Um ex-transformista de meia idade decide regressar ao ativo para fazer as pazes com o seu passado. Mas há várias outras camadas por explorar em “Rui”, série de seis episódios que está disponível na RTP Play, com Tobias Monteiro no principal papel.
Entre o segurança “Rui” e “Glória”, personagem que renasce no palco do bar Afrodite 20 anos depois, há um caminho inesperado e sinuoso a descobrir. “O que me fascinou neste argumento é que o foco é tudo menos óbvio: é a falta de capacidade que aquele homem tem de se relacionar com a filha”, explica Tobias Monteiro, sublinhando o facto do argumento fugir ao estereótipo, apresentando um homem que se veste de mulher para um número inspirado em “Gloria”, de Laura Branigan – e não ser gay.
“Há muitos filmes sobre esse assunto, um transformista, drag, como lhe quiserem chamar – no meu tempo era travesti -, mas são muito idênticos. Contrariar esse óbvio foi o que mais me interessou. É mais difícil, como é lógico, mas é mais desafiante”, contou o ator ao REGIÃO DE LEIRIA.
Para interpretar “Glória”, Tobias Monteiro enfrentou várias sessões de duas a três horas na maquilhagem. “E depois muitas horas a filmar naqueles preparos, com saltos altos, collants, enchumaços”, recorda, sobre as gravações que decorreram em 2020, em plena pandemia. “A rodagem era para ser um mês e meio e durou o ano todo, com intervalos, porque ou fechava tudo, ou alguém apanhava covid e íamos todos para casa…”.
Para este projeto, o ator recorreu ao capital de conhecimento acumulado em experiências anteriores envolvendo o transformismo, como a peça “Vampiras lésbicas de Sodorma” – nomeada para os Globos de Ouro – ou a comédia “As malditas”, que esteve em cena no Tivoli. “Esse universo conheci-o nessa altura. Para ‘Rui’ tive de fazer outro tipo de investigação, que me deu mais gozo, sobre como fazer um homem que não está fit, que está gordo e velho, e tenta voltar a vestir aquelas roupas”.
A imersão na dimensão psicológica, marcada pela “angústia e a depressão em que ele se encontra”, foi para Tobias Monteiro “o trabalho mais difícil”.
A série, que assinala a estreia da produtora Recodd, proporcionou ao ator o principal papel. “É um privilégio e uma oportunidade única poderes ter tempo para te dedicares e dares oportunidade ao espectador para ter tempo de te ver”, afirma, porque pequenas participações em novelas “não dão tempo para se ver a consistência do trabalho do ator”.
“Quando se tem um protagonista, há uma data de cenas e situações e há um arco narrativo, dramatúrgico – é o mais desafiante para um ator”, diz Tobias. E isso nota-se em “Rui”, também fruto da “jovialidade do argumentista e do realizador, que se percebe que vão dar muitas cartas no futuro”.
Estreada em novembro, a série “Rui” é fruto do projeto RTP Lab, que tem revelado “novos técnicos, novos realizadores, novos argumentistas”, e está disponível na RTP Play – “uma Netflix portuguesa gratuita e que tem uma data de conteúdos atuais e antigos disponíveis, da qual as pessoas ainda não se aperceberam muito bem”.
“Marco Paulo”, Leiria Film Fest e outros projetos
Além de “Rui”, Tobias Monteiro tem estado envolvido noutros projetos. Acaba de participar em “Senhora ministra”, comédia do Teatro Experimental de Cascais, e terá uma participação na série “Marco Paulo”, sobre a vida do cantor, que a SIC estreia a partir de 1 de janeiro, com realização de Manuel Pureza, de “Pôr do Sol”.
Há vários outros projetos para 2023 que ainda não podem ser anunciados, mas também na televisão podemos ouvir a voz de Tobias Monteiro em “duARTe: Uma peça de arte”, série de animação que a RTP exibe e em que se explicam aos mais novos obras de artistas internacionais e portugueses, de Rembrant a Bordalo Pinheiro. “Acabámos a primeira temporada há pouco e já encomendaram mais duas”, diz Tobias, que assume a função de narrador.
Por cá, o ator da Batalha integra a equipa que organiza o Leiria Film Fest, que em 2023 celebra a 10ª edição com uma programação que será especial, antecipa Tobias Monteiro.