“Há uma pandemia silenciosa de doença mental”, constata Inês Pinto, médica de família na USF Polis, em Leiria, referindo que se tem deparado com novos diagnósticos, “até em adolescentes”.
As repercussões da pandemia na saúde mental são inegáveis, e não faltam evidências do aumento de casos de perturbações da ansiedade e depressivas. “Tem sido avassalador”, testemunha a especialista, dando conta de mais casos de perturbações do sono e insónias, ansiedade generalizada e fobias, aumento que associa também ao agravamento da situação económica e social de muitas famílias.
“As pessoas estão desesperadas”, adianta ao REGIÃO DE LEIRIA, frisando que tem referenciado mais utentes para os serviços de Psiquiatria e Saúde Mental e de Pedopsiquiatria do hospital nos últimos meses.
E se o número de psicólogos afetos aos centros de saúde já era escasso, passou a ser visivelmente insuficiente para dar resposta a todas as necessidades. No início do mês, já o bastonário da Ordem dos Psicólogos (OP), Francisco Miranda Rodrigues, alertava para o problema.
“O acesso aos serviços nesta área continua muitíssimo reduzido e continua sem ter uma solução”, referiu, denunciando o número “muito reduzido” de psicólogos nos centros de saúde.
“E não é por não existirem em Portugal profissionais qualificados”, notou. “O país tem 24 mil psicólogos, apenas mil estão no Serviço Nacional de Saúde (SNS), e cerca de 250 estão nos centros de saúde. Portanto temos aqui um problema que continua a existir e cria desigualdades no acesso nesta área”, destacou, citado pela agência Lusa. “Quando falamos em centros de saúde, não existe um psicólogo por concelho”, acrescentou.
Quanto ao estigma que envolve a saúde mental, o bastonário da OP considera que é combatível através da disponibilização de acessos, dando como exemplo a linha de aconselhamento psicológico do SNS24 que recebeu cerca de 75 mil chamadas, desde que foi criada, em 2020.
“Como me sinto”: checklists para crianças, jovens, adultos…
Para ajudar as pessoas a identificar alguns sinais de alerta, a Ordem dos Psicólogos (OP) desenvolveu testes que poderão revelar alguns indícios sobre a saúde psicológica das crianças e adolescentes, jovens e adultos, mas também dos profissionais de saúde, cuidadores informais e seniores.
No caso das crianças e adolescentes, a checklist “Como me sinto” pode ser preenchida por pais, cuidadores ou professores, ajudando-os a refletir “sobre a forma como a criança ou adolescente tem estado a pensar, a sentir e a comportar-se recentemente”, refere a OP, frisando que os resultados “não constituem, de forma alguma, uma avaliação ou diagnóstico psicológico“.
“Independentemente dos resultados, se está preocupado com a Saúde Psicológica da criança ou adolescente,
procure ajuda profissional”, recomenda a OP, que propõe outras checklists para jovens, para adultos, para cuidadores informais, e para cidadãos seniores, sempre com a mesma salvaguarda. para
Teste a sua saúde mental
A Escola de Medicina da Universidade do Minho e o Centro de Medicina Digital P5 lançaram, no final do último verão, uma plataforma gratuita (saudemental.p5.pt) que permite fazer uma autoavaliação da saúde mental, monitorizando sintomas ansiosos e depressivos. Embora o resultado não constitua um diagnóstico, pode ajudar a identificar sinais de alerta que denunciem a necessidade de ajuda médica.
A webapp, desenvolvida no âmbito do projeto “Promover a saúde mental durante a pandemia”, disponibiliza ainda ferramentas de gestão emocional e melhoria do sono, atividades de promoção de bem-estar e de relaxamento, entre outras.
Saiba mais sobre este e outros temas de saúde no Diretório de Saúde 2021 que o REGIÃO DE LEIRIA publicou na última semana com a edição semanal do jornal. Pode ainda aceder a estes e outros conteúdos aqui e ouvir o podcast semanal “Mentes Inquietas” que o REGIÃO DE LEIRIA dedica à saúde mental de adultos e crianças.