Logo após os incêndios de 2017, Pedro Pedrosa multiplicou-se em entrevistas. Ferraria de São João fora exemplar na reação à catástrofe e, por causa disso, a aldeia de xisto ganhou protagonismo como nunca. Na povoação atravessada pela fronteira entre os concelhos de Figueiró dos Vinhos e de Penela, os moradores perceberam a importância do sobreiral, vital para travar ali o fogo que varreu o Pinhal Interior Norte.
Aprenderam a lição: mobilizaram-se para evitar a repetição da tragédia e, em cerca de 200 terrenos de mais de 70 proprietários (descobertos em França, Holanda, Suíça e outros países, entre herdeiros de herdeiros) nasceu a pioneira Zona de Proteção da Aldeia (ZPA), livre de eucaliptos e com um sonho: repensar a paisagem e o uso daqueles terrenos.
A dar cara, o conhecimento (estudou Ordenamento do Território e Planeamento Ambiental) e muitas horas de trabalho, esteve Pedro Pedrosa, que desde 2010 vive com Sofia Sampaio na Ferraria de São João. Muitos leirienses têm ali casa, mas eles são os únicos que residem na aldeia, hoje com cerca de 40 habitantes.
Cinco anos, muitos milhares de eucaliptos arrancados e aquelas entrevistas todas depois, o que sobra? As notícias não são as melhores. “Este projeto reflete todos os bons e maus aspetos da nossa sociedade”, resume Pedro Pedrosa numa manhã fria e chuvosa nesta aldeia da Serra da Lousã. A meteorologia é boa metáfora para o sentimento atual do antigo presidente da Associação de Moradores da Ferraria de São João. Maria Rodrigues, também a viver na aldeia desde 2010, é hoje a presidente.
Ferraria de São João: Da tragédia do fogo a exemplo nacional, a história amarga de um “não-sucesso”
Cinco anos depois do grande incêndio de 2017, a desmotivação toma conta de quem lançou um projeto pioneiro para proteger a aldeia que interceta a fronteira dos concelhos de Figueiró dos Vinhos e Penela.