Os textos de Paulo José Costa, escritos em março de 2020, nos primeiros tempos de confinamento, germinaram. Quase ano e meio depois, os frutos brotam agora em forma de exposição e de livro, a apresentar este sábado. Mas ao longo desta “estação” que nos impôs a reclusão, outros foram surgindo. Antes deles, contudo, “Nas suas Casas os Homens” cresceu à medida que a poesia convocava as ilustrações de Pedro André e a música de João Faria (reunida em disco no Bandcamp). Os três desenvolveram um projeto múltiplo, no meio de um ambiente “ora distópico, ora esperançoso”, uma atmosfera que “não estávamos preparados para vivenciar”, assume Paulo José Costa.
As diversas vertentes de “Nas suas Casas os Homens” revelam isso mesmo: o trabalho de cada um deles, recolhidos nas suas habitações, sem saber o que o futuro reservava; e encarando, simultaneamente, esse espaço individual como local de criação e fruição – mas também claustrofóbico. “Casa é um espaço onde nos sentimos confortáveis mas também onde nos sentimos aprisionados. Esta dictomia e paradoxo que vivemos é claramente a metáfora para a criação deste projeto”.
Um dos aliciantes reside precisamente aí: a possibilidade – e necessidade – de dar forma a algo numa atmosfera nova, um processo marcado por “grande frustração, grande mágoa, grande incapacidade de olhar o futuro de forma objetiva”, explicou o poeta em março deste ano, na primeira aparição de “Nas suas Casas os Homens”, em contexto da Ronda Leiria Poetry Festival.
Aí viram-se – lá está – os primeiros frutos desta colaboração entre o escritor, o ilustrador e o músico, numa exposição no Banco das Artes Galeria, que agora ganha nova vida na Galeria Manuel Artur Santos, no Mercado de Santana, impulsionada pela edição (da editora Hora de Ler) e pelo regresso da Feira do Livro a Leiria.
Realizando a intenção dos autores, o projeto assume novas dimensões, cumprindo um desígnio não-descartável e acrescentando camadas à combinação original de “três linguagens em interpretações sincréticas”, desenvolvidas de forma a permitir “rever o passado, sentir o presente e, não conseguindo transformar o futuro, de alguma maneira transformar-nos a nós de forma dinâmica e um pouco libertadora”, descreve Paulo José Costa. “Queria que tivesse uma função de revitalização”, algo que seja “transformador em sentido positivo”.
“Nas suas Casas os Homens” é apresentado este sábado, dia 26, às 18 horas, no Mercado Santana, com a presença dos autores e ainda dos convidados Irina Oliveira (cineasta), André Barros (compositor e músico), Hirondino Pedro (artista plástico) e Luis Marques da Cruz (realizador e argumentista). Na sessão serão lidos poemas, ouvidos temas sonoros, será visualizada uma instalação vídeo, entre outros momentos.
Do confinamento nasceu “Nas suas Casas os Homens”
Da poesia nasceu a ilustração, a música, um vídeo e uma exposição. Um encontro que sai da casa que é cada um dos autores para uma proposta múltipla revelada na Feira do Livro de Leiria.