“Para compor, tudo o que é preciso fazer é lembrarmo-nos de uma melodia na qual mais ninguém pensou”, dizia Robert Schumann (1810-1856), reconhecido compositor e pianista alemão.
Em pleno século XXI, inovação e criatividade permanecem como ingredientes fundamentais para quem escreve música. Uma profissão alicerçada na inspiração mas que comporta dificuldades, desde logo a capacidade de fazer da composição um modo de vida.
No Dia Mundial da Composição, que se assinala hoje, 15 de janeiro, revelamos o percurso de quatro compositores da região de Leiria, pessoas que acumulam o privilégio da capacidade de fazer música, mas também sentem na pele as dificuldades, ou mesmo impossibilidade, de viver dessa arte.
Depois de André Barros e Bia Maria, conheça a ligação de Adelino Venâncio à composição musical.
Quase como um legado que passa de geração em geração, foi assim que a música entrou na vida de Adelino Venâncio, natural dos Pousos. Habituado a ver o pai ensinar música ao irmão mais velho, rapidamente ganhou também o “bichinho” e aos 11 anos entrou para a Banda Filarmónica da Sociedade Artística Musical dos Pousos. Primeiro ao som do clarinete e da requinta, depois do saxofone, foi por lá que Adelino aprendeu tudo o que hoje sabe acerca de música.
Agora, aos 66 anos e prestes a celebrar 55 anos de carreira enquanto músico, avisa, em tom de brincadeira: “O meu nível musical não é muito grande. Os meus ouvidos é que são um bocadinho desenvolvidos”.
Paralela a esta paixão, nasceu uma outra, mais tarde: a de compor, que só foi possível concretizar há 15 anos, quando se reformou do trabalho nos moldes e ganhou tempo livre para se dedicar à composição. “A minha vida profissional como empresário de moldes não me deixava muito tempo”, reconhece.
De forma autodidata, lá foi aprendendo a usar o programa de composição, mas ainda hoje, admite, não é muito dado às tecnologias. No entanto isso não o impede de criar temas. Ao longo da última década e meia, já fez cerca de 30 arranjos, nomeadamente de marchas de rua e de procissão, de valsas, tangos e paso dobles.
É com orgulho que conta já ter feito uma composição mais complexa, “com três andamentos” e, se pudesse escolher um tema preferido da sua autoria, indicaria a peça “Senhora dos Aflitos”, composta para uma marcha de procissão. Atualmente, trabalha em alguns arranjos para as marchas populares.
A paixão pelo ambiente de filarmónica e as experiências obtidas durante a vasta experiência de banda, influenciam as criações do músico, que não fica, no entanto, alheio às “modas musicais da atualidade”. Afinal, são elas que acabam por “ditar e influenciar o mercado”.
Apesar da paixão pela composição – o resultado final é o que lhe dá mais prazer no processo -, Adelino considera que a atividade é “demasiado sedentária e isolada”. E, por isso, para ele “acaba por ser só um hobby”. Como tal, não há hora marcada para compor nem rigidez no processo, até porque “tudo depende do estado de espírito”, do tempo livre e da duração do próprio arranjo, salienta.
Numa análise ao panorama musical na região, apesar de conhecer alguns compositores, eles são “provavelmente muito poucos”, admite Adelino. E a valorização por terceiros, essa, no caso do próprio, é exclusivamente local, lamenta.