A agência Portuguesa do Ambiente (APA) garantiu hoje que a intervenção a realizar no Bico da Memória, na Nazaré, foi aprovada pela Direção-Geral do Património Cultural e respeita o enquadramento patrimonial e paisagístico do local.
Em causa está a obra de estabilização das arribas da Nazaré, um investimento de quase 1,7 milhões de euros (ME), que prevê intervenções na zona do Bico da Memória, um local emblemático ligado à lenda do Milagre da Nazaré.
Numa petição lançada na quinta-feira, o Movimento Cívico Pela Defesa do Promontório contestou que o projeto não tenha sido apresentado à população e manifestou preocupação de que a obra possa pôr em risco aquele património “material e imaterial de imenso valor para os nazarenos”.
Questionada pela agência Lusa, a APA esclareceu hoje que o projeto foi submetido a parecer da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) e aprovado por esta entidade, após a inclusão de “algumas exigências e recomendações”.
Entre as críticas apontadas, o movimento de defesa do promontório destacava a alegada destruição de um muro secular e a construção de uma plataforma metálica no Bico da Memória.
No esclarecimento escrito enviado à Lusa, a APA garante que “a elaboração do projeto considerou o enquadramento patrimonial na zona de proteção da Ermida da Memória, classificada como imóvel de interesse público, bem com o enquadramento paisagístico específico do Sítio da Nazaré”, onde se pretendem realizar ações “de tipo preventivo” para minimizar o risco de instabilidade de arriba e de queda de blocos de grandes dimensões que podem atingir a praia.
Na zona do Bico da Memória “prevê-se uma plataforma com a mesma localização e com a mesma configuração da consola natural, mas elevada e ancorada ao terreno mais interior, que permitirá o acesso àquele emblemático local, e que apresenta muro, quer por motivo de conforto, quer de segurança”, informou a APA, acrescentando que o muro, em metal e assente na plataforma, “conservará a volumetria e o desenho do muro existente”.
A plataforma suspensa será construída “para aliviar o peso resultante das pessoas sobre a atual consola rochosa, que é instável”, e a sua estabilidade será garantida através da ligação a um maciço em betão, sendo que a estrutura “não exercerá peso sobre a arriba, nem sobre a consola rochosa existente”.
Segundo a APA, terá a mesma configuração que a arriba atual, “como se de uma projeção desta se tratasse”.
No seu ponto mais elevado, o projeto prevê “um subtil corte na frente de guarda que denuncia e facilita a visualização do local exato onde se encontra cravada na rocha a “Pata do Cavalo”, da lenda da Nazaré”.
Na restante área a intervir, prevê-se recuar o muro existente, “garantindo que o acesso das pessoas à arriba será recuado, por questões de segurança, face à proximidade e instabilidade das arribas”, explicou a APA, clarificando que “o novo limite será constituído por uma grade metálica, em prumos verticais de cor branca, e circular na extremidade superior, simulando a aparência de um muro tradicional”.
Por não possuir travejamento horizontal, terá “total permeabilidade visual e plenitude de visitas do horizonte, garantindo um total usufruto da paisagem, de elevada qualidade visual, ao mesmo tempo que garante a segurança dos observadores”, acrescentou.
A APA afirmou ainda que “está e sempre esteve disponível para esclarecer a população sobre a intervenção que vai ser feita”, garantindo que a obra está sustentada em estudos geológicos e, na zona do Sítio, será acompanhada por um arqueólogo, “tal como exigido pela DGPC”.
A estabilização das arribas da Nazaré representa um investimento de 1.697.400,00 euros para resolver os problemas de instabilidade e desmoronamento de pedras.
A obra, que inclui também a zona envolvente da plataforma superior do ascensor, foi consignada em janeiro e terá uma duração de oito meses.