Pouco ou nada mudou na última década no mundo dos brinquedos para crianças especiais, apesar do projeto “Mil Brinquedos Mil Sorrisos” ter atravessado fronteiras e oceanos.
Faz no próximo domingo 13 anos que o Politécnico de Leiria, através do Centro de Recursos para a Inclusão Digital (CRID) da Escola Superior de Ciências e Educação (ESECS), entregou os primeiros 200 brinquedos adaptados a instituições de Leiria ligadas à deficiência.
O projeto surgiu para potenciar a inclusão e a equidade, proporcionando às crianças especiais a possibilidade de brincarem com brinquedos que possam manusear. E conseguiu em parte, ainda que não tenha atingido um dos principais objetivos que passa por uma alteração legislativa com vista à disponibilização generalizada de brinquedos adaptados no mercado.
Através da campanha “Mil Brinquedos Mil Sorrisos” foi possível recolher cerca de 5.000 brinquedos com um sistema eletrónico simples e transformá-los com a instalação de um interruptor externo que aciona o seu funcionamento. O processo de adaptação contou desde o início com a colaboração e solidariedade de estudantes e professores voluntários do Departamento de Engenharia Electrotécnica da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) de Leiria.
Segundo Célia Sousa, coordenadora do CRID e mentora deste projeto, foi possível beneficiar até ao momento 231 instituições. Em 2015, a campanha foi distinguida com o prémio “Empreendedorismo Social”, em 2017 foi replicada na Universidade Feevale e na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no Brasil, e vai agora ser replicada na do Rio de Janeiro.
Por cá, o projeto parou com a pandemia mas pretende ser retomado logo que possível com maior envolvimento da comunidade e sensibilização para “as questões da acessibilidade, inclusão e equidade”.
“Apesar deste projeto já ter atingido a adolescência, ainda está longe de cumprir uma das suas metas: a alteração da legislação em Portugal”, sublinha Célia Sousa. Reportando-se à Declaração das Nações Unidas dos Direitos da Criança que consagra o direito de brincar a todas as crianças, lamenta a existência de “uma grande incongruência” uma vez que os espaços comerciais continuam a não vender brinquedos adaptados, não obstante “os pais e os familiares destas crianças terem o direito de comprar brinquedos de acordo com as suas capacidades”.
“É uma questão de equidade”, afirma, defendendo uma iniciativa legislativa nesta matéria.