E se todos fôssemos um telemóvel? Ver e respirar seriam funções instaladas de fábrica e os livros e jornais que lemos aplicações que ganhariam forma em cada aparelho móvel. O sistema operativo? A Constituição da República Portuguesa.
Foi recorrendo a este objeto tão presente na vida dos jovens que o REGIÃO DE LEIRIA captou a atenção dos alunos do 12º ano da Escola Secundária de Pombal, no dia 7. Durante cerca de uma hora, ouviram falar sobre jornais, jornalistas, jornalismo e fake news (notícias falsas em português). Refletiram ainda sobre o poder da tecnologia e como pode ser prejudicial no futuro, caso não estejam atentos – os alunos, porque o orador, como referiu na ocasião, já é “do milénio passado”.
A apresentação promovida pelo nosso jornal decorre de um protocolo estabelecido entre o Município de Pombal e a Associação Portuguesa de Imprensa, que pretende combater a desinformação. No âmbito deste protocolo, assinado em julho, a Câmara de Pombal disponibiliza a edição semanal, digital, do REGIÃO DE LEIRIA a todos os alunos do ensino secundário do concelho. A par disso, o jornal assume a realização de encontros com os alunos, em que fala sobre jornalismo e as suas problemáticas.
No final da apresentação da passada semana, não houve questões a colocar, mas à margem da exposição, os estudantes confessaram o interesse nos temas abordados: “Esta palestra ajudou-nos a perceber melhor como é o mundo em que agora vivemos, que é mais tecnológico e como, muitas vezes, nos deixamos levar pelo que é mais fácil de entender”, disse Guilherme Simões, 17 anos.
Luísa Martins, 18 anos, acrescentou que “se devia falar cada vez mais destes temas, apesar de já serem falados, mas abordá-los mais ainda para que não aconteçam gafes nas redes sociais e no mundo que é a internet”.
Também aluna da Escola Secundária de Pombal, Laura Martins, 17 anos, considera que “já aconteceu a toda a gente” cruzar-se com uma notícia falsa e achar ser verdadeira. Especialmente durante a pandemia, no confinamento, que impediu os jovens de conviverem presencialmente e toda a informação chegava através da tecnologia e da internet.
Mas esta escola não é caso único desta aproximação dos alunos ao trabalho do jornal. No Agrupamento de Escolas da Guia (Pombal) – que integra o protocolo -, os professores decidiram envolver ainda mais os alunos do 10º ano na leitura do jornal. Para isso, na disciplina de Português, cada professor dedica uma vez por mês uma aula de 50 minutos à abordagem de uma notícia. Na disciplina de Filosofia são os estudantes que têm de apresentar um artigo do REGIÃO DE LEIRIA à turma, uma vez por semana. Esta atividade serve para incentivar os hábitos de leitura de jornais, que são praticamente inexistentes, segundo os professores da escola envolvidos no projeto.
Para Ricardo Rodrigues, docente de Educação Física, a ida do jornal à escola é muito importante para os alunos “ganharem autonomia na busca de informação”, para serem capazes de “distinguir uma notícia falsa de uma verdadeira e principalmente para conhecerem os diversos órgãos de comunicação que existem”.
Sempre que há um tema na agenda do dia relacionado com desporto ou outro assunto, o professor diz que tenta abordá-lo na aula, incentivando à discussão e ao pensamento crítico.
Mais escolas interessadas
O projeto educativo criado pelo REGIÃO DE LEIRIA tem também despertado o interesse de outras escolas, como é o caso do Instituto Educativo do Juncal (IEJ), em Porto de Mós, que já recebeu inclusive algumas sessões sobre jornalismo. O que é uma notícia? Princípios do jornalismo e formas de detetar notícias falsas foram alguns dos tópicos abordados pelo REGIÃO DE LEIRIA aos alunos do 8º ano.
Durante as sessões de cerca de uma hora, os estudantes puderam também vestir a pele de jornalista e criar uma notícia através da aplicação do REGIÃO DE LEIRIA “Repórter no Mundo”. O exercício deixou os jovens muito entusiasmados, levando-os a dar asas à imaginação e a redigir pequenas notícias sobre atividades que aconteceram na escola, ou outros temas como o Mundial de Futebol.
Para a professora de Cidadania, Paula Cordeiro, a atividade veio dar ainda mais alento aos estudantes, que têm estado a criar um jornal digital com artigos feitos em várias disciplinas e com a ajuda do professor de TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação), Nuno Agostinho, no âmbito do Domínio de Autonomia Curricular. O jornal vai ser publicado no sítio na Internet e nas redes sociais da escola, assim que estiver concluído.
“Desta forma, a abordagem é diferente e permite chegar mais longe. Eles gostam”, afirma o docente, ressalvando, no entanto, que a geração atual “é muito digital” e que devia ser habituada a ler também em papel. Opinião partilhada por Paula Cordeiro, que lamenta que “os hábitos de leitura tenham sido hoje substituídos pela Internet”.
As notícias falsas são um dos próximos temas a serem abordado nas aulas de TIC, indica Nuno Agostinho, explicando que é fundamental que os alunos consigam identificar domínios falsos e habituarem-se igualmente a pesquisar em páginas de Internet mais fidedignas, que não a Wikipédia. O docente reconhece que os alunos não leem jornais e passam boa parte do tempo no TikTok e no Instagram, mas para seguir celebridades e procurar outro tipo de conteúdo que não notícias. “Apenas têm contacto com notícias através da partilha pela escola”, lamenta.