“Fui muito bem rececionado por funcionários prestativos, simpáticos e bem educados”. “As 5 estrelas são, sem dúvida alguma para a Sra. que estava na receção”. “Excelente profissional, deveras simpática e atenciosa”. “Encontrei a funcionária mais simpática da minha vida, em 48 anos nunca fui tão bem recebida em um lugar”. Os elogios publicados online multiplicam-se, sobre o esmero com que o Museu de Leiria recebe os visitantes. E boa parte da responsabilidade pode ser assacada a duas funcionárias especiais, Graça Rosinha e Délia Valério: ambas têm já idade para pedir a aposentação. Mas preferem continuar a trabalhar e revelam-se fundamentais ao funcionamento tanto do museu como do Centro de Diálogo Intercultural de Leiria – Igreja da Misericórdia.
Muitos conhecerão Délia do Parque de Campismo do Pedrógão, onde trabalhou 37 anos. “Desde 15 de junho de 1979, o dia da inauguração”, diz com orgulho e brilho nos olhos. “Guardo muitas recordações boas, que superam todos os momentos maus”, conta Délia, que saiu quando o município decidiu concessionar a privados a gestão do parque.
“Em 2015 vim para outro ‘menino’, também começar do princípio”. O “menino” é o Museu de Leiria, onde também chegou Graça, depois de, ao serviço do município, ter estado no Banco de Portugal e no Castelo. Antes trabalhara em hotelaria e restauração e nas piscinas municipais, contratada pela Leirisport. É quase sempre ela que encontramos na receção do Museu de Leiria. “Gosto imenso de estar aqui, gosto muito do trabalho, gosto muito dos colegas, gosto muito do atendimento às pessoas. Dá-me imenso prazer”, conta.
Aos 66 anos – “fiz agora 39 de serviço” – reconhece a importância de ser o rosto do Museu de Leiria. “Sinto essa responsabilidade”, mesmo que nunca tenha recebido críticas negativas. Pelo contrário: “Há pessoas que me ligam [pelo telefone, a pedir informações] e depois vêm, cá para me dar abraços”. O segredo “é a boa disposição”. “Sinto-me feliz das pessoas irem satisfeitas daqui”, diz, sempre sorridente.
Também Délia irradia simpatia e redobra-se em cuidados, tanto com visitantes como com artistas e convidados, porque ela também lida diretamente com a logística dos eventos. Mas “veem-se caras mas não se veem baratas”, confessa, recorrendo a um dito popular, para lembrar que, por vezes, “a gente ri para fora e chora para dentro”. O profissionalismo, contudo, fala mais alto: “Gosto imenso do que faço, gosto imenso do tratamento com o público, de interagir com o público. Sempre gostei”.
Délia Valério completa 69 anos no próximo mês. Quando chegar aos 70, a Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas impõe-lhe a reforma. “Às vezes dizem-me: ‘então ainda aí anda? Ainda não se reformou?’ Enquanto eu me sentir bem continuo a trabalhar!”, reage.
Mas já pensou nesse momento que se aproxima, em 2024. “Estou mentalizada. Vou descansar um tempinho, mas depois quero ocupar parte do tempo com voluntariado”. Até porque, na Praia do Pedrógão, “no inverno não se passa lá nada nem se vê ninguém”.
Graça, com 66 anos, quer trabalhar mais uns quantos, até para amealhar uma reforma um pouco mais composta. Mas, como se sente feliz no trabalho, “pelos colegas e pela chefia também”, a aposentação “é difícil de imaginar”.
“Ainda não tracei uma meta para a aposentação. Sei que não vou ficar para sempre, um dia tenho de me ir embora, mas enquanto me sentir bem… Quando sair, vou levar amigos. Acho que eles também podem dizer a mesma coisa”.
Délia e Graça adiam a aposentação para receberem com um sorriso os visitantes no Museu de Leiria
Duas funcionárias públicas especiais contribuem para o dinamismo da cultura de Leiria. Délia Valério e Graça Rosinha mantém-se em funções no museu da cidade – e com muitos elogios.