Lisboa, Porto, Braga, Santarém e Leiria. Estes são os cinco distritos que apresentam um maior número de casos, por ordem decrescente, de abusos sexuais a menores na Igreja.
Os dados foram avançados esta manhã, na conferência de imprensa de apresentação do relatório final da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica.
O coordenador da comissão, Pedro Strecht afirmou que “os números se explicam pela mancha demográfica aí existente ou pela existência, em certas épocas, de verdadeiras zonas negras”.
Na apresentação, que decorre na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, o responsável adiantou que foram obtidos “512 testemunhos validados de vítimas de abuso sexual enquanto crianças e por membros da Igreja Católica”, num total de 564 testemunhos obtidos.
“Não é possível quantificar o número total de crimes praticados porque a maior parte das crianças foi abusada mais do que uma vez”, disse, acrescentando que o número mínimo de vítimas se deverá situar nas 4.815 – valor apurado tendo em conta testemunhos que revelavam outras vítimas.
A comissão definiu como idade comum do início dos abusos os 11,2 anos – “à data eram todos alunos do ensino básico” – e há registos de casos em todos os distritos de Portugal.
A maioria de vítimas são do sexo masculino, mas há um “número significativo” do sexo feminino, sendo a média de idade atual das vítimas os 52 anos (mais baixa do que outros estudos realizados na Europa).
Pedro Strecht informou que 96% dos abusadores são do sexo masculino e 77% tinham, na altura em que decorreram os crimes, a função de padre.
Do total de testemunhos recolhidos, 25 casos foram enviados ao Ministério Público. O coordenador da comissão explicou o número reduzido com a prescrição da maioria dos casos ou anonimato dos mesmos.
O relatório final estará disponível a partir das 15 horas desta segunda-feira, dia 13, na página de internet https://darvozaosilencio.org/.
Sob a liderança do pedopsiquiatra Pedro Strecht, que se havia destacado como médico dos menores abusados no processo Casa Pia há 20 anos, a comissão integra também o psiquiatra Daniel Sampaio, o antigo ministro da Justiça, natural da Nazaré, Álvaro Laborinho Lúcio, a socióloga e investigadora Ana Nunes de Almeida, a assistente social e terapeuta familiar Filipa Tavares e a cineasta Catarina Vasconcelos, dispondo ainda de acesso aos arquivos da Igreja.