A instalação de uma central solar flutuante perto da barragem do Cabril suscitou dúvidas no PSD. Como é que o novo equipamento vai ser compatibilizado com a atividade turística e o combate aos fogos, por exemplo?
Esta é a questão que deputados do PSD enviaram ao Governo. Em causa está, argumentam, a forma como vão ser acautelados os interesses dos municípios, populações e agentes socioeconómicos na utilização da albufeira.
Numa pergunta dirigida ao Ministro do Ambiente e Ação Climática, Duarte Cordeiro (PS), 17 deputados social-democratas querem também saber “como se compatibilizarão as atividades turísticas e os investimentos já realizados ou previstos com a operação da nova estrutura” e que “restrições poderão existir para as aeronaves que ali realizam abastecimento de água para combate a incêndios”.
A empresaVoltali conquistou a possibilidade de instalar uma central fotovoltaica no local.
A 14 de abril, lembram os deputados na pergunta enviada ao ministro, “foi concluído o Procedimento Concorrencial para atribuição de reserva de capacidade de injeção em pontos de ligação à Rede Elétrica de Serviço Público (RESP) para eletricidade a partir da conversão de energia solar produzida em centros eletroprodutores fotovoltaicos flutuantes. O lote 3 referente à barragem do Cabril (33 MVA) foi atribuído à empresa Voltalia”.
A barragem do Cabril une o concelho de Pedrógão Grande (distrito de Leiria) à freguesia de Pedrógão Pequeno (concelho da Sertã, distrito de Castelo Branco).
A central “vai ser instalada perto da barragem do Cabril, na Sertã”, e “a capacidade instalada será entre 33 MW [megawatt] e 40 MW, dependendo da otimização final do projeto”, adiantou a empresa, referindo que a estrutura, com 33 hectares, “vai fornecer energia verde para um volume equivalente ao consumo de 70.300 habitantes”.
“A albufeira tem múltiplas utilizações, inclusivamente ao nível do turismo e das atividades náuticas, podendo também destacar-se a sua relevância enquanto ponto de abastecimento para aeronaves que fazem o combate a incêndios”, lembram os parlamentares do PSD.
Para os deputados, a instalação da central flutuante “levanta vários desafios de compatibilização de usos na albufeira do Cabril”, defendendo que “as suas especificidades deveriam ter sido discutidas numa fase prévia ao procedimento concursal”.
Segundo o PSD, “têm sido feitos investimentos na valorização ambiental e na dinamização turística que poderão incorrer em riscos face à ocupação de áreas da albufeira por painéis solares, dependendo da localização”.
“Acresce o facto de estarmos em contexto de restrição hidrológica”, notam os parlamentares, assinalando que “as previsões de longo prazo associadas às alterações climáticas indicam que as secas e a diminuição da pluviosidade poderão reduzir a disponibilidade de recursos hídricos”.
No documento, os sociais-democratas perguntam como se vão compatibilizar “as atividades turísticas e os investimentos já realizados ou previstos com a operação da nova estrutura” e quem vai assumir eventuais prejuízos que “este projeto poderá causar ao projeto do centro náutico” em Pedrógão Grande.
O PSD pretende conhecer ainda, entre outras aspetos, como vai ser feito “o enquadramento legal deste novo uso do espaço” face à “ausência de um plano de ordenamento atualizado que considere estes novos usos energéticos” e “quais os benefícios diretos e as contrapartidas económicas para os municípios” que “terão restrições adicionais ao usufruto do espelho de água”.
No dia 14, a Câmara e o Clube Náutico de Pedrógão Grande manifestaram preocupação com o impacto da instalação da central solar flutuante.
“Estou preocupado com o impacto do projeto”, afirmou à agência Lusa o presidente do Município de Pedrógão Grande, António Lopes, que pretendia saber como vai ser possível “acomodar o uso da albufeira para o combate aos incêndios e para as atividades turísticas e náuticas”.
Já o presidente do Clube Náutico, Nuno Fernandes, alertou que “a componente paisagística, o cartaz turístico, fica deteriorado de forma significativa” com a central, receando o impacto negativo no turismo.
No mesmo dia, o responsável da empresa em Portugal, João Amaral, disse à Lusa que, “do ponto de vista de projeto, a Voltalia vai trabalhar por ter o menor impacto ambiental possível, como faz sempre em todos os projetos que tem”.
João Amaral fez ainda saber que “a Voltalia é sensível à combinação de localizações, porque um projeto deste género terá que se adaptar à natureza e ao nível de água da albufeira, até porque não há escavações como num projeto em terra”.
Com Lusa