É com recurso a Francisco Sá Carneiro que um grupo de militantes e simpatizantes de Leiria do PSD se manifesta contra a escolha do candidato social-democrata à Câmara de Leiria, mostrando-se “indisponível para a suportar”.
“Saber estar e romper a tempo, correr os riscos da adesão e da renúncia, pôr a sinceridade das posições acima dos jogos pessoais, isso é política que vale a pena”, dizem, citando o fundador do PSD, numa entrevista ao Diário de Notícias, em junho de 1974.
Numa carta, a que o REGIÃO DE LEIRIA teve acesso, um grupo de 132 militantes e simpatizantes social-democratas de Leiria recorda que a estrutura nacional do partido não valorizou a mensagem que enviaram no final de fevereiro, ao presidente do partido, “alertando-o para a existência de movimentações que indiciavam a imposição da candidatura de alguém que não merece o apoio do PSD em qualquer circunstância e para qualquer lugar”.
“Constatamos agora que não foi valorizada, como era expectável, a vitória alcançada nas anteriores legislativas, prova evidente de que os valores da social-democracia têm colhimento maioritário em Leiria. Foi ignorada a fragilidade da candidatura socialista e as reservas que suscita em largos sectores da comunidade. Uma candidatura social-democrata forte, prestigiada junto da comunidade e com um programa claro de desenvolvimento do Concelho – que contrastasse com o ‘pão e circo’ socialista – suscitaria certamente a adesão de largos sectores da sociedade leiriense podendo, quiçá, almejar a vitória: difícil mas possível. Não foi este o caminho escolhido”, refere o documento.
Na origem desta carta está o anúncio da candidatura de Álvaro Madureira, presidente da concelhia do PSD/Leiria, divulgado na passada quarta-feira, e que tem merecido a contestação de militantes e que também não acompanha a posição da própria Comissão Política Distrital.
“Precisava-se de um projecto com capacidade política, com reconhecimento social, com procura do bem comum e com espírito de serviço à comunidade. Também por isso, não nos revemos nesta escolha, não nos revemos na condução deste processo”, indica o documento.
E a crítica à opção por Álvaro Madureira vai mais longe: “A escolha do presidente da Comissão Política de Leiria para encabeçar a lista candidata à Câmara Municipal constitui um péssimo serviço ao PSD e a Leiria quer porque tal pessoa não reúne as características mínimas para dignificar uma candidatura do Partido Social Democrata, quer porque o seu passado revela que não tem qualquer noção do que seja serviço público quer, ainda, porque é o melhor serviço que se poderia prestar ao PS. É impossível ficar indiferente perante esta lamentável escolha, que não serve os interesses do PSD e acima de tudo de Leiria e do seu concelho”.
Os militantes e simpatizantes do Partido Social Democrata dizem ser sua obrigação assumir “publicamente a sua discordância perante a dita candidatura à Câmara Municipal de Leiria e a sua absoluta indisponibilidade para a suportar”, comprometendo-se a “desenvolver, no tempo devido, todos os esforços para devolver o PSD de Leiria à sua matriz social-democrata, pondo fim a esta lamentável deriva em que os interesses de alguns anulam e substituem o interesse comum”.
Álvaro Madureira é vereador da Câmara de Leiria desde 2013. Nesse ano encabeçou a lista do PSD à Câmara de Leiria, depois da desistência do candidato anunciado, o advogado Gastão Neves, na sequência de divergências com a estrutura partidária.
Já nas últimas autárquicas, em 2017, o PSD desceu de quatro para três vereadores. Nestas eleições, Álvaro Madureira foi o número dois na lista liderada por Fernando Costa, ex-deputado e antigo presidente da Câmara das Caldas da Rainha.
Foto de arquivo: Joaquim Dâmaso