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Leiria

Região “casa” pinho e moldes para ganhar mercado na criação de peças para automóveis e não só

Projeto surgiu da necessidade de valorizar a folha de pinho, por parte da indústria florestal e da procura do setor industrial automóvel de novos produtos para segmentos de mercado mais exclusivos

Juntar madeira e moldes resulta na criação de novas peças

“Este projeto une duas indústrias de diferentes setores, florestal e moldes, cuja ligação não é muito habitual, mas ambas com tradição na zona de Leiria”. Quem o explica é Florindo Gaspar, professor e investigador. E fala de quê? Do “Wood.Shape 4.0”, projeto que dá uma hipótese ao pinheiro – uma imagem de marca da região – para participar ativamente noutra imagem de marca da região: os moldes.

O casamento entre pinho e moldes pode parecer pouco provável, mas o certo é que começa a produzir frutos. Esta terça-feira, dia 29, esta união pouco ortodoxa, foi tema central de uma apresentação na Marinha Grande.

O projeto surgiu da necessidade de valorizar um produto nacional, a folha de pinho, por parte da indústria florestal e da procura do setor industrial automóvel de novos produtos para segmentos de mercado mais exclusivos, adianta o Politécnico de Leiria, instituição no centro desta inovação.

A ideia avançou como projeto em 2018 e a valorização e o acabamento de peças interiores de automóveis e do setor de construção, “procurando novos produtos com cada vez maior consciencialização ambiental e personalização”, são algumas das facetas do “Wood.Shape 4.0”.

Os resultados foram apresentados ontem, dia 29, no Centro para o Desenvolvimento Rápido e Sustentado de Produto (CDRSP) do Politécnico de Leiria, situado na Marinha Grande.

Esta ligação entre os setores florestal e dos moldes não é usal, reconhece Florindo Gaspar, professor e investigador do CDRSP. O investigador falava no início da sessão de apresentação e explicou ainda que a ideia passou pela “valorização de um recurso endógeno, a madeira de pinheiro-bravo, pela sua baixa condutividade térmica e aspeto visual, potenciando o valor comercial do produto e a sua customização em massa”.

Com o projeto, acrescentou, “procurámos o desenvolvimento de novos componentes injetados, de elevado valor acrescentado e com superfície estética de pinho. Recorremos, para isso, à tecnologia da conformação da madeira e do overmoulding, que até agora nunca tinha sido aplicado em madeira de pinho”.  

Importa explicar que a tecnologia de overmoulding é um processo bastante comum na indústria dos moldes e consiste na injeção de um polímero sobre outro tipo de material não-polimérico como metal, películas, filmes ou tecido.

O processo contou ainda com “sistemas automatizados de visão computacional e integração de tags RFID [Radio-Frequency IDentification], com o objetivo de produzir peças com revestimento de folha de pinho e preenchimento polimérico de elevado valor acrescentado”, adianta Florindo Gaspar.

O projeto conta já com quatro anos e resulta de um consórcio entre a TJ Moldes, o CDRSP, o Grupo Valco, o SerQ – Centro de Inovação e Competências da Floresta, a Universidade de Coimbra e as empresas AB Plásticos Batista e Makertech. O financiamento e orientação técnica foi da ANI – Agência Nacional de Inovação.

“Focando-se nos setores automóvel, de eletrodomésticos e decoração de interiores, este projeto procurou responder às necessidades sentidas pelos clientes, nomeadamente as constantes renovações de design com a valorização de materiais ecológicos, o desenvolvimento de novos produtos para segmentos de mercado mais exclusivos, a valorização da folha de pinho e a concretização de séries mais curtas.

Além disso, focou-se também naquilo que o utilizador final mais valoriza: estética, preços baixos, sustentabilidade”, explicou na altura Nânci Alves, gestora de projetos IDI na TJ Moldes.

Nânci Alves identificou várias vantagens no processo, incluindo a redução de operações secundárias, a redução do número de estações de trabalho e do consumo de materiais auxiliares.

Diana Duarte, responsável de inovação de processo na TJ Moldes, lembrou que os clientes apresentam crescentes desafios, “ao nível de design atrativo, adoção de novas metodologias de fabrico e de novos materiais, implementação de políticas ‘zero plástico’, garantir um custo otimizado e a diminuição da pegada de carbono, e o fabrico de produtos ‘amigos do ambiente’”.

A utilização de materiais ecológicos, a redução de materiais como tintas e vernizes e a rastreabilidade de caracterização da peça, são algumas das vantagens que vê neste projeto, para além de permitir a nova abordagem à reciclagem da peça e a diferenciação com oferta de nova tecnologia para peças de valor acrescentado. Já o custo da peça final, a disponibilidade da madeira e a tecnologia disponível para a reciclagem da peça, são as principais ameaças.

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