Estreou em 2020, ano do assassínio do ator Bruno Candé num ato de racismo, no palco do Teatro Nacional D. Maria II, a única rainha europeia nascida numa colónia em época de tráfico massivo de gente de África para as Américas, para o trabalho escravo. “Aurora Negra”, o espetáculo criado interpretado por três mulheres negras, chega a Leiria esta sexta-feira.
No Teatro José Lúcio da Silva, Cleo Tavares, Isabél Zuaa e Nádia Yracema contrariam a constante invisibilidade dos corpos negros nas artes performativas, revelando as suas experiências individuais, num exercício que procura desconstruir estereótipos a partir das memórias de cada uma, reunidas desde a infância ao percurso profissional nas artes.
A questão central em “Aurora Negra” não se restringe, naturalmente, ao contexto performativo. Pelo contrário, ali reflete-se uma realidade que se estende da sociedade portuguesa aos palcos.
Por isso, as três mulheres em cena, além do português, falam crioulo (de Cabo Verde) e tchokwe (de Angola), transmitindo ao espectador a sensação que elas sentem em Portugal: a de estar na condição de estrangeiro no seu próprio país, como acontece com muitos africanos que, nas suas próprias terras-natal, têm o português como língua oficial.
O espetáculo venceu a Bolsa Amélia Rey Colaço, atribuída pelo Teatro Nacional D. Maria II para apoiar a produção de espetáculos jovens artistas e companhias emergentes, procurando a renovação teatral.
Em Leiria, “Aurora Negra” é apresentado na sexta-feira, 22 de outubro, às 21h30, no Teatro José Lúcio da Silva. Os bilhetes custam 10 euros e podem ser adquiridos online aqui.