiano”. Esperou horas por respostas da sobrecarregada linha Saúde 24, mas foi acompanhada pelo rastreamento do serviço militar e pelo centro de saúde da área de residência. “Estava tudo a funcionar e senti confiança”.
Depois das dores generalizadas pelo corpo durante duas semanas e da perda do olfato, que persiste, Ana Bonifácio diz que o mais difícil foi a perda de energia, que ainda sente. “Tive realmente dificuldades em manter-me de pé…”.
Dia 27 de janeiro teve alta, por telefone, mas por precaução fez novo teste. “Continuei positiva até ao dia 11 de fevereiro”. E teme novo contágio. “Não se sabe exatamente quanto tempo se fica imune. A vacinação é realmente fundamental agora”. Como ex-doente, percebe que tem de esperar.
A pandemia vai alterar tudo. “Perdemos pessoas. Amigos e família. Como não deixar marcas?”. A par da crise económica, social, há a depressão: “Mesmo que o vírus não lhes tenha chegado, há pessoas a lutar cada dia por manter a normalidade em cima da mesa. Há miúdos a ter aulas no carro. Há toda uma lição de assimetrias sociais”. Por tudo isto, “esta doença traz também a doença mental a reboque”.
Maria Helena Dias disse:
Fiz a assinatura do RL na semana passada, e não consigo ler o jornal . Como devo fazer?