O Museu do Santuário de Fátima reabriu hoje reformulado para receber mais visitantes e reforçar o destaque da Coroa Preciosa de Nossa Senhora de Fátima, peça considerada pelo diretor do museu “uma alegoria de toda a exposição”.
Após um período de encerramento, o Museu do Santuário de Fátima voltou a abrir portas com discurso expositivo renovado para ir ao encontro de dois objetivos principais, explicou hoje, numa visita guiada, Marco Daniel Duarte.
Por um lado, reconfiguraram-se os espaços da exposição permanente “Fátima Luz e Paz” de forma a “acolher mais grupos, com um maior número de peregrinos”, que antes estavam limitados pela exiguidade de algumas zonas. Por outro, procurou-se aumentar o protagonismo dado à Coroa Preciosa de Nossa Senhora de Fátima.
“Esta peça é uma alegoria de toda a exposição que estamos a visitar. É a ‘joia da coroa’”, assumiu o diretor.
“É obviamente a peça que mais atrai visitantes. É ela que atrai 70% das pessoas que querem vir visitar o Museu do Santuário de Fátima”, que antes da pandemia, em 2019, contabilizou 75.654 entradas.
A coroa é, simultaneamente, “constituída por joias muito valiosas, mas também tem aquela bala que o papa [João Paulo II, vítima de atentado em 1982] ofereceu à Virgem de Fátima e que foi encastoada em 1989 no coração daquela coroa”.
“Podemos dizer que simboliza as dádivas dos peregrinos de Fátima: umas são mais valiosas, feitas de prata, ouro, diamantes, turquesas, ametistas, e outras que não têm valia material, como uma bala de latão. Ali temos a síntese do que é o Museu do Santuário de Fátima”, sublinhou Marco Daniel Duarte.
A museologia hoje apresentada permite agora observar de todos os lados a coroa que continua a ter “o uso principal nos dias 13, de maio a outubro, e também nas solenidades da Assunção e da Imaculada Conceição”, ao coroar a imagem de Nossa Senhora.
É na penumbra, em 1917, que começa a exposição “Fátima Luz e Paz”, terminando reluzente, com as rosas de ouro oferecidas pelos últimos papas que visitaram Fátima, Bento XVI e Francisco. “É um percurso imersivo que coloca o visitante neste caminho entre as trevas e a luz, entre a guerra e a paz”.
Alguns núcleos foram contextualizados a partir de documentação fotográfica e histórica e apresenta-se um conjunto de peças novas, como “uma custódia muito solene” proveniente da Polónia ou o báculo do cardeal António Marto, oferecido ao Santuário no final do pontificado como bispo de Leiria-Fátima.
Está também patente a peça mais antiga do espólio, um cálice maneirista de 1610. “Sabemos que está ligada a uma abadia, mas não conseguimos ainda identificar todo esse percurso entre essa abadia e quem ofereceu ao Santuário de Fátima”.
Em diversas salas são apresentadas muitas peças de ouro oferecidas ao longo das últimas décadas ao Santuário, mas o diretor do museu diz ser “muito difícil” calcular a quantidade de ouro exposto: “Gostamos mais de olhar para a valia imaterial do que para a valia material. Algumas peças são muito difíceis de calcular [a quantidade de ouro] porque vêm agregadas umas às outras e é mesmo muito difícil fazer esse cálculo”.
Marco Daniel Duarte admite que há “um mito de Fátima” relacionado com o ouro, por causa dos “pequenos tesouros que os peregrinos guardam e que, em alturas de grandes aflições ou de ações de graças, oferecem à entidade que se relacionam de forma umbilical, como é a Virgem Maria”.
“O que é diferente neste museu é que as peças de ouro têm o mesmo valor que têm as outras peças que não têm valia material e essa é a grande responsabilidade do Santuário: dignificar todos esses objetos. Guardamos tanto as peças de ouro oferecidas a Nossa Senhora como uma peça de cera, uma peça de plástico ou uma peça de madeira”, garantiu o diretor.
“Nada do que está aqui foi adquirido pelo Santuário. As pessoas oferecem como sinal da sua afetividade com a Virgem de Fátima aquilo que entendem ser materializador desses afetos. Por isso costumo dizer que esta é uma exposição de afetos”, concluiu Marco Daniel Duarte.