“Nas situações agudas, iniciais, de faringite, amigdalite e laringite, se os sintomas forem apenas de garganta irritada, discreta alteração da voz, catarros simples ou febre facilmente controlável, poderá vigiar a sua situação recorrendo aos antipiréticos e anti-inflamatórios, mas sempre sob orientação médica“
O que distingue a faringite da laringite e amigdalite? Têm todas origem viral?
A faringite, a amigdalite e a laringite são inflamações comuns da via aérea superior, com ou sem etiologia infecciosa. A maioria destas inflamações são virais e limitadas no tempo.
A que se devem?
Existem causas (gerais e locais) de predisposição para a inflamação e causas precipitantes da inflamação. Integram o primeiro grupo o clima, estação do ano, temperatura, poluição, poeiras e ar condicionado, bem como a diabetes, imunodeficiência, anemia, deficiência de ferro, agranulocitose, alergias, sarcoidose, hipotiroidismo e avitaminose A. A respiração bucal, o refluxo gastro-esofágico, o tabaco e abuso vocal são, por sua vez, causas locais de predisposição. As causas precipitantes dividem-se entre as infecciosas (bacterianas, víricas, fúngicas e parasitárias) e não infecciosas (como a irritação química, as queimaduras, os corpos estranhos). A distinção entre infeção vírica e bacteriana nem sempre é fácil.
Os sintomas podem ser semelhantes?
A sensação dolorosa, de “arranhar” ou de calor na garganta, a disfagia (dificuldade em engolir), a odinofagia (dor ao engolir), a otalgia (dor de ouvido), ou sensação de catarro (necessidade de limpar a garganta) indicam habitualmente envolvimento da faringe e/ou das amígdalas. A tosse, a rouquidão, o catarro, a dificuldade dolorosa ou não para falar e o estridor (ruído inspiratório) estão associados ao envolvimento da laringe.
Como se manifestam?
A faringite manifesta-se principalmente por garganta irritada, habitualmente de início súbito, acompanhada por dor e dificuldade em engolir e febre. Poderão ainda surgir sintomas como cefaleias e aumento de volume dos gânglios linfáticos do pescoço. Nos casos virais haverá frequentemente associação com rinite, conjuntivite, diarreia ou tosse.
A amigdalite apresenta-se habitualmente com febre, garganta irritada, dificuldade e dor na deglutição e frequentemente na ausência de sintomas de coriza. A amigdalite crónica está menos bem definida e pode apresentar-se com sensação arrastada no tempo de garganta irritada, halitose, tosse arrastada e detritos nas criptas das amígdalas (caseum).
A laringite pode associar-se a uma infeção recente ou atual da via aérea superior (faringolaringite). Manifesta-se habitualmente por rouquidão ou dificuldade em falar. Nas formas agudas haverá febre com possível aumento de volume dos gânglios do pescoço. A laringite crónica terá um historial de meses ou anos de rouquidão, possível tosse crónica e azia, associadas a abusos de tabaco, álcool, refluxo gastro-esofágico e ainda abuso/mau uso vocal.
Como me posso proteger?
Evitando ambientes poluídos, locais com poeiras e exposição excessiva ao ar condicionado; fazendo revisões periódicas dos sistemas de ar condicionado (filtros,…); evitando mudanças bruscas de temperatura e vestindo roupa adequada à temperatura ambiente; e seguindo bons hábitos de vida (alimentares, exercício físico, “não fumar” e beber álcool com moderação).
A imunoterapia (vacinas para a gripe e para as infeções bacterianas da via aérea) poderá também ser usada como uma das formas de prevenção para estas infeções.
Só devo recorrer ao médico se tiver febre?
Nas situações agudas, iniciais, de faringite, amigdalite e laringite, se os sintomas forem apenas de garganta irritada, discreta alteração da voz, catarros simples ou febre facilmente controlável, poderá vigiar a sua situação recorrendo aos antipiréticos e anti-inflamatórios, mas sempre sob orientação médica. Deverá ainda aumentar a hidratação oral, evitar consumir líquidos gelados ou muito quentes, recorrer eventualmente aos colutórios para gargarejos, e fazer lavagens nasais com soro fisiológico nas situações que se acompanhem de corrimento posterior e/ou nariz com secreções. Se a situação se arrastar ou se surgirem sintomas mais agressivos como dificuldade em engolir, em respirar ou qualquer edema do pescoço, deve recorrer rapidamente ao seu médico assistente. Todas as situações crónicas com mais de duas semanas de evolução, como a rouquidão e a dificuldade em engolir, ulcerações da mucosa da faringe, massas duras e palpáveis no pescoço, devem ser sempre avaliadas brevemente por um médico da especialidade de otorrinolaringologia.
Qual o tratamento para cada patologia?
O tratamento farmacológico destas patologias, quando necessário, deverá ser sempre de orientação médica.
Quais os riscos de evolução?
Qualquer uma destas patologias infecciosas poderá complicar-se nas situações agudas, quer localmente (como por exemplo com abcessos) quer à distância (como por exemplo a glomerulonefrite aguda ou a endocardite bacteriana). A gravidade destas complicações poderá ir desde situações de fácil resolução até situações que originem sequelas graves e possam colocar a vida em risco, felizmente raras. As complicações destas patologias são habitualmente evitáveis com os cuidados médicos adequados.
(Artigo publicado originalmente no Diretório de Saúde 2018 do RL, onde pode encontrar esclarecimentos de especialistas sobre outros temas)