As notícias devem dizer-nos o que está a acontecer e porquê, permitindo-nos assim formar opiniões e agir, em sociedade. Se a informação que temos é falsa, as nossas opiniões serão frágeis, e quando muitas opiniões se baseiam em falsidades, em preconceitos, ou erros, a nossa vida comum – a nossa saúde, a democracia, a economia – estão em risco.
Numa era digital, em que mais e mais pessoas se informam a cada segundo nas redes sociais ou online, é fundamental sabermos distinguir uma notícia de um boato, e também termos a capacidade de avaliar criticamente a informação que recebemos. E isso deve preocupar-nos. Porque, na verdade, é o nosso nome que está em causa quando repetimos uma mentira. É a cada um de nós que cabe, antes de partilharmos qualquer coisa nas redes sociais ou de difundirmos qualquer informação a quem nos está mais próximo, fazer as perguntas certas. Uma no início, quando nos deparamos com uma história bombástica nas redes. E outra no fim, depois de termos reparado com atenção em alguns detalhes, simples.
1. Isto é verdadeiro ou é falso?
A falsidade deixa rasto. Nos próximos passos mostramos como a desinformação pode ser detetada com alguma atenção. Mas esta é a primeira pergunta que temos de fazer perante qualquer notícia que lemos ou ouvimos. Será verdade? Estes são alguns exemplos que podemos ver online, em Portugal: Extraterrestres na Lua? Óvnis verdadeiros? a Terra é plana? Estas são algumas das mentiras que podemos encontrar nas páginas de ‘fake news’ sobre “ciência” em Portugal. Outras são ainda piores, como a campanha internacional organizada que afirma, falsamente, que as vacinas causam doenças graves nos recém-nascidos. Com base nesta mentira, muito difundida, o sarampo alastrou na Inglaterra, graças à decisão de muitos pais de deixarem de vacinar os filhos.
2. Nunca ouvi falar deste site ou da pessoa que publica esta história
Se lemos uma história destes num perfil de uma rede social e se esse divulgador da história não for ninguém que conhecemos, se a fotografia que usa parece ser falsa, ou se o nome do site que é partilhado não for de nenhum órgão de informação, desconfie. ‘Bots’ e ‘trolls’ são os nomes atribuídos aos perfis falsos, e manipuladores, nas redes sociais.
3. Nenhum jornal deu esta notícia assim
A história pode parecer plausível, pode até ser sobre um assunto real. Mas nos detalhes pode estar a desinformação. Se o título disser qualquer coisa a mais do que as notícias que leu, compare as versões e não acredite logo, antes de confirmar num meio de comunicação social. Um exemplo: muitas vezes aparecem frases atribuídas a figuras públicas, como se elas as tivessem proferido, e são apenas “invenções” de alguém que quer credibilizar os seus pontos de vista com a ajuda de uma mentira.
4. O endereço (URL) e o formato da notícia são estranhos
Esta é, muitas vezes, a evidência de que uma história não é de confiar. Os sites de informação, registados em Portugal, têm um endereço que termina em .pt Se o site que divulga uma história sobre Portugal se chama notícias.br, é porque está registado no Brasil. Muitos sites que produzem desinformação em português estão registados fora do país.
5. Há tantos erros na escrita, parece tradução automática
Muitas vezes, a desinformação usa métodos de disseminação automatizados. A tradução de textos, feita por aplicações online, é fácil de detetar. Geralmente, essa tradução é feita automaticamente para português do Brasil. Se o texto que leu tem muitos erros, ou está escrito de forma estranha, desconfie.
6. Não há citações de nenhuma pessoa
Entre as várias regras do jornalismo está a do direito de resposta pelos visados nas notícias. Se alguém é acusado de alguma coisa numa história, os meios de comunicação social têm a obrigação de ouvir a sua versão dos factos, e acrescentar no contexto da notícia, mesmo que isso lance dúvidas sobre aspetos fundamentais da informação. Nas fake news, as acusações surgem descontextualizadas e sem qualquer fonte noticiosa.
7. A notícia está anunciada de forma estranha: “clica aqui e vais ver uma coisa extraordinária“
Este mecanismo, conhecido como clickbait, anuncia, à partida, que não estamos perante uma notícia, mas uma tentativa de levar as pessoas a entrar num site (e que lhe vão proporcionar rendimentos publicitários).
8. As imagens parecem fabricadas
A manipulação de imagens é um dos mecanismos mais frequentes de desinformação online. Pode ser difícil de detetar, mas há vários mecanismos disponíveis online para nos assegurarmos se uma foto é verdadeira ou falsa. Basta pesquisar em “imagens”, no motor de busca. Para outros mecanismos ainda mais complexos de manipulação de vídeos, por exemplo (chamados de deep-fake), o melhor é duvidar,
mesmo que veja, e ouça, alguém dizer alguma coisa estranha. Nesse caso, o melhor é voltar aos pontos 3 e 4 e duvidar, antes de acreditar.
9. Vou ou não partilhar esta história?
Esta é a última pergunta que devemos sempre fazer, e porventura a mais importante. Porque a desinformação é um processo – tem os seus criadores, muitas vezes anónimos, os seus propagadores, que muitas vezes são máquinas, mas depende, em última análise, de pessoas concretas, como nós, para ser dominante e eficaz. Se aprendermos a ler a informação a que somos diariamente expostos – e que procuramos, também -, seremos mais capazes de a filtrar e escolher.
Para percebermos se uma história é parcial, ao contrário da imparcialidade que devíamos exigir aos meios de comunicação na sua função de informar, deveremos saber colocar-nos algumas questões no momento da leitura. Se os factos apresentados não são baseados em nenhuma prova (citações, documentos, imagens, links), então a notícia pode ser ou parecer um rumor, uma especulação. No fim, o debate público depende sempre da nossa capacidade de escolher a informação que partilhamos.
*Manual elaborado pela Associação Portuguesa de Imprensa/Paulo Pena para o projeto Academia Media Veritas