A designada Operação Triângulo conheceu esta sexta-feira novos capítulos, com o empresário Carlos de Matos a afirmar em comunicado a sua inocência, algumas horas depois de ter conhecido as medidas de coação decretadas pela justiça no âmbito da investigação à venda de um terreno municipal em Monte Gordo, no Algarve.
Por sua vez, António Gameiro, deputado do PS, um dos políticos envolvidos no processo, anunciou que desiste de se candidatar a presidente da Câmara de Ourém, demitindo-se ainda da liderança dos socialistas do concelho.
Depois de ter sido detido na terça-feira, Carlos Matos foi presente ao juiz na quinta-feira e acabou por sair em liberdade, embora sujeito a medidas de coação, nomeadamente a “proibição de permanência nas instalações ou edifícios da Câmara de Vila Real de Santo António” e a “entrega de caução no valor de 300 mil euros”. Ficou ainda proibido de contactos diretos e indiretos com os demais arguidos, à exceção do seu irmão e diretor financeiro, Vitor Matos.
Carlos Matos está indiciado por “um crime de corrupção ativa de titular de cargo político”, na sequência de uma investigação da Polícia Judiciária, após denúncias relativas à gestão da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, liderada por Conceição Cabrita, do PSD, que ontem acabou por renunciar ao seu mandato, com efeitos imediatos, ficando a aguardar julgamento em liberdade, mas submetida a diversas medidas de coação.
A Operação Triângulo tenta apurar “factos suscetíveis de integrarem a prática dos crimes de corrupção, recebimento indevido de vantagem e abuso de poder”, havendo “suspeitas de atuação ilícita de titular de cargo político, que beneficiou da colaboração de funcionários, bem como outros intervenientes, na intermediação de um negócio, de compra de imóvel, propriedade do município, na praia de Monte Gordo”, conforme comunicado da PJ, na passada terça-feira.
“Não pagámos subornos a ninguém nem planeámos pagar, não precisamos disso nem é essa a nossa forma de agir”, refere o empresário Carlos Matos em comunicado enviado às redações ao final da tarde desta sexta-feira. O empresário nega ainda que tenha feito pagamentos no âmbito do processo, como foi noticiado por alguns órgãos de informação. “O único pagamento que efetuámos foi à Câmara, o que foi contratado, correspondente a 50% do valor do terreno, que antes foi objeto de duas hastas públicas que ficaram desertas”, afirma.
No mesmo comunicado, Carlos Matos expressa ainda a sua “revolta” por “ter estado dois dias detido para ser ouvido por um juiz, quando nada fez de ilegal, irregular ou condenável”. Citado no documento, refere: “ao longo de 26 anos de operação na região de Paris desenvolvemos várias dezenas de empreendimentos, no valor de milhares de milhões de euros, lidando com dezenas de municípios e autarcas, e nunca estivemos envolvidos ou fomos suspeitos ou acusados de quaisquer irregularidades ou ilegalidades”.
Lamenta ainda que tanto ele como a empresa que fundou “tenham sido envolvidos neste processo, quando foram gravemente lesados pela Câmara Municipal de Vila Real de Santo António no negócio que está em causa e que se preparavam para reverter, por considerarem que a autarquia não estava a cumprir o contratado”. Classifica igualmente de “inaceitável que tenha sido detido, ainda que apenas para ser ouvido por um juiz”, sem que em momento prévio lhe tenha sido dada a oportunidade de se defender e de “colaborar com a investigação”.
António Gameiro retira candidatura à Câmara de Ourém
No campo das implicações políticas, o deputado socialista António Gameiro, que tinha, recentemente, anunciado a candidatura à Câmara de Ourém, comunicou hoje que a retirou. Demitiu-se ainda da presidência da Concelhia e vai apresentar a demissão do Conselho de Fiscalização do Sistema Integrado de Informação Criminal.
“Retiro a minha candidatura à Câmara de Ourém, demito-me, igualmente, de presidente da Concelhia do PS de Ourém e apresentarei, com efeitos ao dia de hoje, a minha demissão do Conselho de Fiscalização do Sistema Integrado de Informação Criminal”, que funciona junto da Assembleia da República, afirmou à agência Lusa António Gameiro.
“Esta minha decisão prende-se com o facto de, perante a situação que estou a viver, ser meu dever afastar o PS, os oureenses e a função de conselheiro deste processo”, explicou António Gameiro, que tinha anunciado a candidatura ao município do distrito de Santarém no domingo, na sua página pessoal do Facebook.
O socialista adiantou que vai manter o lugar de deputado, justificando a sua opção com o facto de acreditar que “a presunção de inocência relativamente ao cargo se mantém, dado que a minha intervenção neste processo foi pessoal e profissional”, declarou o parlamentar à Lusa.
António Gameiro reiterou estar “de consciência tranquila, aguardando serenamente ser ouvido pelas instâncias judiciais” para se “poder defender e esclarecer toda esta situação”
Oito arguidos em caso que envolve autarca de Vila Real de Santo António
O processo por corrupção que levou à detenção da presidente da Câmara de Vila Real de Santo António, Conceição Cabrita, assim com outras três pessoas, tem um total de oito arguidos, quantificou hoje a Procuradoria-Geral da República (PGR).
A agência Lusa questionou a PGR sobre o número exato de arguidos no caso, depois de o juiz presidente da Comarca de Évora ter informado os jornalistas da existência de cinco arguidos, na noite de quinta-feira, e o Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Évora ter avançado em comunicado que são oito os arguidos no processo.
“O inquérito tem oito arguidos constituídos, um dos quais uma pessoa coletiva. Um dos quatro arguidos detidos e presentes ao juiz de Instrução Criminal é o representante legal da pessoa coletiva. Assim, a diligência que ontem [quinta-feira] terminou respeitou a cinco arguidos: os quatro detidos e a pessoas coletiva. Para além destes, o inquérito tem mais três arguidos”, esclareceu a PGR à Lusa, sem revelar os nomes ou os crimes de que estão indiciados os restantes três arguidos. Entre eles está Vítor Matos, diretor financeiro do grupo Saint-Germain, que por esse motivo foi constituído arguido, permitindo assim a realização de buscas por parte das autoridades, bem como a entrega de documentação diversa. O REGIÃO DE LEIRIA apurou que a sua ligação ao processo começa e termina aí, não havendo nenhuma ligação com o facto de ser presidente da Junta de Freguesia de Regueira de Pontes. Contrariamente ao que chegou a ser noticiado por uma estação de televisão, Vítor Matos não foi detido nem ouvido pelas autoridades.
Com Agência Lusa