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Caldas da Rainha

Três ex-funcionárias de creche nas Caldas da Rainha julgadas por maus-tratos

Para o Ministério Público, as suspeitas expuseram os menores a “um ambiente de terror psicológico, violência e agressividade”.

Fachada do edifício do Tribunal de Leiria

Três ex-funcionárias de uma creche nas Caldas da Rainha vão ser julgadas no Tribunal Judicial de Leiria por crimes de maus-tratos, segundo um despacho de acusação que considera que crianças foram expostas a um “ambiente de terror psicológico”.

Uma educadora à data dos factos responde por 11 crimes de maus-tratos, enquanto uma auxiliar por três. Uma terceira antiga trabalhadora, na ocasião ajudante de ação educativa/administrativa, foi acusada de dois crimes de maus-tratos. A duas delas está imputado, ainda, em coautoria, um crime de maus-tratos.

O Ministério Público (MP) tinha acusado também a então coordenadora principal da unidade das Caldas da Rainha da associação que presta as valências de creche e pré-escolar, assim como esta entidade, ambas por 16 crimes de maus-tratos.

Estas duas arguidas requereram a abertura de instrução, tendo o juiz proferido despacho de não pronúncia, ordenando, nesta parte, o arquivamento dos autos, de acordo com o documento consultado pela agência Lusa.

No despacho de acusação, datado de julho e também consultado pela Lusa, o MP, que não conseguiu identificar todas as crianças alegadamente vítimas de maus-tratos, descreveu factos compreendidos entre 2016 e 2020.

Numa das situações, num “plano previamente delineado”, enquanto um bebé autista com menos de 1 ano chorava, uma arguida “segurava-o vigorosamente, ao mesmo tempo” que outra “inseria na sua boca, com força, de forma repetida e sucessiva, comida sem o deixar respirar e engolir”.

No que se refere à ajudante de ação educativa/administrativa, o MP relatou, entre outras situações, que, quando uma criança do pré-escolar se recusou a comer, aquela “pegou na taça de aço inoxidável com sopa que estava em cima da mesa e atirou-a em direção” à menor, atingindo-a na cara.

Já no caso da auxiliar, por exemplo, sustentou que esta, na sala do berçário, “enquanto batia com força, com uma colher de pau, na mesa”, dizia a uma criança “tu és mau, a culpa é tua”.

Quanto à educadora, o MP referiu que “agarrou pelos cabelos” uma criança, a outra deu uma “chapada de mão aberta na face” e a uma terceira “desferiu-lhe, com força, duas bofetadas na boca”.

Noutra ocasião, a mesma arguida agarrou num braço de uma menina com seis, sete meses, “elevou-a do chão e deslocou-a, suspensa no ar, agarrada apenas por aquele membro, desde o tapete dos brinquedos até à sala do berçário”, onde a projetou pelo braço para o interior do seu berço.

Entre outros factos atribuídos a esta educadora está a colocação de um menor com cerca de 1 ano, “de forma brusca e contra a sua vontade, sentado, com as pernas cruzadas, de frente para uma parede, enquanto todas as outras crianças brincavam”.

O despacho referiu-se, igualmente, a um bebé de poucos meses que “chorava sofregamente” por ter fome. Após ter parado de chorar, a arguida “retirou-lhe bruscamente a chupeta e começou a inserir na sua boca, com força, de forma repetida e sucessivamente, sem o deixar respirar e engolir, colheres com sopa”. Enquanto a arguida o fazia, o menor “chorava compulsivamente, ao mesmo tempo que se babava e expelia a sopa pela boca”.

O MP considerou que as arguidas agiram “sempre com o propósito de molestar física, verbal e psicologicamente as crianças que estavam, ao seu cuidado, com idades compreendidas entre os 3 meses e os 4 anos de idade, completamente indefesas e incapazes de se defender e queixarem, sabendo que a sua atuação lhes causaria, necessariamente, perturbações que se traduziriam em alterações comportamentais graves, capazes de pôr em causa o seu desenvolvimento físico e psíquico harmonioso”.

Para o MP, as suspeitas expuseram os menores a “um ambiente de terror psicológico, violência e agressividade”.

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