Os triatletas portugueses João Silva e João Pereira asseguraram hoje que deram o máximo nos Jogos Olímpicos Tóquio2020, após terem terminado a competição nos 23.º e 27.º lugares, respetivamente.
“A prova foi bastante dura, pelo menos para mim e, sobretudo, na parte do ciclismo. Eu tive dificuldades nesse segmento e isso prejudicou-me um bocadinho na corrida. Mas, acho, foi um espetáculo bonito e, apesar de tudo, dei o máximo e, por isso, tenho de sair contente, apesar de não ter o resultado que procurava”, afirmou João Silva.
O atleta natural da Benedita, de 32 anos, foi 23.º na sua terceira participação olímpica, a 2.26 minutos do vencedor, o norueguês Kristian Blummenfelt, depois de ter nono em Londres2012 e 35.º no Rio2016.
“Acho que este percurso não me beneficia nada, atendendo às minhas características morfológicas – sou pequeno, não tenho muito peso, nem muita potência –, por isso tinha grande esperança que a parte da bicicleta não fosse tão dura, para tentar fazer a diferença na corrida. Não foi assim, foi sempre ao máximo desde o início e resultou num grande espetáculo”, avaliou João Silva.
Já João Pereira, de 33 anos, que tinha sido quinto nos últimos Jogos Olímpicos, terminou a prova no 27.º posto, a 2.59 minutos do vencedor.
“Queria melhorar o quinto lugar do Rio2016, mas quarto é que jamais queria ser. Soube-me bem trabalhar estes cinco anos, com todos a acreditarem e a quererem muito. Infelizmente, não foi possível, mas acho que o caminho foi bastante agradável e isso deixa-me bastante esperançoso e tranquilo”, assegurou o triatleta natural das Caldas da Rainha.
O triatleta recordou as dificuldades sentidas após o Rio2016, nomeadamente a rutura dos músculos isquiotibiais da coxa esquerda sofrida numa queda, em novembro de 2019, para agradecer o apoio que sentiu por parte do Comité Olímpico de Portugal (COP), da Federação de Triatlo de Portugal (FTP) e, sobretudo, do Benfica.
“Depois de 2016, tive um momento bastante baixo, apesar de o resultado ter sido bastante bom, e senti que precisava de uma mudança. Nós, atletas em Portugal, vivemos dos resultados e umas vezes consegui resultados bons e outros não, mas dei sempre o meu melhor”, sublinhou.
E, segundo o próprio, foi o que aconteceu no percurso urbano de Tóquio, reconhecendo que o resultado obtido “era o que dava para fazer hoje”.
“Dificilmente conseguia fazer melhor se voltasse a fazer a prova. Tinha de mudar a tática, por isso, tenho de estar satisfeito. Foi uma prova bastante dura, mas também trabalhei muito para ela, preparando o fuso horário e a habituação à temperatura, e isso correu bem. Infelizmente, não consegui lutar por um lugar melhor”, rematou.
Disputada na Odaiba Marine Park, sob uma temperatura de 27º celsius e uma humidade de 67%, a prova ficou marcada por uma falsa partida, devido à presença de um barco da organização em frente a metade dos participantes, no pontão.
Os dois portugueses acabaram por mergulhar e iniciar a prova, sem perceberem o motivo da interrupção.
“Não percebi o motivo da falsa partida. Tenho a certeza que ouvi a buzina e parti. Por um lado, deu para aquecer um bocadinho e tirar a ansiedade, mas, na verdade, não ajudou muito”, lamentou João Silva.
Na terça-feira, Melanie Santos vai estrear-se em Jogos Olímpicos, à mesma hora e no mesmo local, no regresso do triatlo português às provas femininas, depois da dupla participação de Vanessa Fernandes, em Atenas2004, com o oitavo lugar, e com a medalha de prata em Pequim2008.
“Temos de mudar a imprevisibilidade do amanhã para os atletas”
O triatleta João Pereira, que assinalou as dificuldades de ser desportista em Portugal, devido à imprevisibilidade, em função dos resultados, e, apesar de reconhecer melhorias, lamentou a falta de investimento.
“O desporto em Portugal é bastante difícil, as condições são bastante duras, vivemos muito com base só no resultado. O amanhã é sempre imprevisível, é um ponto que temos de mudar a todo o custo, para dar melhores condições aos atletas”, afirmou João Pereira, no final da prova.
Em declarações na zona mista, o triatleta das Caldas da Rainha agradeceu o apoio do seu clube, o Benfica, e o empenho da Federação de Triatlo de Portugal (FTP), do Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ) e do Comité Olímpico de Portugal (COP), “apesar de não terem as melhores condições”.
Mesmo assim, João Pereira identificou progressos, sem que sejam os suficientes.
“Falta investimento, capital, para melhorar as condições. É insuportável competir com estes atletas que estão o ano todo em estágios, viajam nas melhores condições. Somos portugueses, lutamos e damos o nosso melhor, dedicamo-nos, é o mais importante. Sonhar com medalhas é bastante empírico e irrisório, mas o povo português é assim, sonhamos com resultados ótimos como as outras nações. Com mais investimento será mais possível ainda, espero poder ajudar os atletas mais jovens”, afirmou.
Para essas esperanças, o próximo ciclo olímpico será excecionalmente de três anos, “bastante curto e competitivo”, com João Pereira, praticamente, a autoexcluir-se: “Como atleta, estou realizado. Vim para o triatlo com 18 anos muito por acaso. No 12.º, precisava de entrar para a faculdade, o meu professor ficou impressionado com o meu corta-mato, colocou-me com um treinador que por acaso era de triatlo”.
“Se conseguirmos dar melhores condições aos atletas, vamos ser muito melhores”, vaticinou.
Depois de ter alinhado na prova de hoje, João Pereira vai estar novamente no percurso urbano na terça-feira, desta feita para apoiar a namorada Melanie Santos, que vai cumprir a estreia olímpica, cinco anos depois de ter competido com o parceiro Miguel Arraiolos, no Rio2016.
“Amanhã [na terça-feira], vou sofrer bastante. Sou um felizardo, conseguir duas presenças olímpicas, trazer um dos meus melhores amigos, alguém com quem treinei e a quem vejo a evolução dele – para ele era um sonho, mesmo – e, cinco anos depois, com a minha namorada, que amo tanto, para quem trabalho para ela ter boas condições, deixa-me bastante feliz”, concluiu.
João Pedro Simões, da Lusa