Um dos proprietários dos terrenos onde foi construído o complexo de ténis, em São Romão, disse hoje ao Tribunal de Leiria que “nunca” teve “problemas com o clube, mas só com a Câmara”.
Arlindo Lisboa Moniz está acusado pelo Ministério Público de Leiria de seis crimes de dano qualificado, por cortes de árvores municipais e estrume deitado nos campos.
Segundo o despacho do Ministério Público (MP), a que a agência Lusa teve acesso, o arguido terá tido várias ações de corte de árvores plantadas pelo município de Leiria e deitado toneladas de estrume nos campos, que são geridos pelo Clube Escola de Ténis de Leiria (CETL) desde 2014, obrigando-o, por diversas vezes, a suspender a sua a atividade.
“Nunca estive zangado com o [clube] ténis. Estava zangado com a câmara. Senti-me humilhado e gozado, porque cumpri o protocolo e a autarquia não e nem compareceu na escritura. Nenhuma das minhas ações teve intenção de prejudicar os utentes do campo de ténis, hoje são eles que me dão a água para a rega”, revelou à juíza do Tribunal Judicial de Leiria.
O arguido, 63 anos, admitiu que cortou as árvores, depois da Câmara de Leiria “não ter cumprido a sua parte no protocolo” e “não ter comparecido para assinar a escritura”.
“Considerei o terreno meu outra vez. Aquilo eram árvores invasoras, não sei por que é que a acusação diz que eram para fazer sombra às pessoas. Até eram perigosas, porque as raízes saíram todas [solo]”, afirmou, reforçando que o terreno é seu e que já plantou cerca de 200 árvores.
Segundo disse, quando colocou os troncos a tapar a entrada de trás do complexo de ténis era com a “intenção de mostrar” que o terreno era seu.
Confrontado com o derrame de estrume, o arguido admitiu que o fez num terreno contíguo, assim como o corte de uma vedação do CETL. Ações que foram confirmadas em tribunal por um dos agentes da PSP que realizou o auto na altura e pelo ex-presidente do clube, Joaquim Dias.
O ex-dirigente referiu que o clube foi obrigado a suspender a atividade de mais de 150 alunos e suspender um torneio de padel, que “além de prestígio trazia uma receita de cerca de quatro mil euros”.
O julgamento prossegue no dia 10 setembro às 14 horas.
O município de Leiria pede uma indemnização de 111.946,76 euros a título de danos patrimoniais e o CETL pede a recompensa de três mil euros pelos danos causados.
O MP adianta que a Câmara de Leiria e a sociedade Leiria Polis (entretanto dissolvida) celebraram, em 2006 um protocolo com o proprietário de dois prédios, em São Romão, tendo “edificado o complexo municipal dos campos de ténis, infraestruturas de apoio e arranjos exteriores envolventes”.
Em 2008, o proprietário do prédio foi transmitido, por permuta, à sociedade Moniz&Ribeiro, Lda, participada e representada pelo arguido, Arlindo Lisboa Moniz.
“De tais factos emergiu um litígio entre o município de Leiria e a sociedade, por alegado incumprimento do protocolo”, estando a decorrer um processo judicial no Tribunal Administrativo e Fiscal de Leiria, lê-se no despacho de acusação.