A proposta chegou em finais de 2018 pelo grão-mestre da Confraria Gastronómica da Região de Leiria : redigir a candidatura da morcela de arroz aos prémios CEUCO – Conselho Europeu de Confrarias Gastronómicas.
E Laura Esperança aceitou o desafio com entusiasmo. Afinal, este era um tema querido para a ex-presidente da então Junta de Freguesia de Leiria e que a tinha acompanhado durante os três mandatos (entre 2002 e 2013), nos quais a Junta realizou roteiros do petisco e da doçaria e o roteiro da Morcela de Arroz, entre outros eventos para potenciar a gastronomia da região.
Como a iguaria era bastante pouco conhecida a nível europeu, Laura Esperança considerou que valia a pena dar tamanho destaque à morcela de arroz. “Motivei-me mesmo e até serviu de terapia”, conta, referindo-se ao falecimento do pai no início daquele ano.
No ano seguinte, em outubro, foi entregue a candidatura e a morcela foi eleita “Prémio AURUM – Melhor Produto Europeu 2019”. A distinção deu ainda mais alento a Laura Esperança para não deixar o trabalho esquecido nas gavetas da Junta de Freguesia.
Com a candidatura, a confraria passou também a denominar-se Confraria Gastronómica Pinhal do Rei e da Morcela de Arroz.
E apesar de nunca ter pensado em redigir um livro, “nem tão pouco sobre morcela de arroz”, fazia todo o sentido dar vida à obra “À volta da morcela de arroz de Leiria”. Além disso, percebeu “que as pessoas estavam ávidas que a morcela de arroz não se perdesse no tempo”.
Mesmo com uma pandemia pelo meio, o livro obteve o financiamento máximo do programa a que se candidatou (85 por cento) e a Confraria supriu o restante.
Criada com o intuito principal de divulgar “sem limites” a iguaria, a obra procura também difundir a própria região, através da abordagem de temas como o arroz, o vinho, o sal, o negócio do porco e o papel das confrarias.
Na opinião da autora, o capítulo mais importante é “o contexto do aparecimento da morcela”, que “é no fundo a história de um povo”. E defende: “a morcela é uma lição de vida. É a lição que se pode tirar de uma população com muitas dificuldades, que apenas com o porco consegue ter a dinâmica de criar um produto novo, que no fundo vai servir para aumentar e acrescentar o número de pessoas que podia comer do porco”.
Além disso, frisa, trata-se de um enchido que mantém atualmente “as características do produto original”, o que “é raro”. “À morcela de hoje, só lhe falta o contexto da matança e a alimentação do porco”, completa.
Conta ainda que o retorno do livro (que não está à venda) tem sido positivo. Muitas pessoas dizem inclusive que se reveem, sobretudo na parte dedicada à matança do porco. Se tivesse de classificar a obra, a autora diria que “é o sabor das nossas origens”.
“À volta da morcela de arroz de Leiria” conta com 2 mil exemplares e uma edição inclusiva, transcrita em Braille, também para distribuir de forma gratuita por entidades já referenciadas.
Quando a edição física estar esgotada, adianta Laura Esperança, o livro será disponibilizado em formato digital, chegando assim a ainda mais pessoas, porque o intuito, reforça, é que a obra esteja disponível para consulta pública. “Não é um livro para as pessoas conservarem numa biblioteca particular”.
O resultado do trabalho da autora a par com muitos outros contributos é apresentado publicamente este sábado, dia 21, às 16 horas, na Praça da Gastronomia, no recinto da Feira de Leiria.