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Bala que feriu João Paulo II é a “mais valiosa joia” na coroa de Fátima

Coroa foi feita em 1942 com jóias oferecidas por mulheres portuguesas – e integra, desde 1989, a bala que atingiu o papa a 13 de maio de 1981.

Bala que atingiu João Paulo II em 1981 foi oferecida pelo papa ao bispo da diocese de Leiria em 1984. Está na coroa de Fátima desde 1989 Santuário de Fátima

As comemorações dos 375 anos da coroação de Nossa Senhora da Conceição como Padroeira de Portugal está a despertar a curiosidade sobre as três coroações de imagens da Virgem que já houve no país.

“Em Portugal, há várias coroas muito simbólicas, a começar pela coroa de Nossa Senhora da Conceição, de Vila Viçosa, a coroa de Nossa Senhora do Sameiro, que é também muito importante, porque foi uma coroação feita por um legado do papa e, depois, a coroa de Fátima, que é também por um legado do papa a coroação”, disse à agência Lusa Marco Daniel Duarte, presidente da comissão organizadora do congresso “Mulher, Mãe e Rainha. Nos 375 anos da Coroação de Nossa Senhora da Conceição como Padroeira de Portugal”, a realizar de 24 e 26 de março, em Fátima, e no dia 27, em Vila Viçosa.

A coroa de Fátima é aquela que tem, ao longo dos últimos anos, suscitado maior interesse por parte dos fiéis.

“É feita com as peças que foram recolhidas pelas mulheres portuguesas que, deliberadamente, agradecendo o dom da paz – um tema muito atual -, ofereceram as suas joias, os seus pequenos tesouros, para a constituição de uma coroa a oferecer à Nossa Senhora de Fátima”, contou o historiador, também diretor do Departamento de Estudos do Santuário de Fátima.

A coroa “foi feita em 1942, mas nesse ano o mundo estava em guerra e o bispo de Leiria entendeu que não deveria ser o momento de coroar a Virgem de Fátima. Então, aguarda-se por 1946 para que essa coroação possa ser feita”, lembrou, acrescentando que o papa Pio XII foi convidado a visitar Portugal para esse momento solene.

Porém, “nessa altura, o papa não sai do Vaticano, não tem essa tradição, que é uma tradição inaugurada só com os seus sucessores, e envia um legado com os poderes máximos para coroar a Virgem de Fátima. E vai, de facto, coroá-la como Rainha da Paz e Rainha do Mundo”, sublinhou Marco Daniel Duarte, recordando que “essa coroa constituída por essas joias, mais tarde, viria a ter mais um símbolo, também de paz e de guerra. Precisamente a bala que atingiu o papa João Paulo II no atentado do dia 13 de maio de 1981, na Praça de São Pedro”.

“A coincidência do dia 13 de maio ser o dia de Nossa Senhora de Fátima leva o papa a entender que houve uma mão materna – as palavras são dele -, que desviou a trajetória da bala e, mais tarde, em 1984, oferece aquela bala ao bispo da diocese de Leiria”, com o projétil a ir para o Santuário de Fátima e as autoridades religiosas a não saberem, nessa altura, o que fazer com ele.

Só em 1989 é decidido incrustar a bala precisamente debaixo do globo de turquesas que a coroa possui.

“Podemos considerá-la a verdadeira joia da coroa, porque é a única peça que não é de material precioso, mas na verdade, do ponto de vista imaterial, vale mais do que todas as outras”, afirmou o diretor do congresso, lembrando que a coroa só é colocada na imagem de Nossa Senhora de Fátima nos dias 13 entre maio e outubro e nos dias de solenidade mariana.

Fora desses dias, está em exposição e “atrai a curiosidade de todos, não apenas para se verem as turquesas, as safiras, as pérolas, os diamantes, enfim tudo aquilo que ali reluz e que é verdade do ponto de vista da sua importância material, mas aquilo que verdadeiramente atrai o visitante é baixar-se para ver o sítio exato onde está a bala”.

Marco Daniel apontou mais uma curiosidade: “Quando se foi fazer este exercício de colocar a bala naquele lugar, constatou-se que o diâmetro daquele orifício coincidia na precisão com o diâmetro da bala e, portanto, duas leituras podem ser feitas: a leitura do acaso, enfim, aquele orifício tinha por acaso aquele diâmetro, e a leitura do crente, que obviamente muitos dos devotos de Nossa Senhora de Fátima fazem, e que parecia que já estava ali prevista a inclusão de uma nova joia que haveria de ser esta bala”.

Quanto à eventual rivalidade entre os devotos das três imagens, Marco Daniel Duarte admitiu que “cada fiel tem uma devoção a Nossa Senhora de uma forma particular sobre algum título”.

“Os devotos de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa gostam muito de ver a sua imagem coroada com a coroa respetiva. Os devotos da Imaculada Conceição do Sameiro gostam de ver a sua imagem com a sua coroa e os devotos de Nossa Senhora de Fátima, quando veem a imagem com a coroa principal, rejubilam, obviamente”, disse o historiador.

O mesmo acontece com os santuários.

Segundo Marco Daniel Duarte, “o Santuário do Sameiro parece que veio destronar um pouco aquele que era o Santuário de Vila Viçosa e, depois, o Santuário de Fátima, com a sua fulgurante projeção, não apenas nacional, mas internacional, veio, nalgumas leituras, destronar os outros santuários. Não é verdade. Todos os santuários têm a sua importância. Claro que alguns estão mais ligados a devoções que são locais e regionais. Fátima não veio acabar com essas devoções”.

Fátima veio “trazer uma mensagem muito forte, sobretudo num mundo que estava em guerra, que continua em guerra, e tem uma mensagem muito forte ligada àquilo que é a consciência de Deus para trazer a paz ao mundo. Fátima tem essa projeção logo desde o início e continua a tê-la”, afirmou.

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