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Música

Dia Mundial do Compositor: André Barros, o autodidata que se enamorou pela composição para imagem

A partir da Marinha Grande até chegar a muitos locais um pouco por todo o mundo, a música de André Barros acompanha filmes, performances, anúncios e emoções.

André Barros realiza-se enquanto compositor quando explora "território desconhecido à procura de diferentes formas de manifestar emoções" Carla de Sousa

“Para compor, tudo o que é preciso fazer é lembrarmo-nos de uma melodia na qual mais ninguém pensou”, dizia Robert Schumann (1810-1856), reconhecido compositor e pianista alemão.

Em pleno século XXI, inovação e criatividade permanecem como ingredientes fundamentais para quem escreve música. Uma profissão alicerçada na inspiração mas que comporta dificuldades, desde logo a capacidade de fazer da composição um modo de vida.

No Dia Mundial da Composição, que se assinala hoje, 15 de janeiro, revelamos o percurso de quatro compositores da região de Leiria, pessoas que acumulam o privilégio da capacidade de fazer música, mas também sentem na pele as dificuldades, ou mesmo impossibilidade, de viver dessa arte.

O primeiro dos quatro compositores que apresentamos hoje é André Barros.


Os temas de André Barros saltaram há muito as fronteiras nacionais, levando o talento da Marinha Grande para outros palcos e até diferentes formatos e ecrãs. Mas já lá vamos. É preciso recuar mais de uma década para encontrar os primeiros passos preponderantes na carreira deste pianista enquanto compositor.

Foi no final do primeiro ano do curso em Produção de Criação Musical, em Lisboa, que André Barros gravou pela primeira vez composições em estúdio. Essas peças, que contaram com a participação da violinista Joana Viana, viriam a ditar o início do projeto a solo, dois anos depois, em 2013. Mas também suscitaram o interesse em explorar a vertente da composição para imagem, à qual dedica, atualmente, grande parte do seu tempo.

Desde a criação da primeira banda sonora para cinema – para a curta-metragem documental “Wounds of Waziristan”, da jornalista paquistanesa Madiha Tahir -, o compositor conta no currículo com cinco álbuns editados, cerca de 40 bandas sonoras realizadas para curtas e longas-metragens, ficção e documentário, assim como músicas para anúncios televisivos/web de marcas globais.  

O músico também já criou bandas sonoras para duas peças de teatro e várias peças de dança contemporânea. Atualmente, está a desenvolver composições para os documentários “Journey with Jas”, de Jaswant Shrestha; “The dying trade”, do ativista Jack Hancock-Fairs; e “The disposable humanity”, de Cameron Mitchell, entre outros.

Como arranjar inspiração para tantas tarefas? “Passa muito pela natural e paulatina transmutação das nossas experiências e relações humanas para o mundo musical”, explica. Mas há mais. Quando André compõe para bandas sonoras, tem de se inteirar, caso a caso, “de narrativas, sugestões visuais, todo o género de estímulos” que o permitam orientar na “descoberta da energia certa para a criação audiovisual que tenho à minha frente”, sublinha.

Todo o processo pode demorar segundos, minutos, horas ou até meses. André sente-se bastante realizado em “navegar em território desconhecido à procura de diferentes formas de manifestar emoções” e vibra com “a possível ausência de racionalidade, de premeditação teórica”. Mas, frisa, não se contenta com o que é simplista.

E assim como “todo e qualquer ímpeto musical” pode ser motor de combustão para a criação, o compositor considera fundamental “sair da zona de conforto” para criar algo “interessante ou minimamente ‘inovador’”. Escutar música que o toca especialmente arrisca-se revelar-se, na opinião do músico, uma “faca de dois gumes”: além de ser fonte de inspiração, pode gerar uma “constante sensação de incerteza e incapacidade momentâneas que nos assombra”. Entre as grandes referências do compositor da Marinha Grande, estão Wim Mertens, Max Richter, Ólafur Arnalds, Kjartan Sveinsson, Ennio Morricone e Abel Korzeniowski.

A viver exclusivamente da música desde 2015, André Barros sente na pele as dificuldades associadas à profissão, sobretudo pelo facto de ser um músico autodidata. “Depende-se muito da faceta de empreendedor”, da “capacidade de desenvolver estratégias de ‘venda’ e de explorar os mercados onde mais facilmente a identidade musical de cada um se enquadra”. A maior dificuldade, contudo, é a “incerteza e quase impossibilidade de um salário constante e periódico”. Em síntese, “é tudo uma luta constante, quer de criatividade, quer de empreendedorismo”.

Apesar disso, há “imensos, incríveis e extremamente talentosos” músicos e compositores na região de Leiria, onde “é manifestamente notório o apoio aos criadores, em geral”. Isso revela-se no “reconhecimento que cada um de nós atribui à criação artística” e no “apoio efetivo aquando da ida a um concerto ou da compra de um objeto”, sublinha.

Na tentativa “tão inglória” de selecionar a peça que lhe deu mais prazer de escrever, André Barros arrisca e escolhe a banda sonora que realizou para o filme “Leda”, gravada com o trio de cordas da Orquestra Sinfónica da Islândia, e o mais recente disco “Vivid”.

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