A coordenadora do BE, Catarina Martins, acusa o município de Leiria de manter trabalhadores precários ao serviço do Teatro José Lúcio da Silva (TJLS), situação que a Câmara nega, reconhecendo o recurso a trabalho temporário.
Numa declaração divulgada na página do Facebook do BE Leiria, Catarina Martins afirma que, “em Leiria, no teatro municipal, no TJLS, os trabalhadores estão precários”.
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“Quando entramos num teatro para ver um concerto, um espetáculo de teatro, um espetáculo de dança, vemos uma equipa a trabalhar. Que está a trabalhar no local, tem uma hierarquia, tem um horário, obedece a ordens e isso chama-se trabalho subordinado”, diz a coordenadora do BE.
Mas, “há quem ache em Portugal que não: a cultura é tudo trabalhadores independentes. É uma mentira que rouba salário e proteção social aos trabalhadores”, acusa, dando Leiria como exemplo.
“Os trabalhadores da cultura, como todos os outros, têm de ter direitos, têm de ter contratos, têm de ter vínculos, e vínculos com a autarquia”, sublinha.
A Câmara de Leiria nega a existência de precários no TJLS.
“Todos os trabalhadores que se relacionam com o TJLS têm um contrato individual de trabalho, 21 no quadro de pessoal e temos uma bolsa de trabalhadores vinculados a uma empresa de trabalho temporário, cujo número de trabalhadores temporários oscila em função das necessidades pontuais, do teatro”, reage, à agência Lusa, a vereadora da Cultura.
Segundo Anabela Graça, também vice-presidente, essas pessoas são chamadas em semanas de maior acréscimo de atividade para desempenharem funções de “assistente de sala/hospedagem e, esporadicamente, de assistente de bilheteira”, e “não têm vínculo precário com o TJLS”.
O teatro de Leiria “não tem pessoas a recibo verde, nem ‘outsourcing’, nem em trabalho temporário de oito horas/dia, 40 horas/semana e 160 horas por mês”, realça a vice-presidente, frisando que “desde janeiro de 2020 até à presente data – em plena pandemia durante alguns meses de inatividade – converteu-se cinco contratos de trabalho a termo em contratos de trabalho sem termo”. Foram também renovados dois contratos a termo e admitidos dois estagiários, acrescenta.
“Não temos nenhuma situação por regularizar. Cumprimos todos os pressupostos da contratação pública”, garante a autarca, avançando que nenhum dos trabalhadores pontuais pediu integração, “até porque estas pessoas têm rendimentos provenientes de outros empregos e atividades, sendo alguns estudantes”.
A coordenadora do BE lembra que Leiria é candidata a Capital Europeia da Cultura 2027 e questiona o município: “Há cultura sem trabalhadores da cultura? Este é o momento de regularizar os vínculos precários”.
Catarina Martins responde ainda ao presidente da Câmara, Gonçalo Lopes, que abordou a questão, suscitada por um funcionário do TJLS na reunião da assembleia municipal de 3 de setembro.
“Quando o presidente da Câmara diz que não são empresas de trabalho temporário ou ‘outsourcings’, bem, só se for uma empresa especializada em ficar com parte do salário e condenar à precariedade”.
De acordo com Anabela Graça, os trabalhadores em causa “têm um contrato individual de trabalho” e recebem “a mesma remuneração dos trabalhadores do quadro de pessoal do TJLS” que têm funções de hospedagem, como “salário base, subsídio de refeição, férias, subsídio de férias e de Natal, horas extraordinárias e outros abonos”. Além de, “se for o caso, compensação por caducidade de contrato de trabalho, bem como proteção no desemprego”.
“Entendemos ser a solução mais adequada para fazer às necessidades temporárias e intermitentes de pessoal – estamos a falar em regra, entre uma hora e trinta minutos/dia, aproximadamente em dois ou três dias por semana, em média”, conclui a vice-presidente.