O uso de lamas das estações de tratamento como fertilizante ou sobreplantação como medida de combate à desertificação são algumas das experiências que a empresa pública Florestgal vai concretizar, querendo assumir-se como laboratório vivo na área da floresta.
A Florestgal, empresa detida pelo Estado e criada após os grandes incêndios de 2017, conta com cinco projetos com financiamento comunitário, num investimento global de mais de três milhões de euros, com algumas destas iniciativas a assumirem-se como experiências de novos tipos de intervenção na componente florestal, disse à agência Lusa o presidente da entidade, Rui Gonçalves, que assumiu o cargo há um ano.
“Há algumas coisas totalmente novas”, admitiu, assumindo que a Florestgal, sediada em Figueiró dos Vinhos, quer assumir-se como uma espécie de laboratório vivo de novas experiências no domínio florestal, criando parcerias com universidades.
Um dos projetos aprovados, no valor de um milhão de euros, em Figueira de Castelo Rodrigo, passa por lutar contra a desertificação numa área de 270 hectares “completamente degradada e que deveria ter tido no passado eucaliptos”.
“Vamos fazer um projeto de sobreplantação. Ou seja, vamos plantar muito mais do que seria normal para um projeto de exploração florestal e ver se, ao ter uma densidade muito superior, se conseguimos ajudar a recuperar os solos e dar mais vida à área. Vamos também ajudar a recuperar as linhas de água, num projeto de alteração da natureza do território”, avançou Rui Gonçalves, esperando que o projeto possa ser “um exemplo de luta contra a desertificação”.
O projeto vai ser executado em parceria com a ForestWise – Laboratório Colaborativo para Gestão Integrada da Floresta e do Fogo e a APATA, uma associação de produtores florestais.
Já em Castelo Branco, numa parceria com a Águas de Portugal, a Florestgal vai avaliar o uso das lamas das estações de tratamento de águas residuais como fertilizante numa ação de rearborização com espécies autóctones.
“Vamos fazer uma área de floresta em que vamos usar lamas tratadas para fertilizar os solos e uma área sem lamas e comparar os resultados. Por um lado, queremos ver se as lamas têm capacidade de fertilizante para fazer uma diferença, por outro lado, perceber se têm efeitos indesejáveis que possam prejudicar os solos e ver se é possível que sejam minimizados ou eliminados”, realçou Rui Gonçalves.
Segundo o presidente da Florestgal, a empresa está já também a preparar-se para o próximo quadro comunitário e referiu que haverá outras “experiências”, mas escusou-se a falar delas.
Para além destes projetos, a Florestgal assumiu também recentemente a gestão de três áreas integradas de gestão de paisagem (AIGP) na zona onde está sediada, o Pinhal Interior.
A empresa vai gerir as AIGP de Figueiró dos Vinhos, Pedrógão Grande e Pampilhosa da Serra, num total de sete mil hectares.
“A Florestgal não é proprietária de nenhuma propriedade aqui e achámos que esta seria uma maneira simpática e elegante de podermos intervir neste território”, referiu, acreditando que a dimensão dos três projetos já poderá “fazer uma diferença”.
Questionado pela Lusa sobre a estrutura da empresa que agora lidera, Rui Gonçalves contou que, quando chegou à Florestgal, aquela entidade “tinha dois trabalhadores no quadro [um engenheiro florestal e uma secretária] e vários consultores e prestadores de serviços”.
Entretanto, já entraram para o quadro da empresa um engenheiro civil, uma arquiteta paisagista e um técnico administrativo, esperando chegar ao final do ano com seis trabalhadores.
O objetivo é atingir 12 trabalhadores no mapa de pessoal até 2024/25.
“Não podemos ter custos fixos muito elevados porque precisamos de uma certa flexibilidade”, disse, apontando para a variação das contas da empresa, dependente da venda de madeira e cortiça.
A Florestgal foi criada a partir de uma empresa já existente, a Lazer e Floresta, ‘herdando” os seus ativos, que neste momento são cerca de 13 mil hectares distribuídos por 86 propriedades em 26 concelhos de Portugal Continental.