Escavações arqueológicas no Largo de São Pedro revelaram novos dados sobre a ocupação humana no morro do Castelo de Leiria, divulgou hoje o município.
Os trabalhos de instalação de infraestruturas e repavimentação no Largo de São Pedro, em Leiria, entre o arco da Torre Sineira e a porta de Albacara, que delimita a área visitável no castelo, estão a decorrer desde o final de maio de 2021.
Sendo uma zona de “sensibilidade máxima em termos patrimoniais e no que concerne à existência de zonas de proteção de caráter patrimonial, quer pela proximidade ao topo do morro do castelo, quer pela proximidade à igreja de São Pedro”, a intervenção tem tido um acompanhamento e escavação arqueológicas.
Nos trabalhos realizados até ao momento verificou-se “uma grande diacronia de ocupação, que vai desde a Pré-história recente à Época Contemporânea”.
Através de uma nota de imprensa, a autarquia informou que as escavações revelaram dados da Pré-história recente, com identificação de alguns materiais, mas sem estruturas associadas.
Foi visível ainda uma grande ocupação durante a Idade do Ferro, incluindo um pequeno troço de muralha deste período, com 1,5 metros de largura.
A ocupação, referiu o município, estende-se quer no interior quer no exterior deste troço de muralha que se localiza no caminho junto ao sítio arqueológico denominado Casa do Fabião, e é ainda atestada pela presença de bastantes fundos de cabana em barro e pedras delimitadoras com barro de barrear e com lareiras centrais.
O espólio deste período é “bastante rico, quer em cerâmicas negras brunidas com carenas e fundos em ônfalo, quer em cerâmicas pintadas de importação”.
Da época romana foram identificados vários alinhamentos de muros de habitações que, apesar de se encontrarem quase ao nível do alicerce, poderão ajudar a interpretar melhor a ocupação deste período na zona alta de Leiria.
Os edifícios romanos localizam-se a Noroeste e a Sudeste de um troço de calçada que corre com orientação Nordeste/Sudoeste, em frente ao edifício do Comando Distrital da PSP, lê-se ainda no comunicado.
O espaço habitacional ou funcional na zona do cruzeiro estaria associado a um edifício onde se trabalharia o cereal, com mós em granito, algumas reaproveitadas como bases de coluna, bastantes cossoiros e pesos de tear, alguns com inscrições.
Do período medieval foram intervencionados vários espaços e estruturas das quais se destaca um silo em forma de saco com cerca de dois metros de profundidade, de onde foram recolhidas várias peças com formas entre os séculos IX e XII.
Foram também registados muros e níveis de ocupação com fornos e níveis de combustão ligados a pequenas forjas destes períodos com materiais mais ligados ao período cristão.
Foi identificado um troço de muralha medieval sob o arco da torre sineira. Do mundo islâmico apenas foi exumada uma moeda em ouro, um dinar almorávida de 1122, um fragmento de cerâmica com pintura a branco de tradição islâmica e dois fragmentos de azulejo hispano-árabe em corda seca.
De época medieval e moderna é ainda a necrópole associada à igreja de São Pedro e da qual até ao momento foram identificados e levantados 98 indivíduos e 26 ossários com um grande número mínimo de indivíduos.
“Os enterramentos são na sua maioria em covacho sem qualquer tipo de delimitação de sepultura para os enterramentos mais recentes e nos mais antigos encontramos os indivíduos em sepultura escavada no sedimento argiloso com algumas pedras a delimitar as sepulturas”, informou a Câmara de Leiria.
Do espólio funerário destacam-se contas de terço e alguns numismas. Há ainda a novidade de dois indivíduos não europeus, sendo que um deles está associado à cronologia inicial da necrópole de São Pedro.
Na cronologia moderna e contemporânea, os arqueólogos destacam a exumação de quatro indivíduos em vala comum com uma datação que aponta para finais do século XVIII e início do século XIX.
Também de época moderna há um edifício adossado ao da PSP que teria servido de celeiro ou adega com encaixes para talhas e canais de drenagem para a lavagem das mesmas. Foram ainda registados dois tanques de cal nesta zona mais a sul da plataforma.
A equipa de arqueologia considerou “muito relevantes os dados obtidos, para o entendimento da ocupação humana no morro do Castelo de Leiria, quer os vestígios romanos quer os da Idade do Ferro, nesta área delimitada pela cerca da vila medieval”.
“A ocupação com vestígios materiais de um período medieval recuado, como é o século IX, é uma novidade para Leiria. A parca presença de material islâmico vem reforçar a ideia de que Leiria tem mais ligações ao mundo cristão do Norte do que ao mundo islâmico do Sul, neste período da Idade Média”.
Os trabalhos arqueológicos, quer no Largo de S. Pedro quer o estudo dos materiais exumados, ainda se encontram a decorrer.