Pensar uma programação para o Castelo de Leiria pode ser uma bela dor de cabeça. Que o diga Guilherme Garrido: depois de lançar em Leiria o festival A Porta e de desenhar o sucesso recente de Nascentes (ou de produzir o Tremor, nos Açores, e o circuito nacional Super Nova, entre outros), foi desafiado pelo município a imaginar algo, com a Omnichord, para o mais famoso monumento da cidade.
“Um castelo, com muralhas, no topo de uma cidade, é um território extremamente distinto dos projetos a que estou mais habituado. Daí a vontade de atirar-nos de cabeça para este desafio”, conta. E assim nasceu Ágora, ciclo de quatro fins de semana que começa neste e se prolonga até outubro com música, teatro, conversas, instalações e oficinas infantojuvenis.
“Ágora quer ser um espaço de reunião, de assembleia, de união, mas também se retira o acento [a Ágora] para ser o espaço do agora, num castelo que carrega milhares de anos de história”, explica Guilherme Garrido, que quer juntar ao património que as muralhas guardam, novas narrativas e reflexões.
Apesar do estímulo que é criar algo no Castelo, há dificuldades: a começar pelo acesso, pela relação dos leirienses com o monumento mais procurado por turistas, mas também pela responsabilidade:
“Sou programador e não historiador. Há pessoas muito mais qualificadas para contarem as histórias do Castelo de Leiria”, insiste várias vezes ao longo da conversa. Por isso, nestes dias, prefere contribuir para juntar novas memórias às existentes. “Ágora quer ser criador de novas histórias, mais contemporâneas e que projetam o agora e também um futuro”.
Para isso foi estabelecida uma “programação transversal e transgeracional”, com forte apelo às famílias, à palavra e a imagens que são património comum, brincando com ideias como o castelo de cartas ou os castelos de areia.
No arranque de Ágora, alinha-se uma conversa com Sérgio Godinho, concertos de B Fachada e Ninfas do Lis e muitas atividades para público infantojuvenil. A fechar, no domingo, dia 17, há uma mensagem forte deixada por “Antiprincesas”, projeto teatral que enaltece figuras femininas do século XX. Num castelo que, como outros, molda o nosso imaginário, a história de Frida Kahlo contada por Cláudia Gaiolas vai “desmistificar as mulheres apenas como princesas, aquelas a quem, ao longo da história, o homem vai salvar”.
Nestes dois dias, e também em agosto (dias 6 e 7), setembro (3 e 4) e outubro (15 e 16), pelo preço de acesso ao Castelo de Leiria (2,10 euros) o desafio do ciclo Ágora é levar leirienses e turistas lá acima, para saborear a paisagem e participar nas atividades. “Como a ágora – praça pública nas cidades da Grécia antiga – queremos criar um lugar de reunião e perceber, depois das pessoas estarem reunidas, o que é acontece”. E saber até que histórias o Castelo continua a inspirar.
Projeto Ágora: As histórias que o Castelo de Leiria inspira aqui e agora
Até outubro há fins de semana especiais no mais famoso monumento da cidade. Este sábado e domingo, dias 16 e 17, há encontro marcado com Sérgio Godinho, B Fachada, Ninfas do Lis, teatro, instalação e muitas atividades para os mais novos.