A Guimarota está no mapa de todos os estudiosos que se interessam pela vida no Jurássico superior (há 145 milhões de anos). É assim há muitas décadas, desde que ali se descobriu na década de 60 do século XX uma mina de carvão perfeita para contar a história daquele tempo. Em 1959, conta a monografia do Museu de Leiria, o alemão W. G. Kühne, professor da Universidade Livre de Berlim, veio a Leiria procurar naquele carvão novos dados sobre mamíferos do Mesozóico na Península Ibérica. Entre numerosos fragmentos de carapaças de tartaruga, osteodermos de crocodilos e escamas de peixes, encontrou um esqueleto de um mamífero primitivo.
Estava dado o tiro de partida que transformou o sítio no “local mais rico do mundo em mamíferos primitivos”, recorda o Museu de Leiria: através do registo fóssil é possível perceber como a vida acontecia ali há cerca de 150 milhões de anos.
A mina cessou a exploração pouco depois mas, nos anos 70, os paleontólogos alemães Bernard Krebs e Siegfried Henkel regressaram à mina para uma longa aventura científica e, dela, surgiu a mais notável descoberta: o esqueleto articulado, quase completo, de um mamífero do Jurássico superior, batizado Henkelotherium guimarotae, antepassado dos mamíferos modernos.
E porque é ele tão importante? Porque revela características dos mamíferos primitivos, de que apenas havia, até aí, achados dentários. Ajudou, por exemplo, a perceber um sistema locomotor mais avançado do que se conhecia e a equacionar um comportamento bem diferente do que se intuía para esses pequenos seres vivos.
Mas ficou a saber-se mais da campanha de Krebs e Henkel. A partir dos registos de flora e fauna da Guimarota, sabe-se que às portas de Leiria existia um pântano costeiro, onde chegava a água salgada, e havia desde bivalves a tubarões, de peixes de água doce ao Machimosauros hugii, o maior crocodilo marinho do Jurássico.
Até vestígios dos famosos reptéis voadores Pterosauros foram encontrados. O espólio recolhido nessas campanhas está no Museu Geológico do Laboratório Nacional de Energia e Geologia, em Lisboa, outro encontra-se na Alemanha onde ainda continua a ser estudado.
A mina, essa, continua na Guimarota, fechada por razões de segurança. Mas, certamente, guardiã de muitos outros tesouros da história da evolução da vida na Terra.
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