O aumento contínuo dos preços das matérias-primas para o fabrico de rações para animais de consumo e de estimação, que se verifica desde o ano passado, período em que mais que duplicaram, também já reflete o impacto da guerra na Ucrânia.
A Ovopor, que se dedica à produção de ovos e de rações, e a Avenal, que trabalha na área das rações para animais de estimação (cães e gatos), são duas empresas do concelho de Leiria que constatam uma subida de preços que, no caso da alimentação humana, acabará por atingir toda a fileira da carne.
Segundo o administrador da Ovopor, Rafael Neves, registam-se “custos loucos” desde 2021. “Tudo o que é matéria-prima está entre o dobro e triplo de há ano e meio para cá”, refere, com alguma incredulidade.
“Com esta guerra louca que vivemos, tivemos um aumento dos 200 e muitos para agora estarmos no patamar de 400 e poucos euros a tonelada”, adianta Rafael Neves, citado pela agência Lusa, explicando que o sector das rações em Portugal “tem uma dependência tremenda do milho e do trigo da Ucrânia. Durante muitos meses do ano, “grande parte do milho consumido é ucraniano”.
No caso da Avenal, o aumento dos custos já se faz sentir no produto final. Em janeiro, o preço das rações tinha sido revisto, este mês voltou a sofrer um aumento na ordem dos 20%, conta o administrador da empresa, Ulisses Mota.
A crise energética fez aumentar os preços do gás (fundamental nesta empresa para secar as rações), com a fatura a subir “cinco vezes”, e as matérias-primas estão também mais onerosas. “Agora, agravou-se com a crise na Ucrânia. Está a ser terrível. Durante anos, as rações até baixavam de preço e agora inverteu completamente”, frisa Ulisses Mota, em declarações à Lusa, adiantando que também há dificuldades em assegurar as matérias-primas necessárias.
O empresário adianta que, face ao panorama atual, tem dificuldade “a planear à semana”, quanto mais ao mês, e chega a haver dias em que “o stock fica a zero e tem que se esperar que chegue o camião” para a produção não parar.
No final de 2020, o preço dos cereais, nomeadamente o milho (fundamental para as rações), estava nos 180 euros por tonelada, um ano depois já subira para os “200 e muito, quase 300 euros”, o que se explica com o aumento de procura com o aliviar das restrições impostas pela pandemia, o incremento dos custos logísticos, a crise energética, questões climáticas que afetaram a produção de cereais na América do Sul e ainda um abastecimento de grandes quantidades de cereais por parte da China.
O nosso país tinha uma exposição de entre 30% a 40% aos cereais produzidos na Ucrânia. Nesta altura, importava muito milho e estaria à espera do milho do Brasil, que chega em junho. Agora estão a ser contactados fornecedores para encontrar alternativas a esse milho e outras matérias-primas, como a colza ou o girassol.