Desfazer mitos
A ideia de que o envelhecimento está irremediavelmente associado a uma perda de capacidades físicas, cognitivas, emocionais e sexuais é falsa. Pode haver um envelhecimento saudável, com uma vida equilibrada e ativa, incluindo no campo sexual, embora com modificações próprias para cada idade. É também errado assumir que a disfunção sexual faz parte do envelhecimento, que é irremediável e não tem solução. Um plano terapêutico adequado, podendo incluir medicamentos, pode repor uma sexualidade plena.
Andropausa está para os homens como a menopausa para as mulheres?
As modificações hormonais fazem parte do envelhecimento. Contudo, a utilização do termo andropausa no homem é biológica e fisiologicamente incorreta. Ao contrário da mulher, em que durante a menopausa há uma paragem brusca na ovulação e na produção de hormonas sexuais gonadais, no homem tal não se verifica. A produção de testosterona diminui progressivamente ao longo dos anos, mas sem nunca cessar e, mesmo um homem de 80 ou 90 anos produz espermatozóides. Será por isso mais correto usar os termos síndrome de deficiência de testosterona, deficiência androgénica associada ao envelhecimento ou hipogonadismo masculino de início tardio.
Como se manifesta?
Alguns homens têm valores sanguíneos de testosterona baixos e não têm qualquer sinal ou sintoma enquanto que outros, com valores “normais”, têm manifestações clínicas. Por outro lado, os sintomas associados a níveis reduzidos de testosterona podem ser causados por doenças psicogénicas como depressão, ou físicas como diabetes, insuficiência renal, doenças da tiróide ou oncológicas, como também por medicamentos ou consumo excessivo de álcool. A diminuição da testosterona pode ainda ser secundária a doenças, como a síndrome da apneia do sono, e medicamentos, como anti-androgénios.
Quais são os principais sintomas?
As queixas podem incluir cansaço e astenia, diminuição da força e da “energia”; alterações na função sexual (diminuição do desejo sexual, disfunção erétil, infertilidade); alterações físicas (aumento da gordura corporal, diminuição da massa muscular, osteoporose); distúrbios do sono (insónias, aumento da sonolência); ou alterações emocionais (depressão, sensação de tristeza, perda da motivação, problemas de concentração e de memória).
Do que pode depender a intensidade dos sintomas?
As manifestações clínicas são muito diversas e não há fórmula que as permita prever dado que dependem de um conjunto de variáveis, tais como a qualidade testicular prévia, a existência de outras doenças, o perfil psicológico, a medicação, os hábitos alimentares, o estilo de vida mais ou menos ativo, bem como do próprio conhecimento da existência deste problema.
70
Em geral, homens mais velhos têm níveis mais baixos de testosterona. Há um declínio progressivo desta hormona com a idade, de forma subtil a partir dos 40-45 anos, de forma mais acentuada a partir dos 70 anos
Quando é que o recurso ao médico é recomendado?
No caso de homens sem queixas e sem história médica relevante, uma primeira consulta aos 50 anos, para avaliação clínica basal, informação sobre as doenças do homem, identificação de fatores de risco, e adoção de medidas preventivas e promotoras da saúde. Havendo queixas, a procura do médico não deve ser adiada para se poder fazer uma avaliação completa e um diagnóstico correto com um plano terapêutico apropriado. Convém relembrar que as queixas podem ser causadas por múltiplas doenças, algumas delas potencialmente graves.
Como tratar ou aliviar os sintomas?
Se se confirmar o diagnóstico de deficiência androgénica, a terapêutica passará por identificar e corrigir as causas secundárias de défice de testosterona; terapêutica farmacológica com testosterona, desde que esta não esteja contraindicada (a testosterona pode ter efeitos adversos graves se prescrita de forma inapropriada a doentes com algumas condições clínicas); terapêutica farmacológica adicional para algumas manifestações clínicas, nomeadamente para a disfunção erétil. É também indispensável um plano não farmacológico, principalmente sobre o estilo de vida, que inclua um plano alimentar adequado e atividade física regular, adequada à condição de cada doente.
O tema ainda é tabu?
Há muito desconhecimento relativamente a este tema, o que leva a que muitos homens não procurem ajuda. A isso acresce a vergonha que alguns homens sentem ao falar de assuntos como diminuição da líbido e disfunção erétil.
(Artigo publicado originalmente no Diretório de Saúde 2020 do RL, onde pode encontrar esclarecimentos de especialistas sobre outros temas)