É uma mancha, um hiato, uma quase insignificância no mapa da cultura popular que A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria (MPAGDP) está a construir desde 2011. O distrito de Leiria significa menos de 2% dos 6522 vídeos de práticas musicais, paisagens sonoras e manifestações populares que estão recolhidos, tratados e divulgados por MPAGDP – e se olharmos para o concelho de Ourém o número é mesmo zero.
Em quase 12 anos, foram filmados 114 vídeos e 68 projetos no distrito de Leiria, números que contrastam com a maioria dos restantes distritos e o todo nacional: 6.522 vídeos e 3.692 projetos.
“Não sei explicar porquê. Nunca fomos para Leiria a não ser em circunstâncias pontuais, quando fizemos um protocolo com o Rancho do Arrimal, em Porto de Mós, ou ainda quando filmei uns gaiteiros de Coimbra, ‘Os Canários’, que são de Pombal. Em Leiria mesmo foi só o [António] Cova, A Caruma e os Catraia“, explica o fundador e diretor artístico do projeto, Tiago Pereira.
Por isso, em 2023, um dos objetivos de MPAGDP é superar “o hiato que há até ao Ribatejo”, filmando mais no centro, “uma região que tem muita gente para gravar, ainda que por pouco tempo”, concretamente no distrito de Leiria e concelho de Ourém.
Tiago Pereira lançou ontem um repto público dirigido a instituições, associações, autarquias, “e a quem possa ajudar”, de um conjunto de municípios onde o projeto “nunca gravou ou gravou muito pouco”, casos de Ourém, Alvaiázere, Ansião, Batalha, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Leiria, Marinha Grande, Pedrógão Grande, Pombal e Porto de Mós. Os interessados podem contactar o projeto através do e-mail amusicaportuguesa@gmail.com.
Com sede em Serpins, na serra da Lousã, a MPAGDP está entretanto a preparar a inauguração do CURA – Centro Interpretativo da Música Portuguesa numa festa que reunirá centenas de músicos durante três dias, entre 24 e 26 de março.
PROJECTO 2783 – “Cantigas que ele não quer cantar”, Noémia Guilherme e Manuel Carvalho. Gravado em Marinha da Mendiga, Porto de Mós, Leiria, a 20 de Junho de 2020