No dia em que se comemoraram 42 anos da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais (ESECS), o Politécnico de Leiria teve a oportunidade de celebrar duplamente na sessão de abertura do ano letivo 2021/2022, que decorreu ontem, dia 9, no Teatro José Lúcio da Silva.
É que, pela “primeira vez na história”, o Politécnico vai conseguir ultrapassar os 14 mil estudantes, fruto do recorde batido no número de candidaturas no Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior, contando com a entrada, até ao momento, de 5.492 estudantes, frisou Rui Pedrosa, presidente do politécnico, no discurso proferido na cerimónia.
Segundo Rui Pedrosa, este aspeto apesar de positivo, revela-se ao mesmo tempo negativo, porque agrava os constrangimentos financeiros dos quais a instituição padece. “Não é possível continuarmos a viver sem critério e sem uma fórmula de financiamento ao ensino superior”, salientou.
E exemplificou: “Temos um milhão de euros de financiamento solicitado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e à Direção Geral de Ensino Superior associado a cursos técnicos superiores profissionais não financiados pelo Centro 2020. Continuamos sem qualquer resposta”.
Inevitavelmente, a pandemia foi também tema de reflexão de Rui Pedrosa e com ela o anúncio do início do ano letivo com “aulas 100% presenciais”, indo ao encontro do desejo de Bruna Bastos, representante dos estudantes, que reforçou a importância de retomar em pleno esse formato, bem como permitir o “regresso aos momentos académicos” e “à normalidade”, para que os novos estudantes “experienciem o que é ser estudante de ensino superior”.
No contexto da vivência académica, Bruna Bastos referiu-se aos “excessos em particular à noite” – as queixas de ruído e a existência de lixo nas ruas – frisando que “num problema de larga idade não é justa a acusação aos estudantes”. “Uma cidade que quer ter vitalidade tem de encontrar soluções para acomodar todos”, acrescentou.
A aluna sublinhou ainda o papel das associações de estudantes, que estão disponíveis “para procurar soluções em conjunto com os poderes locais para que Leiria acarinhe os estudantes e seja acarinhada por eles”.
A cerimónia serviu igualmente para o presidente do politécnico concretizar um balanço sobre os projetos mais relevantes realizados pela instituição nestes últimos quatro anos de mandato, sendo que entre eles está o facto de o politécnico ser líder nacional nos projetos de copromoção com empresas, a liderança da Universidade Europeia e o “início da criação de condições” para a construção de uma nova ESECS.
Quanto a projetos futuros, Rui Pedrosa anunciou a “requalificação e construção de novas residências de estudantes”, bem como o desenvolvimento do projeto “Impulso Jovem STEAM e Impulso Adulto” financiado no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência.
Após as intervenções de Pedro Lourtie, presidente do Conselho Geral do Politécnico de Leiria, Rui Pedrosa e Bruna Bastos, decorreram os momentos de entrega de prémios, bolsas e distinções a atuais estudantes, diplomados, professores e investigadores. No total, no prémio “Mérito Ensino Secundário” foram distinguidos 39 alunos.
Este ano, o título “professor Honoris Causa” foi atribuído a Carlos Salema, presidente da Academia das Ciências, que aproveitou o momento para expressar a sua indignação perante a impossibilidade de o Politécnico de Leiria dar doutoramentos. “O Politécnico de Leiria devia ter o poder de conferir doutoramentos, até porque há investigadores do politécnico que criaram eles próprios doutores (…) Faço votos para que este desiderato seja muito rapidamente conseguido”.
Num momento de reconhecimento do trabalho realizado durante a pandemia pelos profissionais de saúde, a instituição atribuiu a distinção de “Mérito Socioprofissional” ao Centro Hospitalar de Leiria, ao Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Pinhal Litoral e ao ACES Oeste Norte.
Sustentado em inúmeros autores, Álvaro Laborinho Lúcio, juiz conselheiro jubilado e antigo ministro da Justiça, apresentou uma oração de sapiência sobre “Educação, Cidadania e Desenvolvimento”, abordando vários aspetos em torno da digitalização, designadamente como o seu impacto nos direitos humanos, na democracia e na própria humanidade, explicando as fases do desenvolvimento da sociedade, que é hoje descrita como o “tempo e o lugar em que todos sabemos tudo sobre todos e sobre tudo”, uma “sociedade exposta, pornográfica”.
Nesta sociedade, “a transparência que teria como efeito democrático último a implantação de uma cultura de confiança e com o pressuposto rigor e solidariedade da informação, passou de um movimento de rotação total a unir sem limites a caixa de pandora da desordem local”, na qual a verdade e mentira “tendem a equivaler-se em termos sociais”.
Apoiado na obra “Uma Teoria da Democracia Complexa”, de Daniel Innerarity, o orador previu três elementos que irão modificar a política deste século: “os sistemas cada vez mais inteligentes, uma tecnologia mais integrada e uma sociedade mais participante”.
Para Álvaro Laborinho, “o modo como configuramos a governança destas tecnologias vai ser decisivo para o futuro da democracia, pode implicar a sua destruição ou o seu fortalecimento”.